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Trama das seis só fez marola
Renata Petrocelli
Da TV Press
23/05/2005 | 08:11
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Como Uma Onda ainda não acabou, mas já permite uma conclusão: não vai deixar saudades. A novela mantém audiência em torno dos 30 pontos. O índice pode parecer bom, mas não é. Como Uma Onda perdeu cerca de 20% da audiência que herdou de Cabocla, que ficava em torno de 36 pontos. De uns tempos para cá, no entanto, o desenvolvimento de algumas tramas tornou a história um pouco mais dinâmica, mas as mudanças chegaram tarde demais. Um bom exemplo é a valorização da portuguesinha Almerinda, interpretada com doçura e simpatia pela também lusitana Joana Solnado. O triângulo amoroso formado entre ela e os pombinhos Nina e Daniel, vividos por Alinne Morais e Ricardo Pereira, não chegou a criar um dilema suficientemente forte na trama. Coisa que nem com todo o tempo do mundo o insosso J.J., personagem de Henri Castelli, conseguiu.

A atuação muito aquém do desejado de Henri, aliás, foi um dos grandes problemas da novela. Com os principais personagens entregues a atores jovens e inexperientes, o autor e o diretor Dennis Carvalho corriam realmente o risco de perder força no núcleo central. Mas Alinne e Ricardo, por exemplo, não fizeram feio, conseguindo conferir credibilidade a seus personagens. Já Henri não convenceu em nenhum momento como vilão, principalmente por sua inexpressividade. O resultado é que, nas últimas semanas, o perfil malévolo do personagem foi visivelmente atenuado. Não que ele não continue aprontando das suas. Mas acabou virando vítima do abandono de uma mãe desnaturada. O trauma funciona até para justificar eventuais acessos de piedade de outros personagens em relação a ele.

Enquanto o vilão perdia a força, a história da portuguesa abandonada no começo da novela (não só pelo galã português, mas também pelo autor) ganhou corpo e conferiu algum tempero ao vaivém dos protagonistas. A divisão do mocinho entre seu verdadeiro amor e a paixão do passado, que carregava um filho seu na barriga, gerou conflitos muito mais críveis e emocionantes que a prisão da heroína às chantagens do obcecado mau-caráter. A trama fica ainda mais interessante em função do perfil de Almerinda, que é um doce de criatura, não quer mal a ninguém e chega a temer os empecilhos que, involuntariamente, possa plantar no caminho do amado com a rival.

A personagem funciona também graças ao bom trabalho de Joana Solnado, que não caiu na pieguice e soube evitar que Almerinda parecesse apenas uma boazinha boboca, daquelas que existem aos montes nos folhetins. Com boa história e atuação à altura, é uma pena que o autor não tenha dado mais espaço à hesitação do português entre as duas mulheres, de personalidades tão distintas. Mas agora que a filha de Almerinda e Daniel já nasceu, ele tratou de assegurar mais alguns momentos de conflito com a doença da portuguesinha, que tem comovido meio mundo na trama.

Só agora também Lenita, vivida por Mel Lisboa, começa a poder mostrar a que veio em Como Uma Onda. A personagem passou toda a trama sem fazer muito mais que desfilar uma personalidade voluntariosa e mimada. Com a proximidade do fim da trama, ela finalmente passa a se preocupar com algo que realmente interessa, ao ver se confirmarem suas desconfianças de que Mariléia e Sinésio, vividos por Denise Del Vecchio e Hugo Carvana, não fossem seus verdadeiros pais. Pode até ser que o mistério em torno da inexplicável Ana Amélia, interpretada por Débora Olivieri, não pudesse vir à tona antes. Mas, novamente, o assunto mereceria mais espaço. E, certamente, teria contribuído para que a novela não passasse boa parte de sua duração no mais completo marasmo.




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