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Bola de Nieve terá biografia
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21/08/2010 | 07:07
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Gostava de beijar os homens no rosto, como faziam os argentinos e os franceses, mas não os cubanos. O poeta Nicolas Guillén o advertia: "Bola, você é o único homem que deixo me beijar, mas não passe daqui, ok?", dizia, apontando o canto da boca. Bola de Nieve era divertido, escrachado, intelectual, paquerador, debochado, contido. Herói de dois mundos, bon vivant dos salões e comunista de primeira hora na Cuba de Fidel (sua mãe era grande simpatizante do regime, e costumava juntar revolucionários em sua casa em Guanabacoa para "muita cachaça, feijoada, tambores e poesia"), o mais celebrado pianista e cantor da ilha viveu as honras e as contradições dessa condição.

"Uma vez perguntei a ele se gostava dos comunistas. Ele me sussurrou que sim, gostava, mas que eles eram muito sisudos e sem senso de humor." Recostado no balcão do clube de jazz Bourbon Street, em São Paulo, uma taça de Malbec na mão, um charuto apagado na outra, o divertido biógrafo e poeta cubano Félix Contreras, 70 anos, imita a desmunhecada e a risada característica de Bola de Nieve, de quem foi amigo.

Contreras biografou Bola de Nieve para a editora Cosac Naify, que deve lançá-lo no início do ano. Bola do Mundo, o volume que produziu, investiga a vida do artista desde a infância em Guanabacoa, gênio vindo de família modesta (teve três irmãos, dos quais ainda estão vivos Tomás e Raquel, a mais jovem, que cedeu farto material para a biografia inédita).

"O povo cubano, muito machista, muito antes ainda de 1959, falava: ‘Esse artista negro, e bicha, tem que ser muito bom pela fama que tem lá fora'", teatraliza Contreras. "Ainda na década de 1970, em Cuba, durante a absurda e triste etapa do stalinismo na direção da Cultura, ele sofreu marginalização. Mas fazia a mala e ficava no México, onde era, sem dúvida, um rei."




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