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De S.Caetano ao mundo: balé para inclusão e superação

Nascida na região, Fernanda Bianchini fundou
a única companhia de balé para cegos no mundo

Por Andressa Claudino
Especial para o Diário
16/04/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Em 1995, adolescente de 15 anos nascida em São Caetano, então voluntária no Instituto de Cegos Padre Chico, começou a ensinar passos de dança a meninas deficientes visuais que frequentavam a instituição. Ela tomou gosto pela iniciativa e criou metodologia – hoje conhecida internacionalmente – para ensinar balé a cegos. A personagem da história é Fernanda Coneglian Bianchini Saad, fundadora de associação que leva o nome dela e mantém a única companhia de balé para cegos do mundo.

Bailarina formada pela Fundação das Artes de São Caetano, Fernanda realiza o projeto voluntário há 21 anos. Começou com dez alunas e hoje atende estudantes de diversas idades e com diferentes deficiências – a maioria, visual. Estima-se que em pouco mais de duas décadas, a AFB (Associação Fernanda Bianchini Cia Ballet de Cegos) tenha formado mais de 500 deficientes. O intuito é trabalhar com a inclusão e mostrar ser possível superar os desafios. “Tenho orgulho de ter sido capacitada para projeto tão lindo. Meu sonho é deixar este trabalho como legado para que outras pessoas possam fazer parte”, afirma.

A metodologia criada por ela, patenteada e publicada na dissertação de mestrado, funciona por meio de toques e da percepção corporal. As bailarinas vão tocando o corpo dos professores de dança, sentindo o movimento e depois tentando reproduzir em seu próprio corpo. Os movimentos utilizando os braços foram ensinados com folhas de palmeiras e os saltos, com as dançarinas deitadas no chão, tentando entender a ação por outro ângulo.

Fernanda conta que a metodologia foi desenvolvida após muitos erros e acertos, pois não tinha receita que pudesse seguir, já que nunca ninguém havia feito isso antes. “Precisava entrar no mundo dos cegos, entender as limitações e dificuldades para que depois eu pudesse apresentar o meu mundo da dança clássica. Foi nesta troca que surgiu este método de balé para cegos.”

Além de balé clássico, a associação oferece aulas de dança de salão, expressão corporal, sapateado, dança do ventre, teatro, entre outras atividades. As aulas são gratuitas. Atualmente, a associação atende 330 alunos, sendo que 60% possuem deficiência visual e 30% têm deficiências intelectuais, auditivas ou motoras. Apenas 10% dos alunos não apresentam deficiência.

O trabalho desenvolvido pela escola de dança conquistou tanto sucesso que as bailarinas estiveram em programas de televisão. Outro ponto alto foi o encerramento das Paraolimpíadas de Londres, Inglaterra, em 2012. As meninas também se apresentaram em países como Estados Unidos, Argentina, Inglaterra, Alemanha e Polônia.

Foi por meio do Domingão do Faustão, em 2005, que Gisele Nahkur conheceu a escola. Ela estava com depressão, pois tinha acabado de perder a visão. A televisão do quarto estava ligada, quando ela escutou o apresentador Fausto Silva anunciar a Companhia de Ballet para Cegos. Aquilo prendeu a atenção dela. No dia seguinte, ela foi procurar a associação e hoje é uma bailarina completamente realizada.

Gisele conta que o balé contribuiu à postura, ao equilíbrio, à noção de espaço e à autoestima. Depois que entrou para o grupo de dança, a vida mudou. Em 2008, formou-se em Gestão de Pequenas e Médias Empresas pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e, além de bailarina, trabalha com vendas em banco privado.

Cidade capacita professores para formação de novos alunos

São Caetano, cidade onde nasceu a bailarina Fernanda Bianchini, fundadora da associação que leva o mesmo nome e mantém a única companhia de balé de cegos do mundo, iniciou neste mês curso de capacitação para aulas a deficientes visuais na Escola Municipal de Bailado Laura Thomé

Entre as cerca de 40 pessoas capacitadas não havia apenas professores, mas também bailarinos que se dispuseram a aprender a lidar com pessoas com deficiência. Com a iniciativa, o município se torna o primeiro do Estado – com exceção da Capital – a capacitar professores para este tipo de dança.

“A escola de balé para cegos em São Caetano é uma grande novidade. É como se fosse uma extensão da Associação Fernanda Bianchini, um projeto que tem tudo para crescer. Minha intenção é que o mundo inteiro conheça e se beneficie desta história, que já ajudou muita gente e que ainda pode ajudar muito mais”, afirmou, orgulhosa, Fernanda, que participou do evento.

Associação atende outras deficiências

A AFB (Associação Fernanda Bianchini Cia Ballet de Cegos), cuja metodologia de ensino do balé clássico é pioneira e reconhecida internacionalmente, tem como missão a integração social de deficientes por meio da dança. Ao todo são 13 professores, entre eles, duas deficientes visuais formadas na própria entidade.

Mas a AFB não atende apenas pessoas com deficiência. Pilates e fisioterapia integram a grade de atividades com a finalidade de promover saúde e bem-estar aos bailarinos. As aulas são extensivas a qualquer pessoa que queira ingressar nos grupos, mas são pagas – a arrecadação ajudar a manter a instituição, que desenvolve ainda metodologia para ensinar aulas de balé a cadeirantes.

A dona de casa Catarina Moreno, 50 anos, é mãe de bailarina Fernanda Moreno, 14. Ela conta como a instituição ajuda na recuperação da filha, que sofre com sério problema na coluna, chamado Síndrome de Marfan Neonatal. “Foram 19 cirurgias na coluna. O sonho dela sempre foi fazer balé, mas como tem pinos na coluna, as escolas de dança não a aceitavam. Até conhecer a Fernanda Bianchini. A partir daí, minha filha concretizou o sonho.”

A AFB é mantida com doações de pessoas físicas e jurídicas, além de apresentações motivacionais. Está localizada na Capital, na Rua Domingos de Morais, 1765, Vila Mariana.  




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