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Alta no preço do trigo gera perdas para moinhos locais
Adriana Mompean
Do Diário do Grande ABC
22/04/2005 | 13:52
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Os sucessivos reajustes no preço do trigo nos últimos dois meses induziram uma queda de 10% a 15% nas vendas de moinhos do Grande ABC no período. Segundo o Sindicato da Indústria de Moinhos de Trigo do Estado de São Paulo, o aumento de 32% da matéria-prima elevou o custo da farinha de trigo em cerca de 25%.

O trigo é uma commodity que possui preço regulado pela bolsa de Chicago, nos Estados Unidos. Nos últimos dois meses, o preço da matéria-prima passou de US$ 106 a tonelada para US$ 142 a tonelada. Os compradores brasileiros tiveram de desembolsar a mais pelo frete do produto, que passou de US$ 23 a tonelada para US$ 28 a tonelada no mesmo período. O trigo representa 80% dos custos para a fabricação da farinha de trigo. No país, existem 170 moinhos que fornecem farinha de trigo para as indústrias panificadoras, de massas e biscoitos.

"Com o aumento do trigo, nosso faturamento caiu 15% nos últimos dois meses. Estamos preocupados com a situação porque o setor é muito sensível em relação aos preços da commodity. A manutenção dos reajustes poderá comprometer nossa estimativa de crescimento de 5% neste ano", afirma Waldir Santos Abbondanza, gerente comercial do Moinho Santa Clara, de São Caetano.

No Moinho de Trigo Santo André, as vendas caíram de 10% a 12%. De acordo com o gerente industrial Valdecir Biazin, a empresa é obrigada a repassar os reajustes para o mercado. "O custo que será repassado para os compradores ficará entre 23% e 24%. De 12% a 13% já foi absorvido nos meses de fevereiro e março e o restante ficará para abril e maio", afirma.

A redução de estoques argentinos de trigo é o principal motivo para o aumento do preço do grão. O país sul-americano é o sétimo produtor mundial e foi o quarto maior exportador em 2004 – vendeu US$ 1,35 bilhão da commodity no ano passado.

De acordo com a Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria de Trigo), a Argentina produziu no ano passado mais de 16 milhões de toneladas de trigo e consumiu 5,5 milhões de toneladas. O excedente foi exportado e derrubou os preços no final do ano passado. Agora, com os estoques menores, os preços voltaram a subir, e devem oscilar neste ano entre US$ 140 e US$ 150 a tonelada. Cerca de 50% do trigo consumido pelo Brasil vem do exterior. O Brasil importou no ano passado US$ 730 milhões ou 4,8 milhões de toneladas de trigo. E em 2004, a Argentina respondeu por 95% das importações brasileiras da mercadoria.

De acordo com Waldir Abbondanza, a Argentina começou a exportar para países da África e do Oriente Médio desde o final do ano passado, o que reduziu o estoque da matéria-prima para o Brasil. Os empresários do Grande ABC compram a maior parte do trigo do país vizinho, que oferece preços mais vantajosos. Segundo Abbondanza, o trigo argentino é vendido por cerca de R$ 470 a tonelada colocada no moinho, enquanto o custo do produto nacional fica em torno de R$ 510 a tonelada colocada no moinho. "O trigo brasileiro está em final de safra, o que diminui a oferta e acaba elevando os preços", diz.

Medidas – Para evitar um repasse integral do aumento das matérias-primas para a cadeia do trigo, a Abitrigo reivindica do governo federal a isenção do setor da cobrança de tributos como PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento de Seguridade Social), benefício concedido no ano passado para produtos da cesta básica como arroz, feijão e farinha de mandioca. Atualmente, essa é uma das bandeiras da entidade no Conselho Nacional do Trigo.

Segundo a associação, caso a alíquota zero fosse aplicada, cálculos do setor indicam a redução de até 5% no preço do pãozinho, o que beneficiaria principalmente consumidores de baixa renda. A redução também atingiria os preços de outros produtos da cesta básica derivados do trigo, como o macarrão (entre 3% e 4%) e a farinha de trigo para uso doméstico (em torno de 7%).




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