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Facilidade de crédito pode gerar onda de inadimplência
Bárbara Ladeia
Do Diário do Grande ABC
10/08/2009 | 07:00
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O consumo exagerado em meio a um cenário de crise financeira pode não ser bom sinal para a economia nacional. Após o estouro da bolha do setor imobiliário norte-americano, há especialistas que acreditam em nova encruzilhada, dessa vez envolvendo o sistema de crédito brasileiro.

Com os excessos de facilidades no acesso ao financiamento e os fortes estímulos ao consumo, uma forte onda de inadimplência pode estar a caminho.

"Quando estourou a crise mundial, a primeira demonstração de prevenção na Europa e nos Estados Unidos foi a orientação ao consumidor para colocar o pé no freio quanto ao consumo. Enquanto isso, havia forte campanha do governo nacional incentivando as compras", lembrou Marcelo Segredo, presidente da Associação Brasileira do Consumidor, organização de apoio ao consumidor do sistema financeiro.

Não por acaso, após três meses repetindo que a crise era apenas uma marolinha, o governo federal foi obrigado a assumir a retração econômica, em janeiro deste ano. "Logo no mês em que as pessoas mais precisam de dinheiro para comprar material escolar, fazer a matrícula dos filhos na escola, pagar o IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), licenciamento, e tudo mais, muitos acabaram ficando sem emprego", comentou.

Não faz parte da cultura do brasileiro a poupança nem a economia. A herança da filosofia de ostentação trazida desde a colonização deixou consigo o endividamento da população, que com a chegada do desemprego nesse momento da crise, foi obrigada a ver seus compromissos financeiros mudando de valor.

As taxas de juros cresceram, paralelamente ao risco da concessão de crédito, como as regras do negócio dizem que deve acontecer.

Para os não pagantes da fatura do cartão de crédito, os juros podem chegar a 22% ao mês. "Essa taxa é proibitiva e gera inadimplência", defendeu Segredo. "Por outro lado, não existe flexibilidade por parte das administradoras de cartões de crédito em fazer um acordo com redução da dívida e, consequentemente, da inadimplência."

O especialista afirmou que dentro dessa incapacidade de pagamento do consumidor, operadoras de cartões de crédito vêm movendo ações contra consumidores, provocando penhor de seus bens.

Para Segredo, um dos maiores problemas é a falta de concorrência no setor. Com apenas duas operadoras da modalidade de crédito, fica na mão delas a determinação das regras de funcionamento do segmento.

"É o interesse financeiro que dita a forma como vão funcionar as negociações e quanto de juros será cobrado."

O ideal, segundo o especialista, é concentrar energias no planejamento financeiro, de modo a evitar as compras a longo prazo. Esse comportamento, tão típico do consumidor brasileiro, é o principal fator do endividamento nacional. "Só use esses parcelamentos longos quando necessário, para aquisição de produtos de alto valor", aconselhou segredo.




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