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Morador de rua carrega sonho de reencontrar a filha

João Batista de Paula não vê Gislaine, que vive na Espanha, há 5 anos

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
03/08/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


 As ruas do bairro Paraíso, em Santo André, se tornaram a casa de João Batista de Paula, 62 anos. Há quatro anos, o catador de recicláveis já conhecido pela vizinhança carrega junto de seu carrinho, apelidado de Cassilda, um desejo latente: rever a filha, Gislaine Soares de Paula, que hoje mora na Espanha.

As escolhas que o morador de rua fez ao longo de sua vida o afastaram da família. Natural de Centenário do Sul, no Paraná, João Batista chegou em Santo André aos 14 anos. Sem estudo e qualificação profissional, teve de se adaptar. “Sempre fui cigano. Já fiz de tudo nessa vida, trabalhei como pintor, pedreiro, mecânico, limpador de banheiro e até cantor”, revela.

O temperamento agressivo lhe custou caro: 24 anos sem poder conviver em sociedade. Os primeiros 15 anos em regime fechado foram a pena por assassinar um conhecido durante briga de bar. Já os outros nove, consequência por matar morador de rua durante uma confusão. “Esses são meus dois únicos arrependimentos na vida”, confessa.

João Batista ainda se lembra, emocionado, do último encontro com a filha, há cerca de cinco anos. “Ela me visitou na cadeia, depois de quase 20 anos sem me ver, e me disse que viria para o Brasil na Copa, mas não me procurou”, lamenta.

Enquanto aguarda o contato familiar, o morador de rua conta com a solidariedade dos vizinhos para se manter. “Estou com dificuldade de andar com o carrinho porque tenho dores nas costas e na perna, mas a Cassilda é tudo para mim. Sem ela eu passo fome, porque ainda consigo livrar um trocado para o café, o cigarro e a pinga”, diz.

Uma das gentilezas realizadas pelos vizinhos é a permissão para que o catador durma na porta de uma oficina de funilaria e pintura no bairro. “Eles deixam até eu guardar minhas coisas aqui”, comenta, ao se referir a uma troca de roupa, um cobertor e a fotografia da filha.

Como forma de retribuição, João Batista destaca que um de seus passatempos preferidos é distribuir as frutas, verduras e legumes que ganha na feira, aos sábados, para a comunidade do núcleo Gamboa e vizinhança do entorno. “É o meu jeito de ajudar também”, considera.

Assim como os colares que pegou do lixo, a tatuagem com a imagem de Nossa Senhora Aparecida é considerada amuleto pelo morador de rua. Os símbolos da fé são alternativa para enfrentar o dia a dia enquanto sonha com o momento de reencontrar a filha, cujo nome está literalmente tatuado do lado esquerdo do peito.




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