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Cenário de juros muda e bancos só repassam Selic

Taxa básica está três pontos mais baixa e crédito, no mesmo período, 26 pontos mais barato

Por Pedro Souza
do Diário
15/11/2013 | 07:00
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Divulgação


Em julho de 2011 o governo federal decidiu iniciar uma sequência de reduções na taxa básica de juros, a Selic. Pretendia estimular o consumo para combater a crise econômica. O indicador apontava 12,5% ao ano na época.
Hoje, está em 9,5%, três pontos percentuais menor. E, na mesma comparação, o custo médio do crédito para os consumidores caiu 26,79 pontos percentuais, de 121,21% ao ano para 91,42%, revela a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).

Este é um novo cenário de juros no País, tendo em vista que, antes do período analisado, era comum haver incrementos nas taxas bem superiores aos aumentos da Selic. E, no sentido oposto, o mesmo não ocorria.

Quando a taxa básica diminuía, os bancos ficavam resistentes em repassar mais do que o decréscimo.

Os aumentos médios nos juros aos consumidores neste ano, que têm apenas repassado as elevações da Selic, reforçam a ideia de que o cenário é outro. Instituições financeiras diminuíram suas margens de faturamento sobre as taxas e, mesmo assim, continuam apresentando resultados positivos, avaliou o diretor executivo de estudos financeiros na Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.

O resultado da Pesquisa de Juros da Anefac, publicada ontem, mostra que a taxa média de juros para as pessoas físicas em outubro subiu 0,65 ponto percentual, de 90,77% ao ano para 91,42%. No dia 10 do mês passado, o Comitê de Política Monetária do BC (Banco Central) elevou a Selic em 0,50 ponto percentual, de 9% para 9,5% ao ano.

O financiamento de veículos, por exemplo, tem uma das menores taxas entre as modalidades. E está bem mais barato que antes do período em que o governo começou a redução da Selic, que atingiu até 7,25% ao ano. “Mesmo com a taxa perto dos 30% ao ano no crédito para aquisição de veículos, os bancos (com margens reduzidas) estão ganhando muito dinheiro”, disse o professor de Economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Norival Caruso.

“Nós vivemos um novo período”, destacou Oliveira. “Mas não podemos desconsiderar que ainda temos os juros entre os mais altos do mundo”, avaliou Caruso.

Outro fator que tem segurado o avanço do preço do crédito no País é a redução da taxa de inadimplência das famílias em relação aos empréstimos. Segundo o BC, em setembro, último dado publicado, o percentual de atrasos por mais de 90 dias no crédito para pessoa física era de 7,01%, considerando apenas os recursos livres, que são aqueles que as instituições têm liberdade para precificar, voltados ao consumo. Esse resultado é o menor registrado pela autoridade monetária desde julho de 2011, quando estava em 6,89%.

Professor de Finanças da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, Fabiano Guasti Lima explicou que os bancos, ao observarem menos calotes, acabam criando estratégias para vender, cada vez mais, crédito. E uma das ferramentas para atrair clientes a esse produto é a precificação dos empréstimos.

Lima disse que é impossível saber ao certo se a taxa de inadimplência às famílias continuará caindo. “Mas, o brasileiro se endividou bem dentro de um certo período, e teve excesso de consumo. Agora ele está pagando as contas e sabe quanto custa o dinheiro desta vez. Com medo dos juros e da inflação, o brasileiro está dando mais valor para o dinheiro dele”, concluiu sobre a redução da inadimplência.

HISTÓRICO - Os especialistas concordam que a mudança no cenário de juros teve início em abril de 2012, quando o governo federal, por meio dos bancos públicos, iniciou uma corrida pelos juros baixos, e acabou puxando o mercado. E, desta maneira, a competição pela demanda de crédito segura os juros.

 

 

 

 




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