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Obesos serão operados no Centro Hospitalar de Santo André
Por Leandro Calixto
Do Diário do Grande ABC
28/10/2005 | 08:46
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O caso do motorista do prefeito de Santo André, João Avamileno (PT), que fez cirurgia de redução de estômago pela rede pública sem enfrentar a fila de espera de 6 mil pessoas, abriu um precedente no Centro Hospitalar Municipal, onde ele foi operado. Quem estiver na fila e apresentar quadro clínico igual ao do motorista também será considerado caso de urgência e vai ser operado no mesmo hospital. É o que garantiu quinta-feira o clínico geral Remo Randi, indicado pela Prefeitura para dar entrevista ao Diário.

José Roberto dos Santos, o Zezinho, motorista de Avamileno, passou por cirurgia em 27 de setembro, embora o Centro Hospitalar tivesse suspendido este tipo de operação no início do ano. Normalmente, um paciente espera até dois anos e meio para fazer cirurgia de redução do estômago, que atualmente só é realizada no Hospital Anchieta, em São Bernardo, e no Hospital Estadual de Diadema.

Dias após a cirurgia de Zezinho, a Secretaria de Saúde argumentou que o caso se tratava de emergência e que o procedimento de redução de estômago foi decidido no momento em que o paciente era operado de hérnia. A alegação foi a de que o quadro do motorista era gravíssimo.

Mas, quarta-feira, atendendo a pedido do prefeito, que solicitou a apuração do caso, a secretária de Saúde, Vânia Barbosa, apresentou nova versão e reconheceu que o motorista sabia que seria operado três meses antes da cirurgia. Segundo a secretária, "no calor dos fatos" o "nervosismo" impediu que todos os detalhes fossem apurados.

"Se me trouxerem outro caso igual ao do Zezinho, indico novamente para fazer a operação. Esse tipo de caso não está suspenso no Centro Hospitalar", avisou o médico Remo Randi, que não soube dizer quantas pessoas estão na fila de espera têm o mesmo problema apresentado por Zezinho.

Segundo o médico, o motorista fez a cirurgia porque tinha que tratar de três hérnias. A secretária Vânia explicou quarta-feira que "um abdômen volumoso compromete a cirurgia (de hérnia), e os pontos esgarçam." Daí a necessidade, segundo ela, de fazer as duas cirurgias de uma só vez.

Mais uma vez questionado pela reportagem se Zezinho recebeu algum tipo de privilégio por ser motorista do prefeito, o médico foi categórico. "Nas primeiras vezes que conversei com ele nem sabia que era motorista do prefeito. Se você colocar dez médicos um do lado do outro, ele (prefeito) não sabe quem sou eu. Eu nunca falei com o prefeito. Nem o conheço", garante.

Ao ser informado que funcionários do Centro Hospitalar garantiram ao Diário que o motorista foi privilegiado, o clínico se defendeu firmemente. "Eu não sei qual é a posição desses funcionários. Sinceramente desconheço. Mas tem funcionário aqui que traz parentes para a gente ver. Freqüentemente estamos atendendo parentes de funcionários, filhos, primos. Isso acaba criando um vínculo", explica o médico, garantindo que todos enfrentam a fila no Centro Hospitalar.

O clínico geral disse ainda que vinha acompanhando o quadro clínico de Zezinho há quase seis meses. "Tentamos de todas as formas fazê-lo emagrecer. Como ele não conseguia, optamos pela cirurgia para não trazer grandes complicações para o paciente", completa o médico.

A fila para a realização de cirurgia bariátrica é organizada e controlada pela Faculdade de Medicina da Fundação ABC. Quinta-feira, a assessoria da Fundação informou que dificilmente a nova medida adotada pelo hospital irá diminuir o número de pacientes na fila. A dificuldade, segundo a Fundação, é que os prontuários de pacientes candidatos a cirurgia de estômago e de hérnia são distintos. Será necessário fazer um cruzamento. A Fundação explicou ainda que os casos de maior urgência, como já é feito atualmente, serão analisados e terão atendimento preferencial.

Quando soube do procedimento adotado pelo Centro Hospitalar de Santo André, o médico da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o cirurgião de aparelho digestivo Carlos Haruo disse não ser usual fazer uma cirurgia de redução de estômago quando o paciente estiver sendo operado de hérnia.

O caso do motorista do prefeito de Santo André também chegou à Câmara Municipal. O vereador Carlos Raposo (PV) assinou na última terça-feira um requerimento solicitando esclarecimentos do prefeito João Avamileno sobre o suposto privilégio. Segundo o vereador, o prefeito tem 15 dias para se explicar formalmente para os vereadores.




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