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Prêmio para a inimiga do planeta

No Brasil, a motocicleta era, até o fim dos anos 1980, um veículo esportivo, limitado a um grupo pequeno de pessoas da classe média e alta

Cristina Baddini
30/04/2010 | 00:00
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No Brasil, a motocicleta era, até o fim dos anos 1980, um veículo esportivo, limitado a um grupo pequeno de pessoas da classe média e alta. Mas nenhum bem de consumo teve o preço tão achatado nas duas últimas décadas e obteve como resultado o crescimento de 21% ao ano.
Após forte estratégia da indústria para a ampliação das vendas, houve crescimento exponencial, de 129 mil unidades em 1990 para mais de 1,5 milhão em 2009. Estima-se em quase 10 milhões a atual frota nacional de motocicletas. A pergunta que paira no ar é: como essa mudança foi possível em um ambiente tão nebuloso para os outros setores?
Com estímulos fiscais e um mercado potencial elevadíssimo, não foi difícil convencer multinacionais como a Honda e a Yamaha a se estabelecerem aqui e até a tradicional Harley-Davidson instalou sua única fábrica fora dos Estados Unidos em Manaus.
Mas as razões não se esgotam aí. A proliferação das motos tem muitas causas. Uma é o custo menor que o de um carro. Há consórcios em que se pode comprar uma moto por R$ 100 ao mês. A maior parte das pessoas que compra moto ganha um salário mínimo.
A segunda razão é o menor custo de operação. Segundo a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), uma viagem de sete quilômetros num grande centro urbano custa R$ 0,60 numa moto; R$ 1,20 em ônibus; e R$ 1,80 de carro.
A terceira razão é o tempo menor gasto nas viagens de moto. Nesse mesmo percurso de sete quilômetros, enquanto a moto gasta 16 minutos, o carro precisa de pelo menos 20 minutos, e o ônibus, de 43 minutos. Por isso muitos usam motocicletas para ganhar tempo. A agilidade de operação e sua relativa facilidade de estacionamento são contadas como grande vantagem.
A grande desvantagem é a insegurança, uma vez que o risco de acidentes com vítimas graves e fatais é cinco vezes superior ao de quem usa automóvel. Na cidade de São Paulo, por exemplo, as motocicletas já representam mais de 8% da frota de veículos, porém, já respondem por 29,5% das mortes no trânsito do Brasil.
Do ponto de vista ambiental, a moto é responsável por emissão de poluentes quase sete vezes superior ao volume de poluentes emitidos por um carro novo. Em 2000, uma motocicleta nova emitia 12 gramas de monóxido de carbono (CO) por quilômetro, quantidade mais de 16 vezes maior que o volume de 0,73 gramas de CO emitidos por um carro em um quilômetro rodado. Em 2006, este índice baixou para 2,3 gramas por quilômetro por moto contra 0,33 gramas por quilômetro por carro. Os dados referem-se a motos com motores de 150 cilindradas ou menos. O agravamento da situação climática mundial já se tornou uma verdadeira emergência planetária e, nesta linha de pensamento, me parece contraditório a Moto Honda da Amazônia ser homenageada com o certificado e selo de Empresa Parceira da Natureza durante a 4ª Conferência Latino Americana de Preservação ao Meio Ambiente, com avaliação feita pelo IBDN (Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza), dentro do tema de sustentabilidade O Caminho que Pode Mudar o Mundo. O selo é concedido às empresas que demonstram comprometimento e responsabilidade com as questões socioambientais, ao promover a defesa e a preservação do meio ambiente às atuais e futuras gerações. Realmente não dá para entender!




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