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Estudo diz que dois de cinco rios avaliados têm condição ruim

Investimento em saneamento é diferencial para a melhora de corpos hídricos na região

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
22/03/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 No Dia Mundial da Água, celebrado hoje, reforça-se a necessidade de investimento em saneamento básico para garantir a melhoria da qualidade de corpos hídricos da região. Isso é o que mostra o estudo Observando os Rios 2018 – O Retrato da Qualidade da Água nas Bacias da Mata Atlântica, realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica e apresentado ontem no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília. Dos cinco rios avaliados no Grande ABC, dois apresentam situação classificada como ruim.

Foram avaliados os corpos d’água Ribeirão dos Meninos (em São Bernardo), Tamanduateí (em três pontos de Mauá), Taiaçupeba Mirim e Ribeirão Pires (em Ribeirão Pires) e Rio Grande (em Rio Grande da Serra). Destes, estão em condições hídricas ruins: os rios Ribeirão Pires e Rio Grande. Os demais apresentam situação regular (veja mais no mapa abaixo).

A mostra da importância em se investir em saneamento básico é observada em Mauá. Isso porque dois dos três pontos analisados do Rio Tamanduateí (na entrada do Jardim Zaíra e no bairro Capuava), apresentaram leve melhora da qualidade da água – passando da condição ruim, em 2017, para regular, neste ano.

“O que pode ser atribuído à melhora é a ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) na cidade. Isso faz uma grande diferença”, ressalta a especialista em recursos hídricos Marta Angela Marcondes, também professora titular da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), que integra grupo de monitoramento voluntário do projeto Observando Rios, da SOS Mata Atlântica.

A ETE Mauá foi inaugurada em dezembro de 2015. Naquele ano, o índice de tratamento de esgoto da cidade era de 66,31%, passando atualmente para 70%. A BRK Ambiental, concessionária responsável pelo saneamento de Mauá, ressalta que, diariamente, são tratados 50 milhões de litros de esgoto, volume que antes era despejado sem tratamento no Rio Tamanduateí.

A nascente do Rio Tamanduateí, no Parque Ecológico da Gruta Santa Luzia, também analisada no relatório, manteve situação regular na análise.

Para a população que convive próxima ao cenário de sujeira e esgoto, falta bom senso, tanto por parte do poder público, quanto dos próprios cidadãos. “As pessoas jogam lixo nos rios. É só olhar e ver a quantidade. É o tipo de coisa que ninguém precisaria falar”, reclama a funcionária de apoio operacional Silvana Aparecida da Silva, 55 anos, que trabalha próximo à trecho onde passa o Rio Tamanduateí, no Jardim Zaíra.

“Temos tanta riqueza natural e ninguém cuida, nem os governantes e nem o povo”, diz o aposentado Luiz Claudio Estevam, 54, de Ribeirão Pires.

Em 32 municípios do Estado, dos 124 pontos de coleta avaliados, apenas 4% possuem qualidade de água boa, enquanto 64,5% estão em condição regular e 30,6% ruim ou péssima. O levantamento foi realizado entre março de 2017 e fevereiro de 2018.

 

OUTRAS AÇÕES

Além da atenção ao Saneamento, a especialista Marta Marcondes ressalta que outras iniciativas devem ser executadas, em paralelo, como a questão da coleta de resíduos adequada e programa efetivo de educação ambiental e sanitária. “O poder público deve investir em Educação e nas necessárias obras de saneamento, mas a sociedade civil também precisa contribuir.”

 

Órgãos e prefeituras destacam ações

As empresas responsáveis pelo Saneamento, nas cidades que constam do estudo, e as prefeituras, ressaltam iniciativas para melhorar cada vez mais a qualidade dos corpos d’água.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo), que opera em São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, destaca o início, em janeiro, das obras do Programa Pró-Billings, em São Bernardo, que ampliará a coleta e o tratamento de esgoto no Grande ABC. “A iniciativa vai beneficiar indiretamente os demais municípios da região com a valorização da Represa Billings e dos córregos e rios”, explica, acrescentando que “mais de um bilhão de litros de esgoto por mês passarão a ser coletados e tratados”. Serão investidos R$ 89,4 milhões, com entrega em 2020.

Já a Prefeitura de São Bernardo salienta que, paralelamente aos investimentos em saneamento, a administração atua “na constante fiscalização de ocupações irregulares nas áreas ribeirinhas”, além de realizar intervenções sobre o uso e ocupação do solo, “uma vez que ao longo de décadas, verificou-se o nível de comprometimento da represa em razão dos desmatamentos, processos erosivos do solo e assoreamento do fundo do reservatório”.

Em Ribeirão Pires, o Executivo informa que, em parceria com a Sabesp, está discutindo as prioridades para a revisão do plano de saneamento, que deve acontecer ainda neste ano. “O município dispõe ainda de coleta seletiva de materiais recicláveis e de óleo de cozinha nas escolas municipais”, acrescenta.

Em Mauá, a BRK Ambiental ressalta que investe em ações de educação ambiental, “que, somente no ano passado, possibilitaram levar 2.500 alunos para conhecer o processo de tratamento dos efluentes”.

Em âmbito estadual, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos informa que possui vários programas que atendem municípios de todo o Estado, como o Sanebase, que transfere recursos para execução de obras e/ou serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário, mediante convênios firmados.

 

Especialista cobra informações atualizadas

 Em palestra que antecedeu o Dia Mundial da Água, ontem, no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, a diretora da Abes-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) seção São Paulo, Roseane de Souza, defendeu a criação de sistema de notificação de qualidade da água.

“Os sistemas de abastecimento precisam de informações vindas da população para garantir e assegurar que a água que está sendo distribuída é realmente segura. Estes mecanismos têm de ser inteligentes no seu monitoramento, afinal saneamento é um direito humano”, disse ela, que é especialista em vigilância da qualidade da água.

O secretário executivo do Consórcio, Fabio Palacio, afirmou que a discussão sobre a temática é mais eficiente quando feita de maneira integrada entre os municípios. “Esta discussão deve tomar cada vez mais corpo, pois a água é uma questão essencialmente regional. Por isso, o Consórcio trata deste tema com o apoio e colaboração dos municípios.”

A palestra, intitulada Plano de Segurança da Água, foi organizada em parceria com o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) e a Secretaria de Meio Ambiente andreense.

 

 




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