Economia Titulo Seu bolso
Compras encarecem 27,94% em 10 meses

Desde abril, o preço dos produtos subiu quatro
vezes acima da inflação oficial, que variou 6,59%

Por Marina Teodoro
Especial para o Diário
16/01/2016 | 07:29
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC:


 O ano mudou, mas o preço dos alimentos em hipermercados e supermercados do Grande ABC continua subindo. De acordo com levantamento feito todo mês pela equipe do Diário, que verifica a inflação desses produtos na prática, em dez meses – desde o início da pesquisa, em abril de 2015 –, os gastos com as compras de itens de primeira necessidade na região subiram 27,94% no estabelecimento de grande porte.

Essa alta, porém, é quatro vezes maior que a variação da inflação oficial do País, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que no mesmo período subiu 6,59%. Já na loja de tamanho menor, o estudo apontou variação de 15,35%, quase três vezes o IPCA.

Para o engenheiro agrônomo Fábio Vezzá De Benedetto, a explicação para esse aumento é reflexo da economia conturbada do ano passado. “Com a valorização do dólar (na casa dos R$ 4), muitos produtores preferiram dar mais atenção à exportação de commodities, como carne, arroz e açúcar”, diz, referindo-se ao fato de sobrar quantidade menor desses produtos no mercado doméstico, o que eleva os preços, já que a demanda por eles é crescente.

Outro motivo que influenciou no encarecimento dos preços foi a escassez no início do ano passado, e a estiagem fora de época. “O clima sempre tem impacto na produção dos hortifrúti, que em 2015 pesaram bastante no bolso do consumidor. As chuvas torrenciais deste início de ano, inclusive, também já estão surtindo efeito nos mercados (ao reduzir a oferta dos itens)”, alerta o engenheiro agrônomo.

MENSAL - O conjunto de alimentos no hipermercado ficou em R$ 109,25, ligeiramente mais barato (0,29%) do que há um mês. Já no supermercado essa diferença ficou um pouco mais acentuada, com aumento de 2,78% entre dezembro e janeiro, e hoje custa R$ 108,58. Se comparado à variação do IPCA mensal em dezembro, contra novembro, que foi de 0,96% – o índice referente a janeiro ainda não foi divulgado –, os preços dos alimentos no supermercado da região ficam acima do esperado. Considerando apenas o grupo alimentação e bebidas, a alta foi de 1,5%.

“A tendência, geralmente, é que em janeiro os preços ainda fiquem contidos em relação ao último mês do ano anterior. Por conta dos gastos excessivos de fim de ano, as pessoas tendem a gastar menos agora por contenção de custos e também ritmo de férias”, explica De Benedetto. Com a demanda menor, os custos tendem a baixar.

Entretanto, neste ano, a previsão para janeiro e os meses seguintes fica um pouco incerta. “Passamos por um ano atípico, viemos de uma seca rigorosa e, agora, as chuvas estão atrapalhando o cultivo e colheita de muitos alimentos. O que pode fazer com que janeiro, que costumava ser um mês com aumentos mais tímidos, apresente diversos produtos com encarecimento considerável”, analisa.

HORTIFRÚTI - De fato, o fator climático já surtiu efeito nas prateleiras das lojas, principalmente no setor de frutas, legumes e verduras. A maior alta verificada na pesquisa foi a da alface, que subiu 87,24% de dezembro para cá, quando custava R$ 1,99 e, neste mês, quase dobrou, saindo a R$ 2,79 o maço. “A demanda dos itens da salada sempre aumenta no verão e, portanto, os preços tendem a aumentar. Entretanto, com o cultivo prejudicado pelas chuvas, o produto acaba valorizando”, justifica o especialista.

O alho, um dos produtos com preços cotados internacionalmente, também sofre aumento, destaca o engenheiro, já que a safra é argentina ou chinesa. No supermercado, o item pode ser encontrado por R$ 2,72 cada 100 gramas, 61,90% a mais do que mês passado.

Outro produto que também sofre com as condições climáticas é o tomate, que já começa a preocupar os consumidores, por custar R$ 7,99, com incremento de 14,3%. “A gente fica com medo, depois do que já aconteceu em outros anos. Se o preço continuar subindo, o jeito vai ser cortar o tomate da salada”, desabafa a podóloga Ana Paula Machado, 45 anos, de Santo André, referindo-se à época em que o preço do fruto chegou a R$ 15, no início de 2013.

Mas, para De Benedetto, os preços não deverão chegar a esse ponto. “Se o consumo diminuir, como está acontecendo nos últimos meses, em que o brasileiro passou a conter os gastos devido aos problemas econômicos, é possível que os agricultores ofereçam preços mais acessíveis para evitar desperdício e também não deixar com que os alimentos pereçam.”




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;