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Perfuradora para por 48h no Chile
Por Willian Novaes
Enviado especial ao Chile
10/09/2010 | 07:03
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Cabisbaixa, foi assim que a vendedora Maria Segovi, 52 anos, saiu ao ouvir que a máquina T 130 precisará ficar parada por 48 horas. Em apenas cinco dias, esse equipamento que é o plano B, chegou a 268 metros de profundidade, contra os 171 do plano principal. Os 33 mineiros estão há 35 dias soterrados a 700 metros.

Outros familiares também sentiram na pele mais um imprevisto que ocorre no resgate dos seus parentes. Em conversas com o Diário informaram que a confiança dos mineiros pode ser abalada com esses atrasos, mais ainda acreditam no milagre do salvamento.

"Esperança e fé essas são as nossas maiores forças para suportar esses atrasos", disse Lídia Barrios, 56. O seu irmão Johny, 50, foi disputado por duas mulheres no começo da semana e ontem nenhuma das duas estavam no acampamento Esperança.

O chefe das equipes de resgate, André Sougarret falou que houve um desgaste no martelo da perfuradora e serão necessárias 48 horas para efetuar a troca. "Foi um contratempo, mas neste tipo de solo tudo é possível acontecer", comenta Sougarret.
Para o agricultor Afonso Avalos, 51, os seus filhos Florêncio, 31, e Renan, 29, podem perder a paciência. "Sabemos que vai demorar e acreditamos que tudo vai dar certo. Mas é perigoso esse contratempo, ninguém sabe até onde vai a paciência deles. Nós sabemos como os mineiros pensam", conta.

O silêncio predomina no acampamento. Sempre é possível ver alguém rezando e acendendo velas no meio das pedras onde foram montados vários altares com imagens de santos e com mensagens bíblicas.

A polícia local acredita que há 200 familiares hospedados nas 33 barracas armadas pelo governo de Copiapó. Para ficar mais próximos dos parentes, as mulheres, pais e mães também ficam sentados ou deitados na direção em que os mineiros estão soterrados.

"Aqui facilita para eu ver e saber que ele está lá embaixo. Não vejo a hora dele sair e me dar um abraço, mesmo com essa confusão", conta Alicia Campos, 58, mãe de Daniel, de 27.

No fim da tarde, mesmo com o frio, os sorrisos voltaram a aparecer nos rostos dos familiares, devido ao início dos trabalhos das máquinas para alargar a via que dá acesso à mina. Essas obras foram necessárias para os 42 caminhões que trazem a terceira perfuradora em mais uma tentativa para resgatar os soterrados.

A expectativa do chefe das equipes de resgate, Sougarret, é que os veículos comecem a chegar hoje pela manhã. "Depende do trânsito, mas não podemos confirmar nada", disse. Os caminhões formam um comboio de um quilômetro e trafegam lentamente, por causa do peso da carga.

 

Família manda pedaços de bolos para aniversariante

Trinta e três pedaços de "queque". Foi esse o presente que Cláudio Acuña recebeu pelos 35 anos de vida comemorados e ainda compartilhou com os outros 32 mineiros. O presente foi enviado por sua mulher, a dona de casa Fabiola Arraia, 26, e a sua sogra Elizabete, 52, que fizeram o pão doce em uma fogueira no acampamento esperança.

Esse foi o segundo aniversário nesta semana. Na quarta-feira, Juan Illanes fez 52 anos. Os seus familiares comemoraram mesmo há 1.230 quilômetros de distância.
Para Elizabete, que falou com o genro no fim da tarde de ontem, não importa a maneira da comemoração, o importante é que exista. "Mandamos cartas e queque para todos, assim motiva eles e faz lembrar que estamos torcendo para eles saírem bem e com vida", conta.

Quando existe uma data importante, a família tem direito a um encontro especial. Por volta das 16h, Fabiola, Elizabete e a criança Scarlete, de 2 anos e meio, se arrumaram para falar com o aniversariante do dia.
Craque manda camisetas do Barcelona

"Alegria é isso que meu pai vai sentir com este presente", disse Carolina Lobos, filha do ex-jogador de futebol Franklin Lobos que recebeu duas camisetas do Barcelona, autografadas pelo craque espanhol David Villa.

O jogador, que é filho, neto e bisneto de mineiro se solidarizou com a história dos 33 trabalhadores e resolveu fazer uma homenagem. "Quando Villa tinha 8 anos o seu pai sofreu um acidente terrível numa mina na Espanha e ele foi o único que conseguiu ter uma outra profissão na família", comenta a jornalista esportiva espanhola Cristina Cubero que veio até o acampamento entregar os uniformes.

As camisetas seriam entregues, no começo da noite de ontem, por meio das ‘palomas' que servem para enviar alimentos, bebidas e cartas das famílias, entre outros objetos.
A outra peça com a inscrição "Animo Mineros" foi recebida por Darwin Contreira, que representou as demais famílias. Ele é irmão do mineiro Pedro. "Essa é uma maneira para descontrair a cabeça deles, porque o Villa é magistral", conta.

"Essa homenagem faz parte de uma química, harmonia que não pode deixar de existir. Eles precisam de incentivo para sobreviver", disse Carolina. Na terça-feira, após o jogo entre Chile e Ucrânia o seu pai fez um comentário durante a transmissão da partida. Os chilenos perderam por 2 x 1. Os jogadores posaram antes do início da partida com uma camiseta "Fuerza mineros".

Os parentes ao descobrir que o repórter do Diário era de um jornal brasileiro não perderam a oportunidade de pedir que Ronaldinho e o Ronaldo Fenômeno também enviassem as suas respectivas camisas.

 

 




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