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Pobre passa incólume em S.Caetano
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
03/12/2004 | 09:27
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A pobreza também atinge São Caetano. Mas causa estranheza saber que a cidade, campeã no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) no país, tenha famílias em situação complicada quando se fala em qualidade de vida. O mapa da pobreza do IPVS (Índice Paulista de Vulnerabilidade Social), medido pela Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), apontou que os bairros Barcelona e Prosperidade têm moradores agrupados no nível máximo de pobreza, o de muito alta vulnerabilidade social. No entanto, esse contingente é tão diminuto que sequer é identificado na tabela do estudo – há apenas um traço em cada uma das três faixas preocupantes. A conclusão da pesquisa é que os 140 mil moradores de São Caetano estão inseridos majoritariamente nos grupos mais positivos, os de nenhuma (12,50%), muito baixa (82,18%) e baixa vulnerabilidade social (5,31%).

Nada comparado, portanto, aos alarmantes índices de miséria registrados em Mauá e em Rio Grande da Serra que correspondem, respectivamente, a 15,87% e 13,43% do total de habitantes nos dois municípios. A pobreza em São Caetano não tem cara nem gueto. Está diluída próximo aos limites de Santo André e São Paulo e distante dos famosos cortiços dos bairros Nova Gerty e São José. No lugar de barracos de madeira encontrados nas zonas carentes das demais cidades, estão casas de alvenaria antigas ou em péssimo estado de conservação. Essas residências ficam camufladas em meio a edifícios de alto padrão e residências típicas da classe média, com grandes portões de ferro. É esse o panorama do bairro Barcelona, que se divide em uma pequena faixa de pobreza abaixo da avenida Goiás, um quarteirão nobre e outra área maior, de classe média, caso da maioria dos habitantes da cidade.

É na faixa indicada no mapa do IPVS como a área pobre do bairro Barcelona que mora a família do estudante Sérgio Luan Domingues Berti, 16 anos. A casa é antiga, de pintura descascada, cercada com grades de madeira em substituição ao muro. O adolescente mora com o pai, aposentado, a mãe e uma irmã mais velha. Embora a renda familiar seja baixa, o garoto não considera o grupo pobre. “Acho que somos classe média”, diz, ao saber que aquele trecho é considerado carente. Ele tem razão. Aquele que observa a rua tranqüila próxima a uma área industrial não julga que possam existir pessoas privadas dos direitos básicos em São Caetano. O rapaz pensa mais um pouco. “Ah, acho que tem gente por aqui (no bairro) que é carente mesmo. Mas não dá para saber”, arrisca. Apesar de dizer que não passa necessidades, Sérgio confirma que a família é totalmente dependente de serviços públicos: educação, saúde, lazer.

Subindo três quarteirões a partir da casa da família Berti, fica a área nobre do mesmo bairro. Edifícios de alto padrão, casas amplas e até um flat compõem o cenário. Quem mora ali tem à mão todo tipo de serviço (incluindo o restaurante do flat). É ali que moram os Romaldini. A casa, comprada há pouco tempo, sofre reforma para se adaptar ao gosto da família, composta pelo mesmo número de integrantes dos Berti, moradores do lado de baixo. O pai, José Péricles, 55 anos, é industrial e conseguiu manter os filhos em uma faculdade: um deles é médico recém-formado e o mais novo deve receber o canudo do curso de Administração neste ano. “Esse bairro é muito agradável, principalmente esse trecho aqui. O único problema é que tem sido muito visado pelos ladrões”, afirma.

Enfrentamento – Os números relacionados aos programas de inclusão social de São Caetano impressionam se comparados às demais cidades do Grande ABC. O cadastro único de redistribuição de renda do governo federal, apontado pela maioria das Prefeituras da região como ponto importantíssimo para o enfrentamento da pobreza, só tem 273 famílias. Em Diadema, por exemplo, esse número salta para 40 mil. Tal benefício, o Bolsa Família, é destinado apenas para famílias com renda per capita igual ou menor a R$ 100. Cada família pode receber de R$ 50 a R$ 95 por mês ao ser inserida no programa.

“Mas conseguimos atender a população porque temos um conjunto de ações que beneficia famílias de renda um pouco maior também. O programa de distribuição de cestas básicas e leite em pó para crianças, por exemplo, contempla famílias que têm renda de um salário mínimo (R$ 260) per capita”, afirma o diretor do Departamento de Assistência Social de São Caetano, Heitor Pontes. Já em Diadema, o programa municipal que complementa o Bolsa Família beneficia famílias de renda de até R$ 130.




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