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Sábado, 20 de Abril de 2024

Vamos todos ao teatro
Rodolfo de Souza
01/11/2018 | 07:00
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 A plateia chora, a plateia sofre, se enche de expectativa, ri e grita, se espreme no empurra-empurra, toca no ídolo, se emociona por ter tocado no ídolo... A plateia é todo coração, coração mergulhado na esperança e também no medo de perder o espetáculo. Dá até para entender: a plateia é gente e, como tal, tem no peito um coração que palpita, vivo, vivíssimo, carregado de uma emoção que, uma vez canalizada, talvez até suprisse de energia todo um país. Este País.

Complicada fica a vida, no entanto, quando essa emoção encontra refúgio no berço da intolerância e do desrespeito.

Pior ainda quando esse fenômeno se torna corriqueiro, e o prazer em praticá-lo é inevitável, levando o indivíduo a cometer os maiores desatinos só para tomar a dianteira e tolher o direito do semelhante que é bom.

Deseja somente vê-lo sofrer, e ninguém sabe ao certo como pode se fartar disso, embora se farte. Oxalá enfartasse antes de planejar qualquer ação contra quem quer que fosse, como, por exemplo, furar a fila do teatro, sentar-se na cadeira alheia, atirar no chão a embalagem vazia, proferir comentários inadequados a uma dama...

Difícil mesmo resolver esta equação que dá tudo de si para definir a questão humana que coloca pessoas contra pessoas, que insere na mente do ser essa necessidade de dominar o outro, de tomar o que lhe pertence, de cercear seu caminhar, de lhe roubar a liberdade, de feri-lo com palavras e atos.

Difícil de entender essa incapacidade de aceitar as diferenças, tendo em vista que somos todos diferentes. Palpitará, pois, acelerado o coração da fera diante do ataque iminente? Com certeza! É humano, afinal, e anseia por colocar em prática os seus desmandos.

Sofre, porém, diante da expectativa de conseguir uma cadeira melhor no fascinante teatro da vida aquele que não carrega a bandeira da truculência, mas a da educação, do amor, da liberdade... E desanima quando lhe é tirada a esperança. Tenta acreditar que o futuro será melhor, que algo acontecerá para intervir a seu favor. E se embebe desse sonho bom, e volta a sorrir, porque é o que lhe resta: tocar a vida, o que há de se fazer?

Mas agora há pouco esteve tão próximo do ídolo essa plateia! Derramou muitas lágrimas por vê-lo pessoalmente, por ouví-lo, por estar tão perto do ator que desempenhou bem o seu papel de fazer toda a assistência sonhar novamente, desta vez numa peça verdadeira, escrita para atender aos seus ideais.

Só que puxaram o tapete do ídolo antes que entrasse em cena, e ele tão cedo não subirá ao palco. Ficou só nos ensaios, e quem dele não se aproximou, quem não desfrutava de um fiapo de inteligência para entender suas palavras, foi o responsável pela sua despedida do teatro. Bastante compreensível até a situação daquele para quem soa difícil a fala do personagem. Por isso, não tem afinidade com ele, pessoa de conversa mansa, cujo texto lhe parece complexo demais.

Então, corre para outro teatro a fim de lá encontrar um ator que o represente melhor ou que talvez possua um linguajar mais compatível ao seu, torpe figura que agora terá pela frente uma temporada inteira para desfrutar da atuação do seu artista preferido.

E quanto à gente sensível e inteligente que ama o teatro, resta-lhe somente esperar ansiosa pela próxima peça encenada, que provavelmente terá como protagonista o seu ator predileto.




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