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Livro reúne 'causos' políticos
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
01/01/2003 | 16:20
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O poeta Jean de Santeuil (1630-1697) escreveu, em um busto de Arlequim, personagem da commedia dell’arte, “Castigat ridendo mores”, que significa “rindo se castiga os costumes”. Millôr Fernandes relembra a frase no prefácio de Folclore Político – 1950 Histórias (Geração Editorial, 656 págs., R$ 69), que reúne o anedotário político colhido pelo jornalista e ex-deputado federal Sebastião Nery.

O livro é o quinto com o mesmo título publicado por Nery. Neste, juntou em um só volume os quatro primeiros com fofocas e histórias de bastidores da política nacional lançados entre 1973 e 1982, além de incluir notas atuais.

Millôr escreve em um dos cinco prefácios republicados (os outros são de Joel Silveira, José Nêumanne Pinto e do próprio Nery) que “há um momento, no meio das crises, no centro dos dramas, no decorrer dos cansaços de uma luta às vezes grandiosa, mas a maior parte das vezes medíocre e rotineira, em que os políticos riem. Bastante dos outros. Algumas vezes de si mesmos”. Sebastião Nery garimpou nesses momentos as histórias que recheiam a obra. Outras ouviu dizer, como manda a tradição folclórica. São notas curtas, umas filosóficas, outras informativas, mas a maioria com humor.

Metade folclore, metade história, foram publicadas em colunas políticas por Nery e por colegas como Boris Casoy, que pediam emprestadas as informações. Inspiraram ainda o espetáculo teatral Brasil, da Censura à Abertura, dirigido por Jô Soares em 1980 e 1981.

A origem do Folclore Político foi uma coluna de Nery na Tribuna da Imprensa. Médici era o ditador, imperava o AI-5 e a censura. Nery conta: “Era 12 de setembro de 1972, aniversário do Juscelino (Kubitschek). Escrevi sobre ele na minha coluna e a entreguei ao censor de plantão na redação. Leu e me chamou: ‘Escreva outra coisa, que isso não sai. Juscelino, nem a morte da mãe’. Voltei para a máquina e escrevi (José Maria) Alkmin, Sete Histórias de um Gênio da Raça. Uma delas tinha Juscelino no meio. Passou. No dia seguinte, meu amigo Abelardo Jurema me mostrou o caminho das pedras: ‘Drible a censura contando o folclore político’. Estava ali o título. Toda vez que a censura engrossava, eu contava histórias políticas e metia os cassados proibidos”.

Por isso, o livro abre com histórias de JK (1902-1976). Nery dividiu Folclore Político por Estado e por personagens em cada um deles, mas não em ordem alfabética. Minas Gerais, portanto, abre a série, fechada em Nação Xavante com histórias do cacique Mário Juruna (1943-2002), seu ex-colega de PDT. Na abertura de cada capítulo, um político é caricaturado por Lan. Nas demais páginas, Oswaldo Pavanelli e Nássara se revezam na sátira gráfica dos personagens, que nem sempre são políticos (o coronel pernambucano Chico Heráclio e Lampião, por exemplo).

O que atrapalha na obra são falhas editoriais. Há desde gafes a notas que se repetem (no capítulo de Pernambuco, em meio a histórias sobre Lampião, aparece uma nota que está também na página de Santa Catarina, sobre Doutel de Andrade, nada a ver com o líder do cangaço). Sobre Luiz Inácio Lula da Silva, consta uma gafe no índice onomástico. Lá diz que uma das notas sobre Lula está na página 550. A nota referida menciona Lula Freire, do Maranhão.

Outro deslize, talvez do autor, coloca duas notas sobre Fernando Collor que terminam exatamente iguais, na mesma página (notas números 1.642 e 1.643). Nelas, variando sobre o Colégio Eleitoral (Tancredo e Maluf), o ex-presidente e então deputado conclui dizendo que essa disputa não resolveria nada e que o Brasil só sairia de seus problemas – ou só teria realmente um presidente – quando o povo elegesse um. “Falava como se falasse dele”, terminam ambas. Nada que uma segunda edição não resolva.




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