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Grande ABC supera marca de 100 mil recuperados da Covid

Em média, são 318 pessoas curadas da doença todos os dias; letalidade na região, porém, é maior do que registrada no mundo

Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
30/01/2021 | 00:01
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EBC


O Grande ABC alcançou a expressiva marca de 100 mil pessoas recuperadas da Covid. No total, com os números divulgados ontem pelas prefeituras, são exatas 102.053 pessoas que venceram a batalha contra o vírus em 321 dias de pandemia, ou seja, em média são 318 pessoas por dia que saem dos centros médicos pela porta da frente.

Se por um lado o número de pessoas curadas é marcante, por outro, o índice de letalidade da doença, de 3,5% na região, é o maior se comparado com o Estado, o País e o mundo (veja tabela ao lado). Isso significa que 3,5% das pessoas que se contaminam no Grande ABC morrem. “Tivemos grande aumento das pessoas recuperadas por Covid quando olhamos o início da pandemia. No começo tudo era novo, ninguém tinha experiência, já que era doença nova. A partir do momento que conhecemos, aperfeiçoamos nossa técnica, garantimos melhor assistência. Isso refletiu no maior número de pacientes recuperados”, explica Bruno Maia, diretor médico dos hospitais de campanha de Santo André.

Ainda segundo ele, o protocolo que se mantém no município é baseado no que deu certo no mundo e nas orientações do Ministério da Saúde. “Como não existe tratamento específico, o acompanhamento é feito por múltiplo parâmetro: sintomático, casos que tenham necessidade de antibiótico, oxigênio terapia ou fisioterapia motora”, esclarece Bruno.

O infectologista e professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Munir Akar Ayub compartilha a opinião de que o sucesso no caso das pessoas recuperadas se dá ao maior conhecimento da doença, que chegou à região em março, período que se deu início à quarentena. “Como era algo ainda desconhecido, entubar o paciente logo no início era comum, o que aumentava a taxa de infecção devido o procedimento, por exemplo. Hoje, sabemos que há medicações e tratamentos que surtem bons efeitos antes que a ventilação mecânica seja feita, sendo a última coisa no tratamento.”

Por outro lado, o professor acredita que o que pode justificar a alta letalidade são características da região. O fato de São Caetano ter população mais idosa (parcela de alto risco à doença e por isso com maior número de mortalidade) é uma delas.

“O acesso à UTI (Unidade de Terapia Intensiva) bem equipada, com equipe treinada, também faz toda a diferença no prognóstico da doença. Além disso, nas cidades onde o índice de letalidade é alto é preciso se atentar ainda mais ao isolamento, fazendo com que a curva de transmissão caia. A testagem é outro pilar: se a cidade só faz testes em casos graves ou com sintomas, a letalidade cresce”, explica médica pediatra, infectologista e professora da saúde coletiva da Faculdade de Medicina da PUC-SP Maria Carolina Pereira da Rocha.

“A doença não acaba quando o paciente vai para casa. Há o que chamamos de síndrome pós-Covid, que independe se os sintomas foram leves, moderados ou graves. A pessoa apresenta disfunções e isso leva tempo para ser normalizado, podendo durar meses”, diz o infectologista da FMABC.

As maiores queixas são dispneia (falta de ar), fadiga muscular, anosmia (perda de olfato), hipotrofismo (degeneração do funcionamento de um órgão devido à perda de células), ageusia (perda de paladar), alterações emocionais (como desenvolvimento de fobias e ansiedade). “Muitos precisam repor vitaminas para retomarem suas atividades”, conta Ayub. 

Pacientes que tiveram alta relatam problemas na saúde

Entrar para a estatística como uma das pessoas curadas da Covid-19 é sinônimo de alívio e agradecimento, mas, mesmo de volta ao lar e na presença da família, o novo coronavírus deixa suas marcas. Em julho, a esteticista Mariza Mara Jesuino Ribas, 38 anos, de Santo André, ficou longe dos dois filhos e do marido por uma semana devido a complicações do novo coronavírus.

A esteticista precisou ficar quatro dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) de um hospital particular de Santo André por causa do estado de seus pulmões. Seis meses depois, Mariza ainda faz controles médicos periodicamente devido aos rastros deixados pela doença. “Até hoje sinto um cansaço fora de normal e meus cabelos caem muito. Fui ao dermatologista, inclusive, para acompanhar e ele me disse que isso acontece muito com os pacientes da Covid. Depois da minha alta, refiz muitos exames, inclusive de imagem, para acompanhar como ficaram meus pulmões.”

Por um período a esteticista continuou tomando remédios e vitaminas. “O médico explicou que demora um tempo para que o corpo volte ao normal. É uma doença muito forte e que afeta todo o corpo.”

Antes de ela apresentar os sintomas, o marido, que trabalha no comércio, pegou a Covid, mas tratou em casa. Em dezembro, foi a vez do filho, que também trabalha no comércio, mas ambos não necessitaram de internação. Já a filha descobriu que teve contato com o coronavírus, mas não sabe dizer quando, já que ficou assintomática.

O zelador Marco Antônio da Silva, 50, nunca havia apresentado problemas na glândula da tireoide (que regula tipo de hormônio), até ser diagnosticado com a Covid-19. “A médica disse que minha tireoide ficou toda bagunçada. Descobri a disfunção em consulta depois que me curei do coronavírus. Fui encaminhado para ser acompanhado e fiz todos os exames.”

Silva se contagiou em abril no ano passado, no início da pandemia no Brasil e da quarentena determinada pelo governo do Estado. “Não precisei ser hospitalizado, mas fiquei 15 dias totalmente isolado, no quarto. Só abria a porta para pegar comida e ir ao banheiro. A sorte foi que nem minha mulher nem minha filha contraíram a doença.”

Para o zelador, o fato de lidar diariamente com muitas pessoas pode ter sido o motivo de sua infecção. “Mas também é preciso ir ao mercado. Mesmo tomando cuidados é muito fácil se contaminar.” TM

Cidades apostam em equipamentos pós-Covid para acompanhamento

Com a meta de acompanhar a saúde daqueles que se recuperaram da Covid-19, o Grande ABC dispõe de ambulatórios específicos, onde exames e consultas dão sequência aos tratamentos. Em Ribeirão Pires há ambulatório pós-Covid que funciona no SAE (Serviço de Atenção Especializada). Em São Bernardo, os pacientes são encaminhados às UBSs (Unidades Básicas de Saúde), onde passam por avaliação e, de acordo com o quadro, são encaminhados para a Policlínica Centro ou para o Centro Especializado de Reabilitação.

Em Diadema o atendimento pós-Covid funciona desde outubro. O serviço é no Centro Especializado em Reabilitação, onde a pessoa faz triagem com equipe multiprofissional (fisioterapeuta, fonoaudiólogo, psicólogo e psiquiatra). São Caetano também inaugurou em outubro o Ambulatório Municipal de Acompanhamento e Reabilitação Pós-Covid. Todos os pacientes são contatados e passam por avaliação médica.

Em Santo André o tratamento continua por meio do ambulatório de pacientes com alta da Covid, onde equipe multidisciplinar – médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros especialistas – trabalham para trazer a pessoa no nível basal de saúde.

Com problemas de falta de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva), Mauá diz que atual gestão do prefeito Marcelo Oliveira (PT) “encontrou a rede com muitos problemas sem acompanhamento dos pacientes que se curaram ou continuaram tratamento após internação. Nesse processo de reconstrução, está uma completa estruturação para fazer o acompanhamento responsável de todos os pacientes que estiveram internados por Covid-19”. TM




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