Condomínio Clube Cidade de Deus seria construído em área contaminada em projeto da Igreja Batista Água Viva
Já faz um ano que o sonho da casa própria virou pesadelo para os 200 compradores que adquiriram um apartamento no Condomínio Clube Cidade de Deus, projeto conjunto da Igreja Batista Água Viva de Mauá e da RRX Holding Participações e Investimentos Ltda. O empreendimento seria construído em área contaminada na Avenida Rio Branco, no Centro da cidade, e desde 7 de fevereiro do ano passado o MP (Ministério Público) investiga a venda irregular dos imóveis.
Não havia autorização da Prefeitura para o condomínio – apenas um alvará municipal provisório que vigorou entre novembro de 2017 e janeiro de 2019 – nem plano de descontaminação da área junto à Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). O terreno contaminado, que pertencia à igreja, foi vendido para a RRX, que criou outra empresa, o Condomínio Clube Cidade de Deus Empreendimentos Imobiliários SPE Ltda. A Rochner Empreendimentos Imobiliários Ltda ficou responsável pela corretagem.
Em outubro do ano passado, a Justiça de Mauá determinou o bloqueio dos bens das empresas Condomínio Clube Cidade de Deus, RRX Holding, Rochner, Igreja Batista Água Viva e das pessoas físicas Rodrigo Haddy Penna Guerreiro, dono da RRX; Nathalia Carolina Bertolucci da Rocha e Reinaldo da Rocha, sócios da Rochner; e José Silvio Galli e Fernando Lojudici, pastores e, respectivamente, presidente e vice-presidente da igreja. Todos tiveram os bens indisponibilizados até o valor de R$ 42 milhões. Em janeiro, a Justiça acatou recurso e desbloqueou as contas pessoais de Galli e Lojudici.
A apuração, que começou como um inquérito civil, resultou no ajuizamento de uma ação civil pública, mas as partes ainda estão sendo notificadas. Aos compradores, restou o prejuízo. Everton Pereira, 41 anos, técnico de instrumento, investiu R$ 115 mil. O irmão congregava na igreja e foi quem indicou o negócio. Paulo Martins, 42, tecnólogo mecânico, aportou R$ 35 mil na compra de uma das 608 unidades que seriam construídas – além de uma escola e a nova sede da igreja. Outros oito amigos também fizeram negócio, muitos por sua indicação.
O casal Adriano Sobral, 33, técnico de informática, e Leidiane Souza, 33, comerciante, havia se casado há um ano na Água Viva quando investiu R$ 26 mil no apartamento. “A gente nunca imaginou que haveria problemas por ser uma indicação dos pastores”, lamentou o casal. Todos integram a ação do MP. “Nossa esperança é que leiloem o terreno para pagar as compradores”, afirmou Martins.
O advogado da igreja, Luiz Aparecido Ferreira, alegou que a instituição religiosa também é vítima e ajuizou ação para rescindir a venda do terreno. Que já apresentou plano de recuperação à Cetesb, que foi acatado pela companhia e que um grupo empresarial de renome nacional realiza estudo para edificação das cinco torres. A defesa citou que o condomínio se manifestou no inquérito civil e se comprometeu a apresentar, até março de 2020, plano para devolução dos valores recebidos, e que quando houver a rescisção da venda do terreno, os compradores que ainda não tiverem sido ressarcidos poderão continuar com o negócio.
A Cetesb afirmou que o plano aprovado prevê que o empreendedor apresente relatório de execução e medidas de intervenção para obter o termo de reabilitação. O Diário não conseguiu contactar as outras partes citadas.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.