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Estudo aponta 82 locais com crianças em situação de rua

Santo André tem 29, seguido de S.Bernardo com 19, Diadema com 13, São Caetano e Mauá, com oito cada

Vanessa Fajardo
Da Sucursal de Diadema
05/06/2008 | 07:02
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O Grande ABC tem 82 locais públicos com a presença de menores em situação de rua. O levantamento foi identificado em estudo realizado pela Fundação Projeto Travessia e a Universidade Metodista de São Paulo e envolve os Conselhos de Direito da Criança e dos Adolescentes das sete cidades da região.

Entre os locais apontados, Santo André tem 29, seguido de São Bernardo com 19, Diadema com 13, São Caetano e Mauá, ambos com oito cada, Ribeirão Pires com três, e Rio Grande da Serra com dois. Os endereços não foram divulgados para não comprometer o andamento do projeto ABC Integrado que visa identificar o número de crianças e adolescentes em situação de rua e traçar uma política pública integrada.

Os números da primeira fase do projeto que se referem aos pontos onde os menores são identificados foram divulgados, ontem, no auditório da Metodista. Ainda nesta etapa inicial, haverá a contagem e o levantamento dos perfis das crianças e adolescentes, por meio de entrevistas.

Patrocinado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos e Fundação Telefônica, o ABC Integrado quer, a partir da identificação dos locais, estabelecer diretrizes políticas articuladas entre os municípios para equacionar o problema.

A parte prática, com a implementação das diretrizes e avaliação dos resultados, entrará nas duas últimas etapas do trabalho. A expectativa é de que seja concluído até setembro, antes das eleições municipais.

O juiz da Infância e Juventude de São Caetano, Eduardo Rezende Melo, lembrou que inexiste nos municípios da região diretrizes comuns para lidar com a população em situação de rua. "Nosso desafio é envolver as cidades com políticas articuladas, diálogos, aprimorar as ações para, enfim, conseguir amenizar o problema."

O professor Anderson Rafael Nascimento, coordenador executivo da Cátedra Gestão de Cidades da universidade, aposta que o projeto ABC Integrado não será mais uma pesquisa fadada a ser amontoada em uma prateleira. "Tenho certeza de que os dados se transformarão em políticas públicas e melhorarão a vida das pessoas."

Prefeituras apostam em ações regionais e integradas

As prefeituras das sete cidades da região acreditam que o problema dos menores em situação de rua só será equacionado se houver ações regionais. A diretora-técnica da Fundação Criança, em São Bernardo, Carolina do Rocio Klomfahs, disse que o município conhece todos os pontos onde há a presença de crianças e adolescentes apontados pelo levantamento.

"Temos um trabalho estruturado com o Espaço Andança que faz abordagens nas ruas e encaminha os menores aos programas. Serve também como passagem." Ela considera o ABC Integrado como uma iniciativa importante. "Principalmente porque há muito deslocamento entre os menores. O menino que está hoje em São Bernardo, amanhã poderá ser Diadema, e em outro dia em Mauá."

A Prefeitura de Santo André lembra o fácil acesso do município às cidades vizinhas, por meio da interligação das linhas de trólebus, o que permite o fluxo de crianças. A administração admitiu diz só conseguir "dar conta da situação" por meio da elaboração de uma política regional. O município mantém o programa Andrezinho Cidadão.

A Prefeitura de Diadema informou que contribuiu com os números para que fosse traçado este primeiro mapeamento do projeto, por isso conhece os locais onde há a presença de menores em situação de risco na cidade. O Executivo frisou ainda que a cidade possui o programa de recâmbio às famílias chamado Meninos e Meninas de Rua de Diadema.

As cidades de Mauá e Rio Grande da Serra não foram representadas no encontro de ontem que divulgou os primeiros números do ABC Integrado, e não se pronunciaram até o fechamento da edição. As prefeituras de Rio Grande da Serra e São Caetano do Sul também não retornaram ao pedido de informações.

Pedir dinheiro é obrigação para ajudar família

A fantasia de palhaço é o uniforme de trabalho de Jéssica (nome fictício), de 14 anos. Ela mora na Vila São Francisco, na divisa entre Diadema e São Paulo, e desde os 5 anos pede dinheiro nos semáforos. A roupa, segundo ela, ajuda a chamar mais a atenção dos motoristas que tendem a ser mais generosos nas caixinhas.

Ontem, por volta das 14h, Jéssica e outras quatro crianças estavam no semáforo do cruzamento da ruas Orense e Fábio Eduardo Ramos Esquível, no Centro de Diadema, para conseguir esmolas. Assim que aparecia o sinal vermelho, eles invadiam a faixa de pedestre fazendo malabarismo com limões e bolas de tênis, como se brincassem de trabalhar.

"Meu pai morreu cedo e eu preciso trabalhar para ajudar minha mãe a pagar as contas", diz Jéssica. Ela conta que a mãe já chegou a bater nela, obrigando-a a pedir esmola, mas hoje faz porque quer. "Eu aprendi a ter responsabilidade e sei que preciso levar dinheiro para casa."

Os irmãos Felipe, 9, e Amanda, 7, nomes fictícios, também costumam freqüentar o mesmo semáforo. "Preciso levar dinheiro para minha mãe para ela poder comprar arroz e feijão", confessa. Sua irmã Amanda não está nem matriculada na rede de ensino.

Os amigos Fernando, 10, e Daniel, 11, nomes fictícios, ajudam a engrossar o número de crianças em situação de rua em Diadema. "Na minha casa não falta nada, eu venho aqui porque quero", conta Daniel, que assim como Amanda não está na escola.

A Prefeitura de Diadema informou que possui um projeto denominado Meninos e Meninas de Rua que beneficia todas as crianças da cidade. O programa conta com seis educadores que trabalham para estabelecer vínculos de confiança com as crianças e saber onde moram. O objetivo, segundo a Prefeitura, é encontrar soluções para cada caso.




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