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Carlos Burle relembra detalhes do dia de super-herói em Portugal

Veterano fala sobre resgate dramático de Maya Gabeira e da chance de ter surfado maior onda da história

Por Renato Gerbelli
Do Diário do Grande ABC
21/04/2014 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O brasileiro multicampeão de surf, Carlos Burle, tem o dia 28 de outubro de 2013, em Nazaré (Portugal), muito vivo na memória. Afinal, aquele seria um dos mais intensos de sua vida. Em visita a São Caetano para inaugurar uma loja de roupas, o surfista falou com exclusividade ao Diário sobre os dois grandes feitos daquela data, quando resgatou a também surfista brasileira Maya Gabeira e, pouco depois, pode ter quebrado o recorde de maior onda surfada da história.

Aquele parecia um dia normal. Mas tudo mudou quando Gabeira caiu enquanto surfava uma onda de aproximadamente 20 metros de altura. A situação ficou dramática quando a brasileira desapareceu às vistas de Burle e dos demais presentes à praia de Nazaré. “Quando a Maya caiu, torci para que ela aparecesse no canal para resgatá-la, mas ela sumiu depois que outra onda quebrou nela. Nessa altura, ela já estava muito tempo embaixo da água e fui até a praia procurar a Maya. Achei a prancha e o colete salva-vidas, não a Maya. Depois, a encontrei perto das pedras e pensei que estava bem, mas só depois vi que não estava”, contou. “Tentei resgatá-la duas vezes e não consegui. Joguei a corda para ela agarrar e, no último esforço, ela segurou e logo desmaiou. Como não tinha como puxá-la para o jet ski desmaiada, tive que pular na água e brigar com a maré para tirá-la da água. Foi a situação mais intensa da minha vida”, continuou o surfista de 46 anos, que disse que o ocorrido durou entre 15 a 20 minutos.

Passado o resgate, Burle decidiu esfriar a cabeça fazendo o que mais gosta: decidiu surfar uma onda. Mas não era uma qualquer e, sim, uma gigante – segundo ele de aproximadamente 30 metros. Perguntado de como estava seu psicológico depois do que tinha acontecido com a companheira, o surfista impressionou pela frieza.

“Naquele momento eu fui super racional. Entendi que ela já estava dentro da ambulância com os paramédicos, sendo encaminhada ao hospital e não precisava mais de mim. Também tinham mais dois garotos (Felipe Cesarano e Pedro Scooby) dentro da água me esperando. Depois de dar assistência aos dois, também quis pegar uma onda e tive a felicidade de surfar aquela gigante”, comentou.

Pela onda surfada em Nazaré, Burle foi indicado ao Billabong 30º Global Big Wave Awards, evento que acontece no dia 2 e vai concorrer ao prêmio de maior onda surfada na temporada e que também pode ser a maior da história. O atual recorde pertence ao americano Garrett McNamara, que surfou uma onda de 23,77 metros, em 2011. Mas o atleta brasileiro não está muito confiante para conquistar o prêmio.

“É um evento muito político, feito por norte-americanos, julgados por norte-americanos e patrocinado por uma marca de surf norte-americana. Quando falo desse assunto, gosto de pensar que foi um dia muito especial. Saímos de uma situação crítica e todos os brasileiros surfaram a maior onda da vida”, disse.
 

Aos 46, surfista se diz perto de parar

Aos 46 anos, o surfista Carlos Burle assumiu que está perto de se aposentar das competições oficiais. Segundo ele, os casos vividos em Portugal, sobretudo o resgate de Maya Gabeira, foi um “acaso” e que ele prefere se dedicar mais aos seus projetos do que torneios e campeonatos.

“Já estou me aposentando. Não estava em Nazaré para ser o protagonista da situação, aconteceu por acaso. Estava só treinando os outros brasileiros (Felipe Cesarano, Pedro Scooby e Maya Gabeira) naquele mar. Sou um cara que desenvolve projetos. Minha relação de surfista competidor está sendo cada vez menos exigida pelos meus patrocinadores e pela minha postura também”, admitiu Burle.

“Neste ano não tenho vontade de competir o circuito mundial, pois demanda muita agenda. As ondas não acontecem quando você quer. Tenho de ficar de dois a três meses em função daquela janela e isso pode prejudicar meus outros projetos. E falar ‘não’ ao circuito mundial para me dedicar mais aos projetos e treinar as novas gerações já é um bom passo para quem quer se aposentar”, completou Burle.

Os projetos aos quais o surfista se dedica atualmente têm relação, mas na prática são fora do esporte. “Adoro fazer meus projetos. Acho que a vida sem desafios não tem graça e fazer palestras, por exemplo, é um desafio para mudar a imagem do esporte e levar o surf para o meio empresarial. Também tenho outros negócios fora e dentro do surf para tocar”, declarou.

Com essa visão, o lado empresário de Burle também pode explorar o mercado do Grande ABC. “Nunca tinha vindo para São Caetano e achei muito legal a cidade, adorei o lugar. Não limito meus sonhos. Com certeza posso expandir meus negócios ou projetos sociais para a região do Grande ABC”, concluiu.
 




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