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Ivone acredita que Celso foi vítima de crime comum
Regiane Soares
Do Diário do Grande ABC
19/01/2003 | 14:00
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A socióloga Ivone Santana ainda não se conformou com a morte do homem com quem conviveu por mais de seis anos e dividia suas tristezas e alegrias. O assassinato do prefeito Celso Daniel (PT) é um fato difícil para qualquer cidadão comum assimilar. Mas, passados 12 meses, Ivone encontrou forças para acreditar que seu companheiro foi vítima de um crime comum. Segundo ela, não há evidências que comprovem qualquer intenção política. Na avaliação da socióloga, não há relação entre o assassinato de seu namorado e as denúncias de corrupção que envolvem a Prefeitura de Santo André.

Apesar do brutal assassinato e do sentimento de vazio que a morte de Celso deixou, Ivone garante que não há outra história para acreditar. “Eu quero sobreviver e criar meus filhos. Foi esta a decisão que tomei: trabalhar em cima dos depoimentos que foram feitos. Eu não quero enlouquecer”, afirmou.

Para Ivone, o fato de não morar na mesma casa que Celso não significa que ela não sabia o que se passava com a vida particular do prefeito. “Convivia com ele 24 horas por dia. Vivíamos como um casal e não tinha como não saber o que se passava com ele. Se tivesse acontecido algo, eu saberia porque também fazia parte do grupo político do Celso”, disse.

Um dos fatores que motivou a socióloga a acreditar na versão apresentada pela polícia sobre o caso foi a falta de provas. Segundo Ivone, se as denúncias de corrupção na Prefeitura tivessem fundamento, as provas teriam aparecido e os culpados, punidos. “Se existe esse esquema de propina, tem de ser apurado. Mas acredito que foi uma leviandade da forma como tudo foi conduzido”.

Além das denúncias que envolveram a administração e a possível relação com a morte do prefeito, Ivone teve ainda de enfrentar um câncer na tireóide e a ausência da filha Liora (fruto de seu casamento com Michel Mindrisz), que ficou 11 meses na Alemanha. Porém, a falta do companheiro foi o que mais fez a socióloga sofrer no primeiro ano sem Celso Daniel. “No início foi muito difícil ir ao cinema e freqüentar os mesmos restaurantes que íamos juntos. Não sei como sobrevivi”, afirmou Ivone.

Sobre a família do prefeito assassinado, Ivone lembrou que o próprio Celso não mantinha relacionamento com os irmãos, apenas com a mãe, Maria Clélia. A falta de contato de Ivone com a família faz com que ela tenha poucas informações sobre o processo que definirá o destino dos bens deixados pelo namorado. Isto porque a inventariante é a mãe. Já sobre a ação que entrou na Vara Familiar no Fórum de Santo André, Ivone faz suspense: “Está sob segredo de Justiça. Não posso comentar nada”.

Inconformada com a morte do namorado, Ivone ia toda semana ao cemitério visitar o túmulo do Celso. Hoje, apesar de ainda não estar certa do que aconteceu, a socióloga vai de duas a três vezes por mês. “Foi muito difícil aceitar a morte dele, talvez porque eu queria que aquilo nunca tivesse acontecido. Então, vou ao cemitério e levo flores”.

A indignação fez com que Ivone declarasse, há um ano, que não deixaria o caso cair no esquecimento. Um ano depois da morte e seis meses sem grandes novidades sobre o crime, a socióloga disse que notícias no jornal não significam que o assunto se esgotou. “Disse aquilo, mas hoje refiro-me à memória do Celso que quero preservar”.

Ivone também teve dificuldades para dar continuidade ao trabalho que realiza na Escola de Governo, uma organização não-governamental idealizada por Celso Daniel que faz estudos e propostas para a administração pública. O prefeito assassinado lecionava em um dos cursos da Escola e a continuidade ao programa foi prejudicada no ano passado.

Ela lamentou o fato de o prefeito não estar presente para comemorar a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e contribuir ainda mais com o governo federal. “Ainda está para nascer o homem com a capacidade intelectual que o Celso tinha”, disse, ao lembrar que o namorado acreditava na chegada do PT ao Palácio do Planalto. “Ele dizia que desta vez a briga ia ser boa porque o Lula estava no ponto”.

Segundo Ivone, o prefeito já deixou sua marca porque foi ele quem elaborou as diretrizes do programa de governo do Lula.




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