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Serginho ganha instituto em Minas Gerais
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24/10/2005 | 08:35
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Faz um ano que o zagueiro Serginho morreu, vítima de ataque cardíaco em campo, quando defendia o São Caetano numa partida contra o São Paulo, pelo Brasileiro de 2004. A tragédia chocou o país, sobretudo porque ela aconteceu ao vivo. O jogo – de 27 de outubro – era transmitido pelas emissoras de TV. Doze meses depois, Serginho, um jogador de pouca expressão no cenário nacional, virou nome de Instituto para crianças carentes na cidade mineira de Coronel Fabriciano, onde ele foi enterrado a pedido da própria família.

O Instituto Serginho nasceu da iniciativa da viúva Helaine Cristina de Castro Cunha Nunes Cecílio, que levou a cabo o último desejo do marido – um sujeito que passou dificuldades na infância e que sobreviveu graças ao futebol. Dia 12, quando Serginho completaria 31 anos, a entidade abriu suas portas pela primeira vez. Recebeu mais de 2 mil crianças numa festa. "Estou feliz porque o projeto saiu do papel. Foi uma festa linda, que o Serginho certamente gostaria de ter participado", diz Helaine, que pensa em levar, em breve, a iniciativa para São Caetano.

Ela busca patrocinadores. Pouco tempo atrás, esbarrou na mulher do prefeito num salão de beleza. Conversaram e do encontro fortuito nasceu a promessa de ajuda da Prefeitura de São Caetano. Helaine ficou animada. "Em Coronel Fabriciano, vamos atender 900 crianças. Elas estarão envolvidas inicialmente com futebol, basquete e caratê. Brincam e ganham lanche. Com o tempo, teremos ainda cursos profissionalizantes e artesanato".

Esta é a parte bonita da tragédia ocorrida com o jogador Serginho há um ano. Existe outra: a dos inquéritos, processos e investigações dos possíveis responsáveis pela morte do jogador. O então presidente do Azulão, Nairo Ferreira de Souza, e o médico do Departamento de Futebol do clube, Paulo Donizetti Forte, são acusados na Justiça de homicídio doloso (crime com a intenção de matar), com pena de até 30 anos.

Foi o promotor público Rogério Leão Zagallo quem fez a denúncia ao juiz Cassiano Ricardo Zorzi Rocha, do 5º Tribunal do Júri de São Paulo. O processo corre em segredo de justiça – proibido para consultas públicas. Nairo e Forte foram ouvidos em julho. Mantiveram a versão de que não sabiam dos riscos de morte do zagueiro.

A quantidade de audiências na cidade faz a ação caminhar a passos de tartaruga. Estima-se que no fim de 2006 o juiz possa tomar sua decisão, de remeter ou não o caso a júri popular. Nesta segunda-feira, a ação contra os ex-representantes do São Caetano ouve testemunhas dos dois lados. Na última quinta, ouviu duas indicadas pela acusação, uma delas o fisiologista do Incor, Guilherme Veiga de Guimarães, que confirmou ter avisado Forte da gravidade do caso.

Até agora, apenas o Superior Tribunal de Justiça Desportiva condenou os dois representantes do clube. O presidente Nairo pegou gancho de dois anos. O médico Paulo Forte, de quatro. Desconfia-se que Nairo segue mandando no São Caetano, apenas não assina a papelada oficial. Recentemente, ele foi visto no treino dando bronca no elenco por conta da má fase no Nacional.

"O Nairo trabalha na prefeitura de São Caetano do Sul. Ele é economista e está lá há uns 15 anos", disse seu advogado, Luiz Fernando Pacheco.

Forte, segundo pessoas ligadas ao São Caetano, andou freqüentando os treinos do time após a punição imposta pelo STJD. Aos poucos, foi rompendo o vínculo físico. Aparece pouco. Mantém atividade em sua clínica. Nunca acusou o clube. O médico sofre ainda uma sindicância no Conselho Regional de Medicina de São Paulo.

A viúva Helaine Cristina e seu filho Paulo Sérgio, de quatro anos, são sustentados pelo contrato de trabalho de Serginho com o São Caetano. Ela recebe R$ 60 mil mensais – dinheiro a que ele teria direito caso estivesse defendendo as cores do time. Guarda a maior parte. O cumprimento do contrato foi decisão tomada pelo próprio presidente Nairo Ferreira antes de ser afastado pelo STJD.

Prorrogação – A dois meses de encerrar o contrato de Serginho, o São Caetano esticou o vínculo por mais dois meses, até fevereiro. São 120 mil a mais para sua família. "O clube resolveu pagar esse prazo a mais. Mas sei que em fevereiro isso acaba e terei de andar com as próprias pernas", disse Helaine, de 29 anos.

A saudade de Serginho é a mesma de um ano atrás. Para ela, parece que tudo aconteceu há 12 dias e não há 12 meses. "Mas não choro mais todos os dias. O Paulo Sérgio também está bem melhor. Sente falta do pai, mas já voltou a jogar futebol na escolinha e leva vida normal."

O Instituto Serginho tem ocupado a maior parte do tempo de Helaine. Para sobreviver a partir de fevereiro, ela pensa em retomar a profissão de vendedora. "Sempre trabalhei com o meu pai vendendo roupas", conta.

Sobre o processo judicial contra Nairo e Forte, Helaine Cristina diz ficar o mais distante possível. "Não fico sabendo quase nada do que está ocorrendo. Quero manter distância", comenta.

Ela mantém, entretanto, a idéia de que Nairo e Forte não sabiam da gravidade do problema cardíaco de Serginho. "Eles não sabiam de nada. Nem o Serginho sabia da gravidade do seu problema. A informação que chegou até nós foi de que seu coração tinha apenas 1% de chance de apresentar problemas mais sérios. Não levamos isso em consideração."




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