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Clécio, ex-Ramalhão, migra para o coaching

Com formações internacionais, ex-jogador tem como principal público justamente atletas

Por Dérek Bittencourt
Diário do Grande ABC
10/01/2021 | 07:00
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Divulgação


A carreira de um jogador de futebol tem muitos motivos para chegar ao fim. Idade, lesão e falta de oportunidade são alguns deles. Mas o ex-meia do Santo André, Clécio Pereira, atualmente com 28 anos, decidiu largar a carreira há duas temporadas, enquanto vestia a camisa do Sport Lisboa e Cartaxo, de Portugal, para se dedicar a uma nova empreitada, como coach e, em seu caso particular, com foco em fortalecer mentalmente e orientar justamente atletas. Com formações pela ICC (Internacional Coaching Community) e pela Premium Coach, ele é especializado em gestão de crise e estresse, e atende tanto presencialmente em solo português, país onde fincou residência, como virtualmente, inclusive com clientes no Brasil.
 

“Comecei uma carreira comum como jogador de futebol. Desde criança identifiquei que tinha aquele talento, tive jornada de quase dez anos como profissional, não obtive grandes conquistas materiais, mas enorme trunfo foi a capacidade mental que desenvolvi. Sempre tive essa sensibilidade de compreender o que se passava na mente e no coração do atleta”, explica. “Tenho também experiência de mais de dez anos com o desenvolvimento de pessoas dentro de igrejas e comunidades, e tudo cooperou para que este outro talento fortalecesse”, emenda o ex-jogador, que também é formado em teologia.
 

Clécio explica que a transição de carreira foi muito natural. “Como atleta, pensava em me aposentar após os 35 anos. Entretanto, a vida nos prega surpresas. Depois de algum tempo na Europa esse meu outro talento, de trabalhar com pessoas, começou a fazer mais sentido para mim. Então passei a visualizar carreira mais perpétua, segura, dentro do desenvolvimento pessoal. Logo, encerrei o ciclo de jogador, de forma muito satisfatória, e iniciei outro. Compreendi que minha jornada depois do Clécio atleta, era a do Clécio que treinaria mentalmente as pessoas e, de forma específica, atletas profissionais”, conta. “Acima de tudo, o ser humano é uma máquina dotada de dons e talentos. Mas cabe a você identificar, emergir dentro de si para identificá-los e, consequentemente, viver em função deles para que tenha paz e satisfação na carreira.”
 

Natural de Timbaúba, cidade com pouco mais de 50 mil habitantes na Zona da Mata de Pernambuco, Clécio fez toda a base no Náutico-PE. Aos 19 anos, se deparou com uma mudança para São Paulo e a pressão por resultados ao ser contratado pelo Ramalhão, que vivia fase turbulenta no início dos anos 2010. Segundo ele, seu destino como jogador poderia ter sido outro se, nesta fase, tivesse um coach em sua vida – inclusive, muitos atletas, como o astro português Cristiano Ronaldo, recorrem a este tipo de profissional e serviço. “Fui desassistido no início da minha jornada. Se tivesse acompanhamento como esse quando tinha 16, 17, 18 anos, quando estava vivendo muitas coisas desconhecidas, com certeza meus resultados seriam outros”, relembra.
 

O atleta veio de cidade humildade, onde seguir na profissão era loucura. “Despontei de forma rápida. Tive bom início, joguei seis anos no Náutico, fui para o Santo André em época boa, logo depois da Primeira Divisão e final contra o Santos, então aos 18, 19 anos, tinha muita cobrança em cima, críticas, distância, muito tempo fora de casa. Como vim de meio totalmente distante disso, não tinha segurança, para onde correr. Então enfrentei tudo aquilo nu, virgem emocionalmente falando. Senti muita dificuldade. Tudo que vinha na mentalidade tinha impacto tremendo. Logo, minha dor do passado é a mesma de muitos atletas hoje. Mas agora tenho os remédios. O que me fez mergulhar na mente do atletas foi porque tive esse feedback de dez anos como atleta. Então, além de ser totalmente equipado a nível de ferramentas e treinamento mental, compreendo o que passa no coração e cabeça do atleta profissional. Isso me dá 20 passos à frente, gera aquela empatia automaticamente, nossa linguagem é a mesma”, afirma.
 

Segundo Clécio, esportistas o procuram pelos mais variados motivos. “Tem atletas travados com experiências negativas do passado, outros com autoconfiança em baixa, outros que perderam a alegria em praticar aquilo por estar sempre envolvido em críticas, opressão, pressão, e a gente promove o retorno da satisfação. Então os resultados são diários, constantes e fantásticos”, garante ele, que contabiliza mais de 300 esportistas (homens e mulheres das mais variadas idades) treinados no mundo.

PERFIL - Para quem conviveu com Clécio durante a carreira de jogador, a mudança de vida não surpreendeu. “Ele já tinha esse dom, essa qualidade de se expressar bem. Acabou se atualizando, estudando e se aperfeiçoando. No futebol, sendo capitão ou não, trazia palavras e frases de motivação de alto nível, aumentando a concentração”, conta o zagueiro Sandoval, ex-companheiro de Ramalhão, atualmente na Ferroviária.
 

Após dois anos e meio no Santo André, Clécio passou por Portuguesa, Grêmio Mauaense e Independente de Limeira, até seguir para o Oriente Médio, onde defendeu o Shabab Al Ordon, antes de rumar ao Sport Lisboa e Cartaxo. Atualmente, o meia ainda joga pela equipe, que disputa competições amadoras e conta com jogadores aposentados. Ele mantém a bola como hobby. “É importante, senão ficamos loucos”, brinca.




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