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Arquivos climáticos de 420 mil anos sao retirados dos gelos antárticos
Por Do Diário do Grande ABC
03/06/1999 | 10:41
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A taxa de gases de efeito estufa contidos na atmosfera atual nao tem antecedentes na evoluçao do clima terrestre em 420 mil anos, segundo um estudo internacional baseado nos ``arquivos climáticos' dos gelos antárticos e publicado esta quinta-feira na revista científica britânica Nature.

Este estudo é o resultado da cooperaçao entre Rússia, França e Estados Unidos na base antártica de Vostok, onde no ano passado se conseguiu perfurar o gelo até uma profundidade recorde de 3.623 metros, o que corresponde a uma camada de 420 mil anos de antiguidade.

O trabalho foi realizado por 19 cientistas dos três países. ``Trata-se antes de tudo de uma grande conquista técnica', assinalou Jean-Robert Petit, do laboratório francês de glaciologia e geofísica do meio ambiente do CNRS (Centro nacional francês de investigaçoes científicas), principal autor deste trabalho, ao comentar o artigo de Nature.

``Com efeito, este recorde foi conseguido em pleno centro da colina antártica, a 3.488 metros de altura, onde a temperatura média é de 55 graus abaixo de zero', explicou Petit.

Essa perfuraçao ``nos permitiu obter pela primeira vez um registro contínuo de um período tao longo das taxas de gás de efeito estufa (dióxido de carbono, metano...), mas também de aerossóis, com partículas de origem desértica ou marinha, assim como indicaçoes sobre o oxigênio do ar e as temperaturas no momento da glaciaçao', precisou o cientista.

Esses dados sobre o gás de efeito estufa sao obtidos a partir das bolhas de ar que somente o gelo é capaz de conservar e de restituir intactas aos cientistas, permitindo-lhes analisar a evoluçao do clima e do meio ambiente terrestre durante milênios. A taxa de gases de efeito estufa é mais importante quando a temperatura aumenta e diminui nos períodos mais frios.

Na década de 80, graças à cooperaçao com a URSS, os pesquisadores franceses puderam comprovar a estreita correlaçao entre temperatura e a quantidade desses gases durante os últimos 100 mil anos.

As flutuaçoes, devidas a fenômenos que ainda nao foram bem compreendidos (talvez mudanças da órbita terrestre em torno do Sol), fazem com que essa evoluçao cumpra ciclos, que em Vostok se manifestaram por temperaturas médias inferiores às atuais durante os períodos glaciares (-67ºC) e superiores durante os períodos integlaciares (-53ºC).

Esses ciclos permaneceram praticamente imutáveis. A estabilidade das temperaturas durante o último período integlaciar que é o nosso (holoceno) tiveram repercussoes importantes sobre a evoluçao e o desenvolvimento das civilizaçoes, consideram os autores do estudo.

Tudo mudou em data recente: ao começar a era industrial, há 200 anos.

O veredicto dos arquivos de gelo de Vostok nao admite apelaçao. Hoje, os níveis de 360 partes por milhao (ppm) para o dióxido de carbono e de 1.700 ppm para o metano sao respectivamente superiores em 30% e em 100% às da época pré-industrial. Isto confirma, como muitos temem, que o clima terrestre está esquentando.

``O objetivo de nosso estudo era conhecer a evoluçao do clima no passado e nao fazer previsoes para o futuro. Entretanto, a lógica dos acontecimentos parece avançar efetivamente nesse sentido', lembrou Petit.




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