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Considerado 'elefante branco', Tangará não será tombado
Elaine Granconato
Do Diário do Grande ABC
05/06/2004 | 20:19
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O Cine Tangará assistiu aquela que pode ser a sua última cena. O prefeito de Santo André, João Avamileno, decidiu que o prédio na região central da cidade não será mais tombado como patrimônio histórico e cultural do município.

A decisão demorou quase três anos para ser oficializada. Familiares do falecido André Magini, dono do terreno que em 1950 se transformaria em uma das salas de cinema de rua mais tradicionais do Grande ABC, agora estudam a possibilidade de entrar com uma ação de indenização contra a administração por perdas e danos nesse período.

Construído em 1948 e inaugurado dois anos depois, o Cine Tangará foi a maior sala da cidade, com 2,6 mil lugares. A platéia tinha 1,6 mil cadeiras e o pullmann, um andar superior, mil.

No antigo pullmann hoje funciona a sala de projeção do Tangará 2, que exibe filmes pornográficos. O prédio da rua Coronel Oliveira Lima, 54, que entre os anos 50 e 80 reunia milhares de espectadores em frente de sua enorme tela, transformou-se em um escuro estacionamento particular de carros.

As boas lembranças do cinema não foram suficientes para o prefeito tombar o prédio. Foi no Cine Tangará que ele começou a namorar Ana Maria, hoje primeira-dama da cidade. Em entrevista ao Diário em abril, o prefeito recordou até a data: 20 de abril de 1964. E contou detalhes: o encontro aconteceu numa segunda-feira, na sessão das 19h, que exibia o filme Lawrence da Arábia, épico inglês de 1962. O prefeito disse ainda que, particularmente, era favorável ao tombamento, mas dependia de uma análise com a equipe de governo.

Para o secretário de Desenvolvimento Urbano de Santo André, Irineu Bagnariolli Júnior, o imóvel não tinha nenhuma característica arquitetônica importante ou específica para merecer tombamento. “A cidade guarda com relação ao antigo cinema uma memória afetiva. Do cinema de rua que se transformava em ponto de encontro. Nada mais do que isso”, afirmou Bagnariolli Júnior. O mesmo parecer é do secretário de Cultura, Acilino Belissomi.

Bagnariolli Júnior ressaltou ainda que o atual prédio do ex-Cine Tangará não tem nada único, especial ou diferenciado. “É o chamado elefante branco no meio da cidade”, afirmou. Para ele, o local não seria indicado como ponto cultural. “Estaria fadado a uma degradação, a começar pelo baixo índice de revitalização da área onde está centrado o antigo cinema.”

“Um imóvel tombado é um imóvel marcado. Você é dono, mas não é”, desabafou o dentista Fábio Peake, de Santo André, um dos netos de André Magini. Peake foi além. “Faz mais de dois anos que estava nessa enrolação: tomba ou não tomba. Ficamos aguardando pela decisão do Poder Executivo, sem poder mexer no imóvel. Vou discutir com o restante da família de entrar com uma ação de indenização contra a administração por esse tempo perdido”, afirmou. A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que não se manifestaria até receber o comunicado oficial da família sobre uma eventual ação.

Em novembro de 2002, o Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico-Urbanístico e Paisagístico de Santo André tombou, provisoriamente, a área de cerca de 5 mil m². Os herdeiros do imóvel não concordaram e entraram com recurso para evitar o tombamento definitivo. Com o veto de Avamileno, o processo administrativo foi arquivado. “Agora somos realmente os donos”, reforçou Peake, deixando evidente que aguarda por novos compradores do antigo imóvel da Coronel Oliveira Lima, 54.




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