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Santo André traça perfil dos 880 índios que vivem na cidade
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
24/04/2006 | 08:24
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A Prefeitura de Santo André vai traçar o perfil dos indígenas que vivem na cidade; o estudo servirá de base para a criação de programas que atendam às necessidades específicas das comunidades. No Grande ABC são 3,8 mil indígenas, minorias étnicas invisíveis no meio urbano, mas que carecem de ações nas áreas de cultura, educação e saúde.

O trabalho está sendo realizado pelo Núcleo de Políticas de Gênero, Geração, Raça e Pessoas com Deficiência. A responsável pela pesquisa, a pediatra Noêmia Gil, diz que o diálogo com os indígenas de Santo André está ainda no começo, mas os contatos iniciais mostraram que o primeiro passo é incentivar a auto-declaração. “Muitos índios e descendentes não assumem a raça. Têm vergonha de dizer que são indígenas e sofrer preconceito. No sistema de saúde, por exemplo, se declaram nordestinos na hora em que fazem o cadastro. E omitem a ascendência”, conta a pediatra.

Nenhuma das cidades da região têm ações voltadas às comunidades indígenas e os programas se limitam a exposições e atividades no mês do índio, abril. Noêmia Gil afirma que a Prefeitura vai desenvolver políticas específicas com o estudo.

Em Santo André vivem cerca de 880 índios, de 11 etnias diferentes. Na região, ao todo, são 20; guaranis, pankararus, kaiovás e pataxós são em maior número. Um dos coordenadores do Projeto Índios Urbanos, da ONG Opção Brasil, Marcos Aguiar, afirma que na Grande São Paulo só há três aldeias indígenas, todas garanis. Os demais índios vivem nas cidades; a maioria na periferia e é pobre. Mas a pior exclusão, explica, é a cultural. “Ser indígena é essência e não muda com o fato de ele sair da tribo. O brasileiro que vai morar nos Estados Unidos não deixa de ser brasileiro. O problema é que na cidade ele perde a identidade porque não tem espaço para assumir sua cultura.”

Aguiar defende uma reformulação no sistema educacional que permita ao índio aparecer não só como a figura histórica, que vive seminu na mata. “Tem que mostrar a riqueza dos hábitos, os valores. E, principalmente, como os descendentes carregam essa herança. É comum nas escolas um aluno indígena passar desapercebido. E quando ele conta que é índio, ninguém acredita. É isso que precisamos mudar”, conclui.

Pankararus – Mauá é onde há mais concentração de índios pankaraus. Cerca de 35 famílias  moram em bairros periféricos da cidade. É o caso da família de Barbara Matozo, 24 anos, do Jardim Sônia Maria. Ela nasceu em Mauá. A família veio na década de 1960 da Aldeia dos Padres, em Pernambuco, origem da etnia. Barbara é uma universitária esclarecida e assume a sua condição indígena. Mas reclama da falta de políticas aos índios. “Aqui não temos espaço para a nossa cultura. Não conseguimos cultuar nossa crença. Todos anos vamos a tribo e passamos um mês lá. É lá que nos sentimos em casa”, diz a moça.



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