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Box traz filmes que retratam Almodóvar
Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
14/10/2003 | 19:25
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Há uma cena no drama Tudo Sobre Minha Mãe, de Pedro Almodóvar, em que os protagonistas – mãe e filho – assistem o filme A Malvada, com Bette Davis. O jovem pergunta porque não foi mantido o título original, All About Eve. Segundo a mãe, porque Tudo Sobre Eva soaria estranho ao ouvido do espectador. Com essa sutileza – e com referência cinematográfica –, Almodóvar justifica o nome de uma de suas obras-primas. O filme fala justamente de um adolescente que sonha em ser escritor e relata, em seus diários, a admiração pela mãe.

Essa é uma das passagens que mostra que o espanhol é, antes de cineasta formidável, um apaixonado pelo cinema e pelas expressões artísticas em geral. Seja o teatro (Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, em Tudo Sobre Minha Mãe), a dança (um balé de Pina Bausch em Fale com Ela) ou a música (uma interpretação de Caetano de Cucurrucucu Paloma no mesmo Fale com Ela), a arte está sempre presente em seus trabalhos. Por isso, um filme de Almodóvar é sempre mais que uma seqüência de imagens – é um espetáculo visual de cores, sons, sabores e sentimentos à flor da pele.

Almodóvar iniciou uma fase de mestre com o maravilhoso Carne Trêmula (1997), um filme tenso e sensual, sobre uma noite que muda o destino de três pessoas: um entregador de pizza, um policial e uma prostituta. Este, além de Fale com Ela (2002) e Tudo Sobre Minha Mãe (1999), mais o comentado Ata-me (1990), com Antonio Banderas, e o divertido Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), indicado ao Oscar de filme estrangeiro, formam o box de DVDs dedicado ao diretor e lançado pela Fox Home Entertainment. O preço sugerido ao consumidor é de R$ 145, mas os filmes são vendidos em separado a R$ 34,90 e R$ 39,90.

São os filmes mais importantes de Almodóvar, mas isso não quer dizer que ele não mereça uma segunda caixa com títulos que antecederam sua indicação ao Oscar, como o obscuro Maus Hábitos (1983), o violento O Matador (1986) e o caliente A Lei do Desejo (1987).

O box de Almodóvar é uma edição para colecionadores. Dos DVDs, o único que traz alguma novidade em extras é o de Fale com Ela, com cenas de bastidores e entrevistas. Um dos ícones interessantes é o de Amante Menguante, filmete inspirado no cinema mudo que acontece dentro de Fale com Ela.

Nas cenas de bastidores, Geraldine Chaplin, filha de Charles Chaplin, aparece na academia de balé, onde leciona para a personagem Alicia (Leonor Watling). Caetano Veloso também dá o ar de sua graça e brinca com Almodóvar. Os mais atentos poderão achar Paula Lavigne, mulher do cantor baiano, circulando entre os figurantes.

Os extras de Fale com Ela não têm legendas e o som é baixo, o que dificulta a compreensão. Almodóvar, no entanto, é tão didático ao dirigir que se faz entender por qualquer espectador. Ele gesticula, anda de um lado para outro, conversa com os atores ao pé do ouvido e faz caras e bocas. Um prato cheio para quem gosta de making of.

Fale com Ela, como o próprio diretor define, “é um filme sobre a comunicação e a incomunicação, mas também sobre a solidariedade”. Fala sobre o enfermeiro Benigno (Javier Cámara), um homem apaixonado por sua paciente, a jovem bailarina Alicia, em coma há quatro anos. Almodóvar já confessou certa vez que escreveu o roteiro – vencedor do Oscar desse ano – inspirado no comediante italiano Roberto Benigni: “É um personagem extravagante. Para um psiquiatra ele seria um psicopata, para um juiz, culpado. Para mim é um amigo que teoriza a comunicação entre os seres humanos. E não o condeno”. A forma peculiar de encarar a vida é típica de alguém sensível e genial como Almodóvar.




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