Setecidades Titulo Álcool e direção
Recusa por teste do bafômetro tem alta de 61% na região

Para evitar produzir provas contra si, motorista rejeita exame, criado para flagrar condutores alcoolizados

Por Daniel Macário
Diário do Grande ABC
26/02/2018 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Na tentativa de não produzir provas contra si, motorista tem recusado cada vez mais passar pelo teste do bafômetro durante blitze da Lei Seca na região. Segundo balanço da Polícia Militar, o índice de rejeição ao exame aumentou 61,04% em 2017, quando comparado com o ano anterior. No período, o número de casos registrados no Grande ABC passou de 77 para 124.

Disseminada entre condutores que tentam burlar a fiscalização policial, a recusa ao teste, segundo especialistas, tornou-se álibi fácil para motoristas com alto teor alcoólico no organismo e que buscam fugir da prisão em flagrante.

“Essa brecha na lei acaba beneficiando diretamente o motorista bêbado que, durante a blitz, recusa fazer o teste para não ser preso. Até porque um condutor em plena consciência não teria problema algum em fazer o bafômetro”, avalia o chefe do departamento de medicina de tráfego da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Dirceu Rodrigues Alves Júnior.

Segundo determina o CTB (Código de Trânsito Brasileiro), se um condutor alcoolizado for parado em uma blitz da PM e for flagrado com mais de 0,34 mg de álcool por litro de ar expelido (equivalente a uma lata de cerveja de 350 mililitros), estará sujeito à detenção de seis meses a três anos, além de ser multado em R$ 2.934,70 e ter sua CNH retida. Porém, se o mesmo condutor bêbado recusar a fazer o teste, arcará com todas as punições anteriores, mas estará livre da prisão em flagrante.

Para especialistas, a mudança nessa cultura de fuga do teste do bafômetro passa necessariamente pelo endurecimento da legislação para quem utiliza essa brecha.“Enquanto não houver punição mais rígida ao condutor que recusar fazer o teste, assim como já ocorre em outros países, os motoristas vão continuar burlando o sistema”, afirma o ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel da PM José Vicente da Silva Filho.

Embora a lei dê aos policiais, em casos de recusa ao teste, o poder de determinar se um motorista bebeu ao observar detalhes no comportamento – neste caso o condutor é levado a delegacia e é liberado ao pagar fiança –, especialistas criticam a ineficiência da Lei Seca. “Prova disso é o índice pequeno de pessoas presas”, declara o engenheiro de tráfego e especialista em trânsito Humberto Pullin.

Na região, por exemplo, no ano passado o número de prisões por embriaguez ao volante apresentou queda de 1,94% (passou de 258 para 253). “O resultado disso é o aumento das mortes no trânsito, que hoje mata mais do que os homicídios”, enfatiza Pullin.

No ano passado, o número de óbitos no trânsito da região aumentou 18,72% – passou de 203 para 241 casos –. em comparação ao mesmo período de 2016, conforme o Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo).

MAIOR RIGOR - Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), a Polícia Militar “tem realizado diariamente fiscalização por meio da Operação Direção Segura, com pontos de bloqueio criteriosamente escolhidos para coibir este tipo de infrações”. Como resultado deste trabalho, em 2017, o número de testes do bafômetro aplicados aumentou 112,44%.

O índice, no entanto, ainda é considerado tímido por especialistas. “Temos pouco efetivo nas ruas, além disso, raramente você vê uma blitz. Quando tem é durante o dia ou em ponto pouco movimentado”, ressalta Dirceu Rodrigues Alves Júnior.

Embriaguez reduz reação do condutor

De acordo com o chefe do departamento de medicina de tráfego da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Dirceu Rodrigues Alves Júnior, a embriaguez de motoristas ao volante reduz de forma significativa o poder de reação de condutores em situação de risco no trânsito.

Segundo o especialista, ao beber uma única lata de cerveja (350 ml), o motorista já tem diminuição da capacidade de concentração, perda de memória a curto prazo, além de redução da percepção de risco ao volante. “Na necessidade de realizar freada de urgência, o tempo de reação dele será de 1,75 segundo, enquanto um motorista não alcoolizado reagirá em menos de um segundo, o que pode significar salvar sua vida”, avalia.

O alto teor de álcool, segundo o especialista, também pode provocar diminuição na visão e audição do motorista. “O grande erro dos condutores é achar que conseguem dirigir dessa forma sem provocar acidente, o que é uma ilusão.” 




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