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PPS assusta os partidos de esquerda
Por José Afonso Primo
Colunista do Diário
02/10/1999 | 19:03
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O PPS (Partido Popular Socialista) está ameaçando a hegemonia eleitoral do PT, a legenda de esquerda melhor estruturada do país. Sustentado pelos altos índices de popularidade do ex-ministro Ciro Gomes nas pesquisas, o partido avança dentro do eleitorado petista, aproveitando o número cada vez maior de eleitores insatisfeitos com o governo Fernando Henrique Cardoso.

Disposto a superar o antigo Partidao, que sobreviveu muitos anos em virtude de sua força ideológica, mas nunca foi bom de voto, nem nos tempos em que elegeu o senador Luiz Carlos Prestes, o PPS se apresenta como a grande novidade da política brasileira.

Somente no ano que vem, o PPS começará a dar respostas às expectativas sobre seu futuro no quadro partidário do país, mas já existem indicadores de que ele vai dar muito trabalho às legendas de esquerda. Foi o partido que mais cresceu, com vistas às eleiçoes municipais de 2000, especialmente no Grande ABC, e tende a se agigantar até a disputa presidencial de 2002 por causa da popularidade de Ciro Gomes.

Nao é por outra razao que dirigentes petistas como o deputado federal José Dirceu o acusam de estar se preparando para uma aliança de centro-direita com o PSDB do presidente Fernando Henrique Cardoso e do governador Mário Covas.

O temor é justificável porque o PPS pode se tornar o estuário da insatisfaçao popular contra o governo FHC, beneficiado pelo medo atávico que a classe média tem do chamado radicalismo petista. Entrando no vácuo deixado pelo PSDB, que perde suas bandeiras sociais-democratas porque nao consegue dar resposta ao desemprego e a outras questoes cruciais para o país, o partido avança com um discurso propositivo e questiona o PT pelo seu lado negativista. Apresenta-se como a opçao de centro-esquerda usando a liderança forte de Ciro Gomes.

O PT nasceu no meio sindical, mas nao teria a expressao político-eleitoral que tem hoje sem a presença de Luiz Inácio Lula da Silva. Mas o partido dá sinais de envelhecimento, sem que tenha conseguido chegar à Presidência da República, e cansa até mesmo seu eleitorado mais fiel, que já começa a desconfiar da sua capacidade de alcançar o poder. Já nao tem aquela militância aguerrida de antes e ainda nao conseguiu sensibilizar inteiramente os setores desorganizados da sociedade brasileira. Sem contar que a pecha do radicalismo impede a sua penetraçao na classe média insatisfeita.

O PPS entra por aí, esgueirando pela centro-esquerda, para nao se confundir com o esquerdismo petista, e nao ser absorvido pelo conservadorismo que desagrada até mesmo alguns setores da direita, irritados com o fracasso da aliança governista, formada pelo PSDB e o PFL. O partido nao quer ser tachado de sectário, porque sabe que isso limita a sua açao política e eleitoral. Formado pelas principais figuras do PCB, nao tem nada de comunista, nem no nome. É socialista, mas aceita filiaçoes de políticos sem nenhum cacoete de esquerda.

Salomao Malina, um dos históricos do Partidao, que se define como "um velho comunista", e por conta disso foi barbaramente torturado pela ditadura militar, é o presidente de honra do PPS. Teme a descaracterizaçao do partido, mas aceita os novos rumos do ex-PCB. O senador Roberto Freire é outro que tem sua história ligada ao comunismo, mas seu discurso light e bem arrumado agrada a muita gente conservadora.

Os dois convivem com o próprio ex-ministro Ciro Gomes, que já pertenceu até ao PDS, em pleno regime militar, e com o empresário e deputado federal Emerson Kapaz, um dos mais novos integrantes da legenda, sem contar outros nomes mais à direita.

Ciro Gomes se preocupa com a definiçao ideológica do PPS. "Muita gente nao sabe o que é esquerda e direita", diz ele, querendo explicar que se trata de categorias de análise utilizadas para mostrar o grau de intervençao do Estado na economia.




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