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Quando os conflitos dão origem a uma nova pessoa
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
16/11/2009 | 07:00
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Um Brasil em fundição, em constante mudança, cheio desarranjos e acomodações. Em suas andanças, a escritora e antropóloga Deborah Goldemberg, 34 anos, foi tocada por esse Brasil. O resultado é o livro O Fervo da Terra (Carlini Caniato, 96 págs., R$ 23), que tem lançamento amanhã, às 18h30, na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915), em São Paulo.

A história se passa na região central do País. Um casal gaúcho se instala no Norte do Mato Grosso, atraído por um projeto de colonização do Governo Federal, na década de 1970.

O narrador é Aké Paraná, um filho de índios que foi deixado pelos pais - expulsos de suas terras - na casa do gaúcho Seu Luis. "Meu fio. Seje bão pra esse homem, que ele fez foi salvá a sua vida", foram as últimas palavras de sua mãe. Aké cresceu e virou capataz na fazenda de Seu Luis.

Na virada dos anos 1990, é descoberto ouro naquela região. A notícia atrai garimpeiros gananciosos que viriam atrapalhar os planos agrícolas de Seu Luis.

Aí estão os três tipos em ebulição: o fazendeiro radicado, o índio natural da terra e o garimpeiro extrator. "Minha ideia é mostrar o lado humano de cada um, porque é difícil julgar quem está certo. A mídia costuma ver um lado só, mas ali existe uma espécie de alquimia em que cada um vai aos poucos se tornando como o outro", afirma a autora.

Deborah optou por uma narração em primeira pessoa, com a "voz cabocla" de Aké. Com isso, consegue transportar o leitor para o meio do fervo: "Mordida de garimpo, pra ocês que não conhece, é o que dá a febre do garimpo (...) coisa difícil de curar pra quem pega". Segundo a escritora, essa não é uma fala errada, mas sim a mescla de várias linguagens. "Eu quis trazer o encantamento que essa liberdade linguística traz", diz Deborah.

O Fervo da Terra é uma leitura envolvente, uma viagem ao brasileiro que somos e que estamos aprendendo a ser a cada momento. O prefácio é assinado pelo sociólogo José de Souza Martins, de São Caetano.




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