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Casa da Cascata corre o risco de ruir
Do Diário do Grande ABC
02/04/1999 | 14:23
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A notícia caiu como uma bomba no meio arquitetônico. Fallingwater, a Casa da Cascata, projetada pelo americano Frank Lloyd Wright em 1935 e considerada a mais importante casa modernista do mundo, está ruindo. Quem diz isso, além de meia dezena de engenheiros e arquitetos renomados, é Lynda Waggoner, diretora de Fallingwater, hoje administrada pela instituiçao Western Pennsylvania Conservancy.

"Os problemas sao muito sérios", diz Lynda. "Tecnicamente, a estrutura da casa está comprometida, mas nós vamos mudar isso", afirma. A casa projetada por Lloyd Wright espantou o mundo por sua ambiçao de unir a mais sofisticada e moderna concepçao artística do homem com um extraordinário produto da natureza, o vale de Bear Run - regiao montanhosa no sudoeste da Pensilvânia.

Os críticos da arquitetura moderna diziam que, no futuro os edifícios renderiam belas ruínas. Mas os administradores de Fallingwater nao pretendem ver a profecia concretizar-se tao cedo. Segundo Lynda Waggoner, já há estudos para reverter a atual situaçao de Fallingwater, o que vai implicar uma delicada intervençao. Um dos lados da construçao já está muito mais baixo do que devia, criando a sensaçao de que a casa está caindo.

"Os materiais sao novos, ainda há muito a saber sobre o cansaço de certos materiais", diz o arquiteto Marcelo Ferraz. "O concreto é uma coisa nova, mas a tecnologia que existe para tratá-lo está muito avançada também", afirma. "Aquilo é um landmark muito bem protegido, pode ficar tranqüilo", disse Abrao Sanovicz, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. "É uma obra-prima e hoje em dia essas coisas nao sao impossíveis de reparar", considera, otimista.

Os problemas maiores de Fallingwater, segundo disse ao The Guardian o engenheiro nova-iorquino Robert Silman, é que os cantiléveres da construçao (vigas de sustentaçao em balanço) nao têm aço suficiente para suportar a estrutura, o que denunciaria um erro de cálculo de Lloyd Wright. Consta que o arquiteto nao gostava de discutir seu método de trabalho e tinha idéias próprias sobre o uso do aço para reforçar estruturas.

Fallingwater foi projetada por Lloyd Wright em 1936 a pedido do proprietário de Bear Run, Edgar Kaufmann. Fez os primeiros desenhos da casa enquanto se dirigia com Kaufmann de automóvel de Taliesin (Wisconsin) para Milwaukee, uma viagem de duas horas. Sua obra, concluída em 1939, permitiu ao filósofo John Dewey dizer o seguinte: "Aqui, o olho é o sentido da distância, enquanto o som está próximo, íntimo."

Fallingwater é uma residência de três andares construída numa escarpa, com um rio passando dentro da casa e desaguando numa cascata. Está inserida de maneira orgânica na pedra e foi esse conceito que recuperou Lloyd Wright, entao com 68 anos, aos olhos dos seus críticos - que chegaram a chamá-lo de Lloyd "Wrong" (errado, em oposiçao a "right", certo).

Muitos vêem em Fallingwater uma intençao de criar uma espécie de "caverna civilizada", mas o próprio Lloyd Wright fez uma definiçao muito mais poética e interessante. "Você pode ver nesses diversos sentimentos tudo confluindo para a mesma direçao na qual eu nasci na América, filho do chao e do espaço."

Suas obras deram o rosto contemporâneo que é conhecido no mundo todo como "a cara da América". O espiralado Museu Guggenheim, em Nova York, a Taliesin House (sua casa, construída em 1911) e Fallingwater sao os símbolos dessa concepçao. É considerado o maior arquiteto americano, mas ele próprio pensava diferente - acreditava-se o melhor do planeta, sem nenhuma modéstia.

Nascido numa regiao montanhosa do Estado de Wisconsin, começou a trabalhar como estagiário em 1888 na firma Adler & Sullivan, de Chicago. Depois, cursou a Faculdade de Engenharia da Universidade de Wisconsin. Em 1911, deixou mulher e seis filhos e fugiu com uma amante para a Europa, um escândalo que ganhou ainda maior dimensao quando a amante foi assassinada.

Em 1928, após casar-se com Oglivanna Lazovich, uma seguidora do místico russo Georgei Gurdjeff, Lloyd Wright começou o que chamam de sua "terceira vida". Produziu compulsivamente nos anos seguintes (trabalhou até os 92 anos). Fallingwater tornou-se o maior símbolo dessa era de produtividade e invençao, sendo visitada hoje por mais de 75 mil pessoas do mundo todo anualmente.




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