Com a cassação do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, a Câmara deverá acelerar o trâmite dos processos dos outros 12 deputados federais envolvidos no suposto esquema do mensalão e caixa 2. A avaliação foi feita quinta-feira pelo presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), ao Diário. “Todos os recursos impetrados por José Dirceu atrasaram os outros processos. Até o dia 20, tenho a impressão que devemos terminar, na pior das hipóteses, mais dois processos e na melhor, mais quatro”. Caso a previsão otimista do petebista se confirme, o deputado Luiz Carlos da Silva, o Professor Luizinho (PT-Santo André), poderá ser julgado ainda este ano. Segundo a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) dos Correios, um assessor do petista teria recebido R$ 20 mil do publicitário Marcos Valério.

DIÁRIO – Há possibilidade de Dirceu entrar com recursos contra a decisão do plenário?
IZAR – Não há mais possibilidades de recursos. Foi um processo difícil. O STF (Supremo Tribunal Federal) teve uma decisão sábia e de bom senso, para evitar uma crise institucional, que, na minha opinião, já estava chegando. Dirceu teve amplo direito de defesa. No Conselho de Ética, ele foi o último a falar, assim como no plenário, antes da votação. Não houve problema.

DIÁRIO – O sr. acredita que a cassação de Dirceu estanca a crise política?
IZAR – Já estancou. E nós ajudamos. Estive duas vezes no Supremo levando informações, defendendo teses, mostrando como funciona o Conselho de Ética. Essa vitória é importante. Mostramos que o Conselho não é um Tribunal de Justiça. Nosso julgamento é diferente. Temos outros prazos. E aqui não existe a testemunha de defesa e de acusação, existe apenas testemunha. Com isso, conseguimos mais um voto (do ministro Sepúlveda Pertence). A crise já estancou definitivamente.

DIÁRIO – Houve ingerência dos STF nas decisões da Câmara?
IZAR – Houve sim, solicitando para retirar do relatório o depoimento da banqueira Kátia Rabelo. Mas agora nós já sabemos o que o Supremo pensa, o que facilita o nosso trabalho em relação aos demais processos.

DIÁRIO – Como o sr. avalia os comentários de que havia acordo para cassar apenas Jefferson (Roberto Jefferson, PTB-RJ) e Dirceu e livrar os demais?
IZAR – Isso é um absurdo. Acredito que deve haver mais cassações, mas não posso dizer em que termos.

DIÁRIO – O que significa a saída de Dirceu do cenário político atual?
IZAR – A saída dele para o próprio PT e para o governo foi muito bom. Ele era o foco de uma crise permanente. Acredito que agora até o ambiente fica mais calmo para todos, inclusive para a oposição.