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Babá morta nos EUA é enterrada
Verônica Fraidenraich
Do Diário do Grande ABC
23/12/2005 | 08:13
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Apesar da dor, um sentimento de alívio imperava entre os cerca de 150 parentes e amigos de Ana Elisa Gonçalves de Toledo, 24 anos, que compareceram ao enterro da moça, quinta-feira pela manhã, no cemitério da Vila Pires, em Santo André. Ela foi morta a facadas pelo ex-namorado checo Martin Novotny, 22 anos, nos Estados Unidos, no último dia 13, mas seu corpo só chegou ao país quarta-feira pela manhã, depois de dez dias de espera. A demora ocorreu devido às investigações da polícia e trâmites burocráticos para legalização e tradução de documentos no exterior. “Estou mais aliviado, passamos a noite toda aqui”, afirmou o pai, Orlando Pires de Toledo, 59 anos.

O sepultamento aconteceu pela manhã, apesar do desejo inicial da mãe, Maria Elisa Gonçalves Toledo, 52 anos, de realizá-lo à tarde. “Durante toda a madrugada, minha mulher passou muito a mão no rosto dela, que já estava ficando feio, então achamos melhor enterrar logo”, explicou Toledo.

O corpo de Ana Elisa chegou no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, às 11h da quarta-feira e só foi liberado às 15h30, depois de obedecer a normas da Receita Federal, Polícia Federal e Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). De lá, foi para o cemitério do Curuçá, onde trocaram a urna americana por uma brasileira. O velório começou às 19h de quinta-feira e seguiu durante toda a madrugada. A mãe estava sob o efeito de remédios e ficou a maior parte do tempo ao lado da filha assassinada.

Ana Elisa vivia há um ano e quatro meses em Denver, estado norte-americano do Colorado. Ela trabalhava como babá, por meio do programa de intercâmbio Au Pair. O motivo do crime teria sido ciúmes. Segundo os jornais locais, Martin irá responder por crime de primeiro grau, o que no Brasil significa homicídio qualificado, isto é, quando foi premeditado.

No cemitério, um pastor adventista proferiu um sermão durante o velório e, depois, no enterro. Entre os presentes, estavam parentes de Avaré e Piraju, no interior do Estado, que vieram a Santo André para dar o último adeus a Ana Elisa. A aposentada Maria Ivone Arruda, 70 anos, tia-avó da babá, chegou quarta-feira pela manhã de Piraju. Ela contou que viajou quase 400 quilômetros para ir ao velório. “Meu filho tinha muito contato com ela”.

A aposentada Laura Elisa Torres, 58 anos, também compareceu ao enterro para levar solidariedade à família da babá. Sua filha, Letícia Ribeiro Torres, 28 anos, que vive em Denver, participou do mesmo programa que Ana Elisa e trabalhou um ano em casa de família como babá. “Elas começaram a amizade há pouco tempo, mas minha filha falou que ela era uma menina muito legal”. Letícia contou à mãe que esteve no culto em homenagem a Ana Elisa que foi realizado em Denver. “Ela disse que foi muita gente”.

Recentemente as duas amigas viajaram juntas para esquiar. O pai de Ana Elisa lembrou que a filha tinha comentado por telefone que já conseguia fazer as curvas com o esqui. Ana Elisa pretendia percorrer caminho semelhante ao de Letícia, que deixou o programa de intercâmbio e agora estuda Administração de Negócios. Um dia antes de ser assassinada, a babá ligou para a mãe cobrando os documentos para ingressar na faculdade de comércio exterior. Antes de se mudar para os Estados Unidos, Ana Elisa estudou secretariado executivo e interrompeu curso de comércio exterior, ambos na UniABC.

A família disse que pretende processar a empresa de intercâmbio. Segundo o pai, eles aguardam a chegada dos pertences da filha para analisar documentos como o contrato que ela tinha com a empresa e decidir o que fazer. “Vamos ver os direitos que temos, ainda não trouxeram as coisas delas, são muitas malas”. O primo de Ana Elisa, Bianco Gastaldo, 30 anos, diz que a empresa não informou o valor do seguro de vida que ela tinha e reclamou da desorganização da empresa. “Não tem apólice do seguro no contrato, não sabemos quanto é”.

Ciúmes – Havia cerca de dois meses que Ana Elisa tinha terminado o namoro com Martin. Eles ficaram juntos por oito meses, e, segundo amigos da moça, costumavam brigar bastante, principalmente por ciúmes do rapaz. Após o término, eles ainda se viram algumas vezes, mas decidiram não seguir juntos. O que teria motivado Martin a cometer o crime, de acordo com amigos dela lá, teria sido o fato de estar iniciando um relacionamento com outra pessoa. De acordo com jornais locais, Martin disse não poder imaginá-la com outra homem. O checo também trabalhou como babá pelo mesmo programa, mas atualmente prestava serviços em um restaurante. Para matá-la, ele teria entrado pela janela e abafado seus gritos com um travesseiro. A família americana dela não foi ferida nem teria ouvido nada.




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