"Se a Otan se revela incapaz de cuidar de um ditador de papel machê no centro da Europa, para que serve a Aliança?", questionou recentemente Ivo Daalder, da Brookings Institution, um centro de análise de Washington.

Muitos políticos e especialistas nos Estados Unidos consideram que a Organizaçao do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar que sobreviveu ao bloco soviético, nao pode dar-se ao luxo de perder "sua primeira guerra em 50 anos" frente à pequena Sérvia.

"Kosovo constitui um momento determinante para a Otan", segundo Ivo Daalder. Se a Aliança nao conseguir o retrocesso do presidente Slobodan Milosevic, acrescentou, isto é um mal sinal de sua capacidade de atuar contra "as ameaças mundiais, como a proliferaçao das armas nucleares, o terrorismo internacional ou a interrupçao do fornecimento energético".

"A Otan e nossos aliados estao em jogo. Muitos predizem que se tratará do funeral da Otan e nao da comemoraçao de seus 50 anos" (que acontece de 23 a 25 de abril, em Washington), estimou no domingo passado o influente senador senador, Richard Lugar. Lugar também declarou duvidar que esta seja a última vez que abusos como a "limpeza étnica ou açoes bárbaras" impliquem uma resposta.

"Nao há outra soluçao. Temos que ganhar de qualquer jeito esta guerra e, para isso, devemos ter toda as opçoes sobre a mesa", considerou Elizabeth Dole, candidata republicana à eleiçao presidencial do ano 2000, fazendo alusao ao envio de tropas terrestres à zona de conflito.

"Acho que a Otan está colocando em jogo sua sobrevivência", opinou Brent Scowcroft, conselheiro para a Saúde Nacional do ex-presidente George Bush. O funcionário predisse ``tensoes que podem chegar à ruptura' entre os aliados em caso de fracasso em Kosovo, e pediu o envio de tropas terrestres à regiao.

Alguns nao ocultam seu pessimismo e acham que Belgrado conservou a iniciativa, apesar de suportar cerca de um mês de bombardeios.

"É bastante evidente que Milosevic está conseguindo seus objetivos, que sao tirar os albano-kosovares da regiao, procedendo com a limpeza étnica", disse John McCain, membro da Comissao de Forças Armadas do Senado norte-americano e também candidato republicano à eleiçao presidencial. Em relaçao aos objetivos da Otan, a intervençao de uma força de manutençao da paz e a volta dos refugiados ``nada disso aconteceu', acrescentou.

"A Otan nao conseguiu até agora alcançar seu objetivo mínimo (...) de proteger os albono-kosovares e evitar assim um pesadelo humanitário", segundo Ivo Daalder. "Apesar do fato de que a Otan está perdendo seu primeiro grande compromisso militar (...), convém assinalar que os aliados manifestaram um admirável nível de unidade", acrescentou o ex-membro do Conselho de Segurança Nacional do presidente Bill Clinton. Segundo ele, o futuro da Otan depende hoje essencialmente das decisoes que a Casa Branca tomar.

Para estes especialistas, os dirigentes europeus Jacques Chirac, Gerhard Schroeder e Tony Blair pressionarao Clinton para enviar tropas terrestres a Kosovo porque "a Otan nao pode perder sua primeira guerra".