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Seca pode provocar perda de 50% na safra de café
Do Diário do Grande ABC
08/11/1999 | 10:59
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A prolongada estiagem que atinge Minas Gerais, estado responsável pela metade da produçao brasileira de café, deverá provocar uma perda de 50% na safra de 2000/2001, que pode representar 12 milhoes de sacas no total do país.

A previsao é de agricultores e técnicos de Monte Carmelo Araguari, Patrocínio, Iraí de Minas, Abadia de Dourados, Romaria, Coromandel, Carmo de Minas, Sao Gotardo, Sacramento, Guaxupé, Muzambinho e Varginha, onde a seca apresenta uma imagem de desolaçao: milhoes de pés de café, que deveriam estar com flores sendo transformadas em pequenos frutos, exibem folhas esturricadas.

Reaçao em cadeia - É como se fosse uma forte geada, agravada pelo fato de a estiagem provocar resultados negativos por tempo mais prolongado. Essa situaçao leva a uma reaçao em cadeia, que atinge também as exportaçoes brasileiras e a balança comercial.

A falta de chuvas começou em abril e se prolonga até agora, num total de sete meses de índices pluviométricos abaixo da média. Em agosto, por exemplo, choveu no município de Monte Carmelo, no Triângulo Mineiro, tanto quanto no deserto de Atacama, no Chile, ou seja: zero. No ano passado, as precipitaçoes do mesmo mês chegaram a 105 milímetros.

Outubro deveria ser um mês chuvoso, mas o índice mensal ficou em 63 milímetros, bem abaixo da média de 127 milímetros do mês em anos anteriores. Mesmo assim, o Brasil continuará sendo o maior produtor de café do mundo. A quebra da safra brasileira, prevista em torno de 12 milhoes de sacas, corresponde ao total da colheita do segundo maior produtor, a Colômbia.

Essa situaçao provocou impacto na cotaçao internacional do café, que começou a subir diante da simples notícia da gravidade da situaçao em Minas e ficará ainda mais elevada nos próximos meses. Entretanto, os agricultores e os administradores públicos do Triângulo Mineiro e do Sul de Minas estao preocupados, pois as limitaçoes da colheita, de maio a agosto do próximo ano, significam menor arrecadaçao, perspectivas de mais desemprego e de uma crise social mais intensa.

Nos últimos 20 anos, o café do cerrado representou uma grande conquista para a economia de Minas e do Brasil. Regioes ocupadas por vegetaçao inexpressiva, de solo aparentemente improdutivo, passaram a ganhar imensos cafezais. Com isso mudou a geografia do café e os estados de Sao Paulo e do Paraná, tradicionais pólos produtores, cederam sua hegemonia para Minas.

"Estamos com um déficit de 250 milímetros de chuvas e os cafezais nao suportam essa seca", lamenta o presidente da Associaçao dos Cafeicultores de Monte Carmelo, Francisco de Assis. Para o gerente regional de Monte Carmelo da Cooperativa dos Cafeicultores de Guaxupé, Régis Damásio Salles, "há uma visível queda" da produçao para o próximo ano. Segundo Salles, esse número pode ir de 40% a 70%. Salles evita, porém, falar em cifras definitivas e afirma acreditar que só em janeiro será possível fazer uma previsao mais adequada.

Angústia - O produtor agrícola Koiti Hojo, de Iraí de Minas, que há dez anos trocou a regiao de Marília (SP) pelo cerrado mineiro, entao animado com o clima do Triângulo, quase sem geadas, garante nao estar arrependido da mudança, mas confessa ter ficado angustiado com a possibilidade de um enorme prejuízo. "Tivemos uma boa safra em 1998 e foi considerada normal a queda no início de 1999, mas seria normal prever outra excelente colheita no ano 2000, se nao fosse essa estiagem", explica Hojo.

O prefeito de Monte Carmelo, Saulo Faleiros Cardoso (PPB), que se orgulha de ter conseguido equilibrar as finanças municipais nos últimos três anos - assegurando também conquistas na área social, como escola para todas as crianças e assistência médica para a populaçao -, está preocupado. "Vivemos de impostos e, diante dessa estiagem, nao só os agricultores saem perdendo, como a arrecadaçao das prefeituras", diz Faleiros. "Cresce o desemprego e cai a qualidade de vida das cidades."

A situaçao é semelhante em outras cidades do Triângulo Mineiro e do Sul de Minas. Mesmo Uberlândia, um dos mais ricos municípios de Minas, sente o impacto da crise, com queda do movimento no comércio. Em Uberaba, o gado está mais magro, por conta das pastagens ressecadas. As chuvas voltaram sexta-feira à regiao, mas sem trazer esperança aos cafeicultores, pois os danos sao irreversíveis.




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