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Uma viagem pela Rota do Frango com Polenta
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
05/06/2004 | 20:01
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Imagine o estádio Anacleto Campanella, em São Caetano, lotado. São 25 mil torcedores. Agora imagine-os comendo frango com polenta. Para alimentar toda essa gente, seriam necessárias 12 toneladas da tradicional combinação italiana. Se juntarmos os que frequentam num só final de semana a Rota do Frango com Polenta, em São Bernardo, teríamos essa cena. Com os mesmos números. Num ano inteiro, seriam 1.257.600 toneladas do cobiçado prato.

Quando se fala da Rota, tudo parece exagerado. E é mesmo. Alguns restaurantes são enormes, passam dos 4 mil m² de área construída. Num domingo qualquer, os estacionamentos lembram aqueles megafeirões de automóveis, e chegam a abrigar cerca de 600 deles. Em datas comemorativas, como o Dia das Mães, por exemplo, a espera por uma mesa vaga já faz parte do programa.

Mas não precisa ser um dia tão especial para enfrentar fila, mesmo que ela nem demore tanto para andar. Os freqüentadores já sabem que, para encher o prato de comida, é preciso um pouco de paciência. E não é difícil cumprir o itinerário entre a mesa e buffet self service. Custoso mesmo é escolher entre a grande variedade de comidas, que pode ser salada, lasanha quatro-queijos, rabada, bacalhau gratinado ou lingüiça calabresa. Tudo, é claro, acompanhado de frango com polenta.

Uma vez com o primeiro prato cheio — sim, porque ninguém vai num restaurante desses para comer um pratinho discreto de saladas, e é aconselhável fazer mais de uma viagem — o desafio é voltar para a própria mesa sem esbarrar em nenhuma família ao lado. “Às vezes o marido chama a esposa de ‘meu bem’ e a mulher da mesa ao lado pode achar que é com ela. De tão lotado que o restaurante fica, as mesas ficam mais próximas. E as pessoas também”, conta com bom humor Laerte Demarchi, do Restaurante São Judas Tadeu.

“É bom, barato e gostoso. Por isso vem tanta gente, a maioria de São Paulo. E tem muitas vantagens, como a música ao vivo, no sábado à noite. O restaurante vira pista de dança. E o estacionamento é de graça”, diz Carlos Fabretti, do Restaurante São Francisco, enumerando as vantagens.

Todos os 11 estabelecimentos que fazem parte da Rota dos Restaurantes são de propriedade das mesmas famílias fundadoras. Demarchi, Battistini, Morassi e Capassi são os “donos” da Maria Servidei Demarchi, que começaram a vender frango com polenta no quintal de casa, há 70 anos, quando a avenida ainda era de terra e os clientes, pescadores que voltavam da represa Billings.

Teve também quem se instalou nos arredores, aproveitando a fama dos vizinhos, e de lá não quer sair. É o caso da Para Pedro Churrascaria, dos Tonini, que há mais de 20 anos serve rodízio de carne. Frango com polenta, ali, só em pratos separados.

Não importa o tamanho do restaurante, dos gigantes São Judas e Florestal ao modesto Capassi. Todos ali transbordam tradição, e aos poucos vão adotando certas modernidades, que fariam zangar os antepassados. Polenta mexida por máquina é uma delas, o que é natural, quando se pensa que não haveria braço suficiente para misturar quatro toneladas de massa por final de semana.

Apesar dos números serem impressionantes, os proprietários são unânimes em dizer que os tempos áureos já passaram, e que a crise levou embora 30% da clientela. Hoje, a maioria investe em outro terreno: o dos casamentos. As grandes casas realizam vários por semana, e às vezes mais de um por dia. Só no São Judas, 250 festas de casamento estão agendadas até maio do ano que vem.

Série - A partir de hoje, o Diário inicia uma série de reportagens para mostrar bastidores, histórias e gente que faz história na Rota Frango com Polenta, prestigiada por gente famosa, como o presidente da República, que era freqüentador dali bem antes do Palácio do Planalto. Pessoas, muitas pessoas. São quase 600 empregos gerados, entre fixos e temporários. Ocupados em fazer a alegria de um Anacleto Campanella lotado, todos os finais de semana.




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