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Vereador quer fim do feriado da consciência negra em Ribeirão
Por Arthur Lopez
Do Diário do Grande ABC
23/02/2005 | 13:40
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A maior polêmica na Câmara Municipal de Ribeirão Pires trata de um projeto de lei que ainda nem foi elaborado e deve ser apresentado somente na próxima semana. Trata-se da idéia do vereador Antonio Muraki (PPS) de revogar o feriado de 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Entidades de defesa da igualdade racial prometem resistir e já organizam um ato para terça-feira, dia 1º de março.

Segundo o vereador, o mês de novembro abriga três feriados em Ribeirão e isso prejudica a economia da cidade. “Este é o calcanhar de Aquiles para combatermos o desemprego, nosso pior problema”, diz. Muraki acredita que a medida poderá melhorar em 10% o nível de emprego no município. “Prefiro um feriado a menos e mais empresas em Ribeirão”, afirma, embora admita que ainda não tem dados sobre quantas empresas deixaram de se instalar na cidade por conta dessa data. O feriado da Consciência Negra foi instaurado no ano passado.

A proposta de Muraki se ampara em um abaixo-assinado de comerciantes do município entregue terça-feira à Acirp (Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Pires). “São mais de 500 assinaturas contra o feriado, que poderia ser transformado em dois finais de semana com festa cultural e homenagem”, explica o vereador, que ainda avalia o documento.

“Não queremos festa e sim respeito com a data que marca a morte do maior líder negro da nossa história, Zumbi dos Palmares”, reage a vereadora Elza da Silva Carlos, a professora Elzinha (PT), autora do projeto que criou o feriado em 2002. “Aprovamos por unanimidade na Câmara e em acordo com a Aciarp e o Conselho de Desenvolvimento Econômico”, diz. Para a parlamentar, numa cidade turística pode-se potencializar o feriado para todo o comércio ganhar com ele. “Tem que ter criatividade”, diz.

Elzinha lembra que a proposta de suspensão do feriado aparece justamente no Ano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, quando se discute na Câmara dos Deputados, em Brasília, a instituição de feriado nacional para a data. Elzinha foi alertada sobre o abaixo-assinado pela comerciante Reginilde da Costa, a Roxa, que não assinou o documento por não concordar com a proposta do vereador. “O problema do comércio é o cheiro ruim que sai dos bueiros do centro, não o feriado”, afirma a comerciante, que não é afro-descendente.

O presidente da Aciarp, Ricardo Nardelli Júnior, o Nonô, diz que a entidade não organizou o abaixo-assinado. “É uma iniciativa de comerciantes e só agora chegou a nossas mãos”, afirma. Segundo Nonô, o documento seria analisado pela diretoria da entidade durante reunião na noite de terça-feira.

O primeiro impasse sobre o projeto foi registrado terça-feira, durante encontro entre o vereador Antonio Muraki e representantes das entidades Aversão Hip-hop, Centro de Referência Afro-indígena Quilomboca e Federação das Sociedades Amigos de Bairros.

“Todas as raças têm direitos, mas esse feriado causa transtornos para a população, que tem de ir a outras cidades para pagar contas”, alega o vereador. Os representantes das entidades não se convenceram com o argumento e prometem organizar um protesto programado para a próxima terça-feira.



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