O jeito sereno, a fala pausada e a simplicidade cativante não denotam a importância do diretor de TV e produtor Fernando Faro, responsável pela modernização da linguagem dos musicais na década de 1960. Criador de programas como "Móbile" e "Ensaio", ambos exibidos pela TV Cultura, ele ministra palestra gratuita hoje, às 20h, no Coreto do Sesc Santo André.

Durante o evento, que integra o projeto "Gigantes em Pílulas - Expoentes da Cultura Brasileira em Pauta", Faro compartilhará histórias saborosas a respeito do universo televisivo e do mercado fonográfico. Sobre o Ensaio, que criou no período em que trabalhou na TV Tupi, em 1969, fala com especial carinho.

Desde sempre eclética e inovadora, a atração não conta com apresentador e tem como marcas registradas os closes nos rostos dos artistas, que respondem às perguntas feitas em off pelo diretor. "Quando comecei a fazer o programa, o pessoal da produção chamava ele de feijoada, porque eu mostrava a orelha, o nariz e a boca. Quando você assiste a um show, presta atenção nessas partes do artista. Levei isso ao extremo", explica Faro, 82 anos.

TEMPERAMENTAIS - No início dos anos 1970, Faro trabalhou intensamente com a cantora Elis Regina. A intérprete participou de antológica edição do Ensaio, que chegou às lojas em formato DVD, há cerca de cinco anos.

"A Elis passou dois meses morando em minha casa.Quando tinha bronca de uma pessoa e ficava irritada, também ficava vesga. Teve um dia que um cara foi lá em e ela estava na escada, bem brava. Perguntei o que tinha acontecido e a Elis falou: Olha a aura desse cara, ele não presta", recorda.

Apesar da personalidade forte da Pimentinha, o veterano comenta que nenhum medalhão da MPB foi mais temperamental que Maria Bethânia. "Estava dirigindo um show dela e o cara que cuidava do som teve de viajar. Contrataram outro técnico, que estava tateando. De repente, ela chegou e disse para mim: ‘Fala para o pessoal que quando eles acharem a minha voz eu voltarei'. E foi embora. Voltou depois de uma hora", relembra.

EXIGÊNCIAS - Conhecido no cenário artístico como Baixo (por ter apenas 1,65m), o diretor tem o hábito de chamar seus interlocutores pelo mesmo apelido. O Baixo mais exigente da carreira de Faro foi o mestre da bossa nova João Gilberto, protagonista de episódios hilários.

Durante a produção de musical para a Band, três regentes recusaram o convite para acompanhar o mítico cantor baiano, preocupados com seu elevado nível de exigência. "Encontramos um maestro e o João judiou à beça. Falou: ‘Vem cá, maestro. O senhor está com raiva de alguém? Por que colocou cordas junto com as flautas nessa música?".

Fernando Faro - Palestra. Hoje, às 20h. No Coreto do Sesc Santo André - Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Grátis.