Política Titulo Fora das prioridades
Advogado que furou fila da vacina é alvo do MP por nepotismo

Sandro Tavares, que tomou duas doses de Coronavac mesmo com 44 anos de idade e é funcionário administrativo da FUABC, tem parentes na instituição

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
07/05/2021 | 00:01
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Banco de Dados/DGABC


Investigado pelo Ministério Público por suspeita de prática de nepotismo, o gerente jurídico da FUABC (Fundação do ABC), Sandro Tavares, é personagem do escândalo do fura-fila da vacinação contra a Covid-19 de funcionários administrativos da entidade regional. Advogado e com 44 anos, Tavares não está no perfil da lista de prioridades da imunização conforme o PNI (Programa Nacional de Imunização). Porém, a FUABC o enquadrou como colaborador da área da saúde – grupo prioritário no processo. Tavares recebeu duas doses da Coronavac na carreta da saúde em movimento, montada em São Caetano, cidade da presidente da Fundação, Adriana Berringer Stephan.

Seu nome aparece em dossiê que também está nas mãos do Ministério Público e ao qual o Diário teve acesso de colaboradores em cargos de chefia próximos de Adriana que receberam o imunizante. Esses trabalhadores, embora não integrantes da linha de frente de combate à pandemia, foram colocados como médicos em listagem enviada ao centro universitário da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), que organiza a vacinação de servidores da instituição regional.

Em 2017 e em fevereiro deste ano, o Diário mostrou que ao menos cinco parentes de Tavares trabalham na FUABC, sendo que a maior parte ingressou sem concurso público. O rol conta com Gilberto Palma, seu sogro, diretor do AME (Ambulatório Médico de Especialidades) de Santo André, com vencimento de R$ 21.466; Tatyana Mara Palma Tavares, sua mulher, diretora jurídica, com ganhos de R$ 10.681,72; Tassy Mara Palma Episcopo, cunhada, também diretora executiva jurídica e salário de R$ 11.841,18; e Alessandra de Mara Palma, outra cunhada, médica plantonista no Centro de Saúde Dr. Manoel Augusto Pirajá da Silva, de São Caetano, e tem salário-base de R$ 4.377,78.

Depois de o Diário revelar o caso, o Ministério Público confirmou que instaurou procedimento para investigar se houve prática de nepotismo nas contratações – porque Tavares e a FUABC sustentam que as contratações ocorreram dentro dos parâmetros legais.

Ao Diário, a FUABC sustentou que Tavares integra um grupo de 22 advogados, sendo seis ligados à mantenedora, que foi vacinado contra a Covid, pois “são considerados trabalhadores da saúde e estão contemplados no PNI”. A entidade cita trecho que relata que são prioridade de imunização “os indivíduos que trabalham em estabelecimentos de assistência, vigilância à saúde, regulação e gestão à saúde”.

“O documento (PNI) ratifica que os ‘trabalhadores de apoio’ estão enquadrados como ‘trabalhadores da saúde’ e exemplifica o grupo como ‘recepcionistas, seguranças, trabalhadores da limpeza, cozinheiros e auxiliares, motoristas de ambulâncias, gestores e outros’”, discorreu a organização social. A FUABC também diz ter seguido o documento Recomendações de Proteção aos Trabalhadores dos Serviços de Saúde no Atendimento de Covid-19 e Outras Síndromes Gripais, do Ministério da Saúde, que fala em necessidade de vacinação de trabalhadores em gestão.

“A Fundação do ABC reitera a total lisura da campanha de vacinação realizada no complexo de saúde do campus universitário e ratifica que seus profissionais integram o grupo de trabalhadores da saúde, tendo direito à vacinação prioritária”, comentou. 

OAB andreense cogita apurar conduta se houver denúncia formal

Vinculado à subsecção da OAB de Santo André, o gerente jurídico da FUABC (Fundação do ABC), Sandro Tavares, pode passar por investigação dentro da entidade de classe por integrar a lista de fura-fila da vacinação contra a Covid-19 – advogado com 44 anos, ele já foi imunizado com duas doses de Coronavac.

O Diário apurou junto a integrantes da direção da OAB andreense que a situação foi comentada, embora ninguém tenha feito denúncia formal contra Tavares dentro da instituição. Componentes do comando da subsecção avaliam, entretanto, que se houver queixa, haverá apuração, seguindo todos os preceitos do código de ética da OAB, com amplo direito ao contraditório. Haverá, ainda, consulta ao Ministério Público, que já acompanha o episódio.

No código de ética, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil afirma que todos os filiados precisam “proceder com lealdade e boa-fé em suas relações profissionais e em todos os atos do seu ofício; e agir, em suma, com a dignidade das pessoas de bem e a correção dos profissionais que honram e engrandecem a sua classe”. 




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