Quando os últimos raios do sol desaparecerem nesta quinta no poente, cerca de 50 mil pessoas, entre turistas, arqueólogos e historiadores, darão início a um dos rituais sagrados mais antigos e curiosos do Peru: o Inti Raymi, popularmente conhecido como a Festa Inca do Sol, que se estende madrugada adentro até que o astro-rei resolva dar o ar da graça na manhã do dia 25. Celebrada há mais de 800 anos na fortaleza de Sacsayhuaman, a cerca de 2 km de Cuzco, a cerimônia tem o intuito de atrair o Sol, principal divindade do império inca, já que a data coincide com o solstício de inverno no Hemisfério Sul, dia em que o astro encontra-se mais distante do eixo da Terra.

O ritual começa nesta noite, quando os participantes começam a pedir pelo retorno do Sol, assim como os incas faziam no auge do império de Atahualpa. Como tão antiga civilização já dispunha de conhecimentos astronômicos deste nível, ninguém sabe ao certo. Mas a precisão é tão exata que a tradição mantém-se até os dias de hoje.

Antes de começar a festa propriamente dita, é feita uma cerimônia na qual a estátua do Inca é levado do Korikancha (Templo do Sol) até Huacaypata (praça maior da cidade). Depois, todos seguem para Sacsayhuaman, onde realiza-se o sacrifício de uma lhama branca e outra preta. As vísceras e a banha dos animais são, então, entregues a dois sacerdotes: os intestinos são oferecidos a Callpa Ricuy para que promova os vaticínios do ano, e o Wupariruj toma o sebo para fazer previsões observando o fumo. As informações fornecidas pelos dois mestres são interpretadas pelo Wíllac Umo, sumo-sacerdote, que as comunica ao Inca para que este ordene o início da festa.

Para agradecer a volta do deus Sol, os participantes vestem roupas coloridas, máscaras, véus e, munidos de lanças, se põem a fazer preces e a dançar embalados pelo som de flautas e tambores típicos do Andes.