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Volks obtém 1ª vitória em Taubaté
William Glauber
Do Diário do Grande ABC
19/07/2006 | 08:13
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Aos poucos, o plano de reestruturação da Volkswagen do Brasil começa a ganhar contornos concretos. Mais de 4,5 mil trabalhadores de Taubaté aprovaram ontem, com 95% de concordância, acordo firmado entre montadora e Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (filiado à CUT). A decisão põe fim ao primeiro capítulo de ajustamento da multinacional no país e garante sobrevida à fábrica com investimentos e novos produtos. Agora, resta a chegada de entendimento aos Sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, Grande Curitiba e São Carlos.

Para convergir interesses antagônicos, sindicalistas e executivos de Recursos Humanos da Volks tiveram de ceder. Da mesa de negociação, ficou consumado enxugamento de 700 postos de trabalho na unidade até 2008. Somente neste mês, 160 empregos serão eliminados ao se oferecerem 0,6 salário por ano trabalhado e plano de saúde por três meses aos voluntariamente demissionários.

Caso a meta de cortes não seja atingida, a Volks indicará trabalhadores à demissão. Para isso, a montadora levará em consideração nível de desempenho, qualificação técnica e aspectos sociais. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, atualmente 80 trabalhadores aposentados na unidade estão aptos a aderir ao PDV (Programa de Demissão Voluntária), que, no entendimento da empresa, é um “incentivo financeiro”.

A tabela salarial na unidade se mantém inalterada e a redução de 35% na remuneração de novos contratados foi suspensa. No entanto, para chegar ao teto máximo em Taubaté, o metalúrgico terá de esperar mais. Antes, o empregado conquistava o teto em 48 meses e, agora, serão necessários 108. “Prolongamos e mantivemos os salários atuais. Assim, não há a possibilidade de trocar o pessoal”, comemora o coordenador da Comissão de Fábrica, Paulo Dutra.

Segundo avaliação de sindicalistas de Taubaté, a garantia de novos produtos consiste na principal conquista. “Dentro do possível, foi um bom acordo porque temos garantia de investimentos. A aprovação foi extremamente satisfatória. Se houvesse dúvidas, haveria maior grau de rejeição”, frisa Dutra. O sindicalista destaca também que, na ausência de investimentos na unidade, o acordo é rompido automaticamente.

A alta cúpula da Volks na Alemanha deverá apresentar hoje decisão sobre novos investimentos globais. A direção no Brasil assegura expectativa de contemplação à unidade do Vale do Paraíba. “A fábrica de Taubaté fez a sua lição de casa ao viabilizar a execução das medidas que garantem o cumprimento das premissas elementares para novos investimentos: redução de custo e aumento de produtividade”, disse, em comunicado, o vice-presidente de Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil, Josef-Fidelis Senn.

O executivo classifica o acordo como entendimento “pautado pela seriedade, honestidade e responsabilidade das partes”. “Os empregados e o Sindicato de Taubaté deram um claro sinal de que têm todo interesse em viabilizar o futuro da fábrica, focando a competividade da operação como forma de criar condições para atrair novos investimentos. Será esta a mensagem positiva que a administração da Volkswagen do Brasil levará à matriz sobre a unidade de Taubaté”, destaca Senn.

Sumiço – O sindicalista Paulo Dutra, de Taubaté, afirma que o acordo pode servir de parâmetro para as plantas de São Bernardo, São Carlos e São José dos Pinhais (PR). Dirigentes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT), no entanto, discordam. Em reportagem publicada pelo Diário na última sexta-feira, o vice-presidente Francisco Duarte de Lima, o Alemão, criticou as propostas.

A reportagem procurou a direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC para comentar o fim das negociações em Taubaté. O presidente José Lopez Feijóo e o vice-presidente Alemão não foram encontrados porque estavam em reuniões na CUT e no PT, em São Paulo.

O vice-presidente do Comitê Mundial de Trabalhadores da Volkswagen, Wagner Santana, o Wagnão, metalúrgico do Grande ABC, recusou-se a comentar o acordo, embora tenha acompanhado a assembléia pessoalmente em Taubaté. “Minha atuação aqui foi mais política. Minha condição não é falar sobre isso.”

Acordo de Taubaté

Adequação do efetivo de pessoal
pagamento de ‘incentivo financeiro’ de 60% do salário por ano de casa, além das verbas legais, para desligamentos até dezembro de 2008, até o limite de 700 empregados

acima deste limite, as partes ficam desobrigadas das condições acordadas

indicação pela empresa dos empregados a serem desligados considerando-se critérios de nível de desempenho, função a ser descontinuada, qualificação técnica necessária e aspectos sociais, com possibilidade de substituição dos indicados por outros empregados interessados em ser desligados, desde que apresentem condições compatíveis

Conceito de retrabalho por falta dequalidade
compromisso das entidades de representação em desenvolver ações que contribuam para a eliminação dos retrabalhos de qualquer natureza, em especial aqueles provocados por falta de qualidade, inclusive buscando ampliar a conscientização dos empregados neste sentido

possibilidade de variação da jornada de trabalho ou utilização de banco de horas para adequação dos padrões de qualidade

Aumento de contribuição dos empregados no plano médico
aumento da contribuição dos empregados no plano médico, de 1% para 2% do salário mensal, além do pagamento de 1/3 das consultas médicas realizadas

pagamento da contribuição mensal mesmo para empregados que vierem a ser afastados do trabalho pelo INSS

contribuição de 3% do salário, além do 1/3 do valor das consultas realizadas, para novos empregados que vierem a ser contratados

Sistema de banco de horas
estabelecimento de banco de horas com lançamento das horas, sem pagamento de adicionais, até o limite de 40 horas mensais ou 150 horas no período de 12 meses

limite de 120 horas negativas

possibilidade da realização de 10 sábados adicionais de produção por ano, pagos como horas extras

Nova tabela salarial para horistas
introdução de nova tabela salarial para empregados horistas que vierem a ser contratados, com salário inicial conforme piso da categoria e com 108 meses de evolução entre cada grau salarial

Metas de produtividade
compromisso das partes em dar continuidade às medidas de incremento da produtividade, a fim de atingir as metas estabelecidas pela empresa até o ano de 2008

as partes comprometem-se em viabilizar a descontinuidade das pausas existentes na área de pintura

Programa de participação nos resultados
estabelecidos indicadores, metas e valores para os PPRs (Programa de Participação nos Resultados) nos anos de 2006, 2007 e 2008:

2006: R$ 4,9 mil para 100% das metas

2007: R$ 5,3 mil para 100% das metas

2008: R$ 5,3 mil para 100% das metas

indicadores e metas de produtividade, qualidade e absenteísmo

Adicional de função para monitores
confirmação em acordo coletivo da definição de adicional de função dos monitores do sistema de produção da empresa

Investimentos
as partes ficam obrigadas aos termos do acordo somente se confirmados os novos investimento para a unidade de Taubaté que viabilizarão a produção futura de novos modelos na fábrica




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