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Musical 'Opera do Malandro' reergue TBC
Mauro Fernando
Da Redaçao
24/09/2000 | 16:59
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Sexta-feira é dia de uma estréia especial em Sao Paulo. Opera do Malandro une o texto e a música de Chico Buarque, a direçao de Gabriel Villela, a cenografia de J.C. Serroni e a iluminaçao de Guilherme Bonfanti. Acompanhando essas premiadas assinaturas, está a do TBC (Teatro Brasileiro de Comédia). O musical é a primeira montagem da Cia. Estável de Repertório do TBC, criada em maio.

Ambientada no Rio de Janeiro dos anos 40 - a entao capital federal -, Opera do Malandro relata o relacionamento entre o malandro Max Overseas, chefe de uma quadrilha de contrabando, e Terezinha. Ela é filha de Fernandes de Duran e Vitória Régia, donos de prostíbulos, foi criada longe do submundo, mas se apaixona por Max, com quem se casa. O musical também retrata as promíscuas relaçoes do contrabandista com o chefe de polícia, inspetor Chaves, e deste com Duran e Vitória.

A proposta cênica do diretor leva em consideraçao as situaçoes política e social do Brasil. "É a estética do equívoco, um reflexo do país", sintetiza Villela. O erro deliberado é tomado como mote pelos 22 atores, que desafinam em algumas músicas. No cenário foram acondicionadas mais de 700 caixas que constituem uma bagunça proposital.

Ao criar a cenografia, Serroni montou no palco um saloon com três andares, que evoca o faroeste e o bangue-bangue. "Essa linguagem lembra o coronelismo, a lei das armas, um mundo de inversoes, falcatruas, esquemas", diz Serroni. "É a efetivaçao do banditismo, é o Lalau, um juiz procurado pela polícia, com cartazes do tipo wanted (procura-se) nos aeroportos", conclui o diretor. Além disso, a montagem ainda reflete sobre a americanizaçao do Brasil.

Essa "estética do equívoco" é também fruto do próprio texto, no qual uma emergente contrata uma companhia amadora para protagonizar um espetáculo beneficente, o que resulta numa interpretaçao "mal feita". "Também é uma brincadeira em cima da idéia de que o artista brasileiro nao pode fazer musical, o que é um engano", diz Villela.

"A interpretaçao exagerada e caricatural faz parte do jogo cênico", arremata. Os atores usam como recurso a linguagem circense popular. A montagem tem como característica marcante o trabalho com o excesso de signos, a sobreposiçao de informaçoes, o exagero do barroco.

Além do equipamento tradicional, compoem a iluminaçao neon, lâmpadas fluorescentes e de fibra ótica e refletores computadorizados. "É uma luz high-tech brega, que remete a Miami e Las Vegas", conta o diretor. Confeccionado por Villela e Leopoldo Pacheco, o figurino reflete sobre a falência do casamento tradicional. Inclui retalhos de vestidos de noiva e próteses de seios e nádegas sobre as roupas das atrizes.

Homenagem ao Malandro, Folhetim, Geni e Zepelim sao algumas das cançoes do espetáculo, escrito em 1978 e inspirado na Opera dos Vinténs, obra de 1928 de Bertolt Brecht e Kurt Weill, que, por sua vez, basearam-se na Opera dos Mendigos, escrita em 1728 por John Gay.

Marcelo Várzea dá vida a Max e Naomy Scholling, a Terezinha. Gustavo Trestine interpreta Duran e Vera Mancini, Vitória. Leonardo Diniz vive Chaves. Os atores também cantam e se responsabilizam pela música ao vivo. "A desconstruçao dos arranjos originais descaracteriza a sonoridade mítica das músicas e desmitifica o Chico", afirma o diretor.




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