Política Titulo Machismo
Discriminação resulta em raras mulheres na política

Vereadores e especialistas creem que machismo impede maior participação feminina na região

Vitória Rocha
Especial para o Diário
25/01/2016 | 07:00
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Divulgação


Majoritariamente masculino. É assim que se descreve o cenário político do Grande ABC atualmente. Mesmo sendo 52% do eleitorado brasileiro e tendo figura feminina como presidente da República, as mulheres ainda não conseguiram alcançar a paridade dentro das discussões da esfera pública – atualmente, a região possui apenas dez vereadoras dentre os 142 parlamentares eleitos em 2012. E a questão se agrava dentro dos partidos – o Diário verificou os diretórios de nove das principais siglas da região (PT, PSDB, PMDB, PSB, PPS, DEM, PSD, Psol e PV) em cada uma das sete cidades e constatou que apenas cinco são presididos por mulheres. Para as vereadoras, políticas e militantes, o motivo é a discriminação.

Historicamente, a mulher brasileira começou a figurar entre o eleitorado há 82 anos, por meio da Constituição de 1934, 51 anos depois de o primeiro país ter permitido o voto feminino – a Nova Zelândia, em 1883. Atualmente, alguns mecanismos foram implementados para assegurar a participação feminina na política, como regra que exige que cada partido ou coligação preencha no mínimo 30% das vagas com candidaturas de cada sexo. No entanto, nem sempre isso acontece de forma efetiva.

Em São Bernardo, cidade comandada pelo prefeito Luiz Marinho (PT), o diretório do partido é composto por 27 mulheres dentre os 60 integrantes, mas não há nenhuma parlamentar eleita no município. Para a ex-vereadora Fátima Araújo (PT), as dificuldades para emplacar uma mulher na política começam dentro das siglas. “Infelizmente, embora eu seja a mulher mais votada do partido (3.713 votos, em 2004, e 3.492, em 2008), vejo que outras não conseguem se eleger porque ainda há muita discriminação, o que é lamentável já que a maioria do eleitorado é feminina.”

A afirmativa de Fátima se repete nas palavras da única vereadora de São Caetano, Magali Selva Pinto (PSD). “A mulher já conquistou diversos espaços, mas falta oportunidades na política que ainda é um ambiente muito machista. Eu não sou a favor das cotas, mas acho que esse é o caminho no momento”, contou.

Outras atitudes têm sido tomadas para ampliar a participação feminina como a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 98/2015, que propõe a reserva de percentual mínimo de cadeiras no legislativo para mulheres. Na Argentina, vigora política de cotas no legislativo. O percentual de mulheres no Senado argentino variou entre 35% e 43% até 2011, enquanto no Brasil a representatividade era de ainda 12%, de acordo com as notícias da Câmara.

Para a vereadora andreense Bete Siraque (PT), ainda há muita dificuldade em emplacar mulheres porque o cumprimento das cotas é mais protocolar do que um incentivo para a participação feminina. “A sociedade é muito masculina, muito machista, e na política não seria diferente porque é onde se reforçam diversos posicionamentos conservadores, discriminatórios.”

A atuação feminina nas discussões da esfera pública foram muito ativas durante luta contra repressão e persistiram numa curva ascendente até um determinado ponto, segundo a cientista política e pesquisadora da USP (Universidade de São Paulo) Lucia Avelar. “Quando começamos a analisar a situação, observamos que com a democratização do País, em 1989, as mulheres estavam muito engajadas na luta contra a ditadura e a participação começou a melhorar. Mas, num determinado momento, parou porque os grupos que detêm o poder, majoritariamente masculinos, não querem dividir”, avaliou. “Os partidos proporcionam um ambiente mínimo de inclusão feminina. Então, como não há o compartilhamento de poder na sigla, as mulheres vão atrás da representação direta por meio dos movimentos sociais femininos. Aqui, a secretaria de políticas públicas para mulheres tem papel fundamental porque recebe todas as demandas e é por isso que elas tem avançado”.

Parlamentares acreditam em falta de vontade

Se especialistas e vereadoras, em sua maioria, acreditam que há cerceamento de espaço para o crescimento da mulher na política, há quem deposite na própria figura feminina a falta de representatividade. É o caso do presidente da Câmara de Ribeirão Pires, José Nelson de Barros (PSD). Para ele, a política é ambiente de responsabilidade e compromisso, algo que afugenta as mulheres.

“É complicado porque, na política, você tem de ter compromisso. Talvez elas não se interessem muito porque é muita responsabilidade”, analisou. A fala foi compactuada por a vereadora Cida Ferreira (PMDB), com oito mandatos na Câmara de Diadema. “Não acho que tenhamos problema em entrar na política, na verdade, a própria mulher se sente um pouco acanhada. Falta trabalho e garra para chegar aos cargos legislativos.”

As câmaras da região, em sua história, pouco abriram espaço para mulheres. Somente duas foram eleitas presidentes de Legislativo nos últimos 70 anos – Tereza Delta, em São Bernardo, entre 1948 e 1951, e Ivete Garcia (PT), de Santo André, de 2003 a 2004.

Nesta legislatura, as dez vereadoras formaram Frente Feminina do Grande ABC, cujo objetivo era abrir espaço no conselho consultivo do Consórcio Intermunicipal para levar o debate sobre política às mulheres para a entidade regional. O pedido, entretanto, foi negado. Apenas sala foi oferecida para que as parlamentares se reunissem mensalmente. 




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