Diarinho Titulo
Metamorfose ambulante
Por Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
04/10/2009 | 07:01
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Tatuagem aqui, piercing acolá. E o corpo vai ficando enfeitado, colorido. De repente outra vontade surge e voilà! mais um furo e desenho para incrementar. Em geral, quem curte tatuagem, piercing e alargador não para no primeiro.

"Já penso nas outras tatuagens que quero fazer. Vicia mesmo", confessa Linithy Leal, 16 anos, de São Bernardo, que tem duas tatoos e dois piercings que foram feitos desde os 13 anos. "As minhas primas e mãe têm piercing. Ela, inclusive, foi comigo e autorizou. Doeu, mas tinha tanta vontade que esqueci."

Erick Cardoso, 17, fez sua tatoo na perna aos 16 anos sem a autorização da mãe. "Depois ela acabou concordando." O mesmo aconteceu com André Tavares, 17, que tem duas tatoos: uma no braço e outra nas costas. "Paguei tudo de uma vez, mas ainda não consegui terminar." Para os colegas de escola, os acessórios são uma forma de expressão e acham que não vão se arrepender. "Se acontecer, já era", confessa Linithy.

Diego Rodrigues, 20, de São Bernardo, esperou até os 18 para fazer a primeira. "Eu já tinha o desenho em mente há muito tempo, mas precisei guardar grana (ele gastou mais de R$ 700) e ter certeza do que queria", fala o garoto, que tem a perna esquerda e o braço direito fechados, além de dois alargadores (de 18 mm cada) e alguns piercings. Ele quer ser tatuador e fez estágio em um estúdio com investimento de R$ 1.000.

Diego acha que quem tem a partir de 16 anos já pode escolher se tatuar ou fazer piercing com a autorização dos pais. "Mas sei que é uma grande responsa, por isso, quando for tatuador vou fazer tudo direito e na lei, principalmente na parte da limpeza. Além do cliente, fazer tudo de qualquer jeito pode prejudicar o profissional."

O mesmo acredita Ronaldo Sampaio, o piercer Snoopy, do Sindicato dos Tatuadores e Piercers do Estado de São Paulo. "Em geral, o adolescente faz por moda e não está preparado para assumir as consequências. Além disso, quanto mais maduro, mais certeza a pessoa tem do desenho que quer levar no corpo para o resto da vida."

Alargador é a nova moda
Não é raro encontrar mais do que brincos nas orelhas. São os alargadores, objetos que têm a finalidade de esgarçar os lóbulos, lábios, septo (nariz) e até mamilos. Cada um tem tamanho diferente começando com 1 mm até mais de 100 mm.

Tudo começou com Buda e com povos indígenas. Hoje é mania. As amigas Maria Eduarda Kamard, 15 anos, e Gabriella Ferreira, 14, de Santo André, estão alargando as orelhas.

"Eu acho lindo, mas não vou passar dos 8 mm", diz Maria Eduarda, que precisou tirar o dela de 3 mm para colocar brincos na sua festa de 15 anos. "O buraco fechou, mas vou colocar de novo", avisa. Gabriella também curte e acredita que o objeto não vai interferir na escolha da sua futura profissão. "Hoje é só mais um objeto para enfeitar." Os especialistas dizem que furos com até 10 mm fecham sozinhos, mas acima disso é preciso cirurgia.

Ainda rolam dificuldades
Lucas* (o nome foi trocado), 16 anos, está com buraquinhos no rosto e orelhas, e não tira a calça de jeito algum. É que ele trabalha no setor jurídico de uma empresa e precisou tirar piercings e alargadores. Além disso, tem medo que sua tatuagem seja descoberta.

"Em um ambiente de escritório a coisa complica, Sei que no começo da minha carreira profissional vai ser assim." O garoto fez a tatuagem e colocou alargador sem conhecimento nem consentimento da avó e da tia. "Mostrei os riscos, a minha tia teve de autorizar", conta Lucas que, por enquanto, não se arrependeu. "Vou ter uma banda e aí vai ser sussa."

Para Lizete Araújo, vice-presidente de planejamento da Associação Brasileira de Recursos Humanos, não há estatística que mostre que os acessórios corporais são fatores de objeção na hora de arrumar emprego, mas alguns setores conservadores optam por candidatos sem tantos penduricalhos.

"A dica é sentir o ambiente primeiro (retire tudo na entrevista!) porque nem sempre se tem a segunda oportunidade de causar boa impressão. Se é certo ou errado, não cabe julgamento", explica a profissional, que faz uma ressalva: "Também não adianta tirar tudo e não se sentir bem, perder a identidade. Mas aí é questão de assumir a responsabilidade."

Fique bem esperto
Beleza. Você está cansado de ouvir que piercing pode inflamar, tatuagem dar alergia e alargador deixar uma cicatriz do tamanho do mundo. Mas quer saber? É tudo verdade mesmo. Então, quem for inteligente vai pensar direitinho nos cuidados que se deve ter na hora de modificar o corpo.

Segundo Susana Lu Chen Wu, do departamento de alergia da Sociedade Brasileira de Dermatologia, uma infecção malcuidada pode levar à morte. "Uma garota de 16 anos fez um piercing na língua escondida dos pais, o buraco inflamou, ela não cuidou e morreu em três dias. Claro, que isso não é regra, mas tem de tomar cuidado e jamais, em hipótese alguma, fazer furo em casa." A médica alerta para cicatrizes, queloides, alergias e ainda doenças de sangue que podem ser transmitidas pelas agulhas.

Se arrependeu de fazer uma tatuagem? Então reserve uma boa grana e prepare-se para sentir o dobro da dor. O tratamento a laser para retirada dos desenhos corporais é caríssimo e não tira tudo. "Dependendo da tinta utilizada e das cores (azul, verde e amarelo são mais difíceis), a tatuagem não sai e pode ficar uma grande cicatriz", explica.

A dermatologista não recomenda piercings, tatuagens e alargadores, principalmente, antes dos 18 anos, porque o corpo ainda está em modificação. "A pele do adolescente é diferente, ainda está sofrendo alteração fisiológica, portanto, não está preparada para uma cicatrização tão rápida."

Dicas
Fez 18 anos? Então siga as dicas:

- Observe se o estúdio segue as rotinas de limpeza e biossegurança, e se o profissional fez curso

- Veja se usa tintas e agulhas descartáveis, luva, máscara e avental

- Procure ter certeza se o estúdio possui alvará da vigilância sanitária e também se é filiado ao Sindicato dos Estúdios de Tatuagem e Body Piercing do Estado de SP no www.sindicatodostatuadores.com.br

O que diz a lei
A Lei do Estado de São Paulo nº 9.828 (de 1997) proíbe menores de 18 anos a fazerem piercing, tatuagem e outros adornos mesmo com a autorização dos pais - algumas cidades, como Porto Alegre e Brasília, por exemplo, permitem maiores de 16 com autorização. "Quando o pai autoriza se torna coautor e muitos brigam com a gente. O problema é que não há fiscalização nem para isso nem para condições de higiene exigidas. Daí, qualquer pessoa acha que pode montar um estúdio",explica Ronaldo Sampaio, vice-presidente do Sindicato dos Tatuadores




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