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Cheiro de gasolina ainda invade casas, diz morador

Vizinhos de posto em Diadema lidam com problema há 6 anos

Por Cadu Proieti
Do Diário do Grande ABC
07/03/2012 | 07:00
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Após quase seis anos do vazamento de gasolina no posto Carrefour localizado na Avenida Presidente Kennedy, na região central de Diadema, os moradores do entorno ainda reclamam de forte cheiro de combustível que sai dos ralos das casas. Algumas famílias se mudaram por causa de problemas de saúde ocasionados pela inalação do produto. Outras pessoas continuaram e ainda convivem rotineiramente com o problema. A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) detectou a contaminação em junho de 2006.

"Nunca melhorou. Sentimos cheiro forte todos os dias. Até estou com problemas respiratórios e farei exames para ver se é por causa do ar que respiramos aqui", relatou a dona de casa Carmina Basílio Santos, 68 anos.

De todos os processos que foram abertos contra o hipermercado, nenhum foi concluído. Os moradores que apresentaram problemas de sáude comprovadamente causados pela contaminação foram retirados do local por ordem judicial. Atualmente, essas famílias moram em outros bairros e recebem bolsa aluguel, auxílio para remédios e convênio médico, pagos pela empresa dona do posto.

Algumas pessoas até manifestaram desejo em sair da área, mas afirmam que os imóveis estão desvalorizados e o valor oferecido não compensa. A equipe do Diário fez pesquisa imobiliária no local e constatou que as casas estão avaliadas entre R$190 mil e R$380 mil na região. "Fui ver alguns preços e ví que minha residência está 40% abaixo do valor de mercado", afirmou o vendedor Mauricio Kawabata, 33.

A Cetesb, que fiscaliza a contaminação, comunicou que não constam informações de novos eventos de vazamento no local. De acordo com a estatal, o sistema de remediação adotado tem atuado de forma eficaz, conforme demonstrado nos relatórios de acompanhamento. Foram instalados sistemas de extração multifásica, barreira hidráulica e injeção de surfactantes (substâncias redutoras de concentração de contaminantes).

A última vistoria feita pela companhia aconteceu em junho. Foi informado ainda pela Cetesb que o trabalho é normalmente programado para realização semestral, ou na ocorrência de algum evento extraordinário, que justifique sua antecipação. Em razão das denúncias apresentadas, a estatal está programando nova inspeção ao local.

A equipe do Diário questionou o Carrefour sobre possíveis novos vazamentos, mas a direção apenas informou que já acionou a empresa parceira nesse processo para analisar a questão.

RISCO À SAÚDE

As pessoas que ainda moram no local vivem preocupadas com a saúde, principalmente das crianças. "Sempre sentimos cheiro muito forte. Fico preocupada com o meu filho, que está apresentando problemas respiratórios. Pode ser esse o motivo da doença dele", relatou a recepcionista Mari Kawabata, 26 anos.

O professor de Pneumologia da Faculdade de Medicina do ABC Elie Fiss explicou os problemas que a inalação constante do cheiro de gasolina pode provocar. "Afeta diretamente o pulmão e indiretamente os outros órgãos. Causa várias doenças respiratórias, além de dor de cabeça, inflamação no pulmão, conjuntivite e outros problemas", relatou. "É necessário tirar a pessoa do local para acabar com os problemas respiratórios", completou.

Postos são 81% de áreas contaminadas

O caso da contaminação de solo após o vazamento do posto Carrefour é só mais um entre tantos do Grande ABC. Segundo a última lista de áreas contaminadas da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), de novembro de 2010, dos 275 espaços contaminados na região, 206 são em locais onde funcionam postos de combustível, representando 81,4% do total.

"Isso está crescendo cada vez mais. E não é porque tem aumentado que existe mais contaminações. São problemas antigos, que só estão sendo identificados agora", explicou Murilo Andrade Valle, hidrogeólogo e coordenador do curso de Engenharia Ambiental da Fundação Santo André. "O trabalho de fiscalização melhorou nos últimos anos. Se tivesse ainda mais fiscais, o número seria maior. Além de tudo, contaram com maior número de denúncias, que facilita a vida dos fiscais."




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