Idealizado pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), para homenagear o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Museu do Trabalho e do Trabalhador possui sinais visíveis de deterioração e descaso com dinheiro público. A estrutura, que fica localizada na região central da cidade (no antigo Mercado Municipal, próximo ao Paço), expõe problemas que vão desde infiltração e pichação nas paredes até degradação de materiais, como vergalhões e canos abandonados no chão. Há também entulho e madeiras espalhadas em meio ao mato alto da área. O Diário teve acesso a fotos do interior do que era para ser o Museu do Trabalhador e hoje é o retrato do abandono.

A obra já consumiu R$ 10,3 milhões em verbas públicas dos R$ 18,8 milhões que totalizam o orçamento. Há um ano e meio, porém, não há qualquer intervenção realizada. A conclusão dos serviços era para janeiro de 2013. A empreiteira responsável é a Construções e Incorporações CEI.

A equipe do Diário esteve no domingo e ontem no local e constatou descaso com a segurança. O vigia, cuja cabine fica situada na porta de entrada da Rua dos Vianas, estava vazia. Comerciantes locais confirmaram que há pelo menos 15 dias ninguém mais apareceu para cuidar do canteiro, exposto a invasões. Foram confirmados relatos de usuários de drogas dentro do complexo, que hoje é ocupado por dois cachorros. Moradores e trabalhadores do bairro passaram a alimentar os animais.

Gerente da loja Viana Doces, a poucos metros da obra, Mônica Maria da Silva, 33 anos, confirmou que vê com “tristeza” o abandono da obra, além de preocupação com a higiene. “É lamentável ver prédio desse tamanho parado, inacabado. Junto com isso, estamos verificando a presença de ratos e mais insetos”, contou. Gerente do posto de gasolina ao lado do canteiro, Willian Oliveira, 25 anos, disse que espera definição. “Há muito tempo ninguém aparece por aqui.”

HISTÓRICO
Afilhado político de Lula, Marinho anunciou o empreendimento em 2011, projetando erguer empreendimento que enaltecesse período de lutas sindicais das décadas de 1970 e 1980, quando Lula emergiu no cenário nacional, liderando grandes greves em São Bernardo e na região.

Inicialmente, a obra foi orçada em R$ 18 milhões. Marinho conseguiu incluir aditamento de R$ 800 mil ao financiamento. O processo de licitação foi vencido pela empreiteira Construções e Incorporações CEI. Seria entregue em janeiro de 2013, com nove meses de obra, prevista para começar em abril de 2012.

Os primeiros indícios de problemas com a obra foram identificados em julho do ano passado, quando operadores da CEI não foram mais vistos no local. As placas indicativas foram apagadas, impossibilitando leitura sobre o andamento do projeto e valor investido.

Em meio ao impasse, Marinho solicitou em abril mais R$ 4,5 milhões ao governo federal para concluir o museu. A liberação não foi confirmada pelo governo Dilma Rousseff (PT), que não vê necessidade de aporte adicional ao projeto. O Portal da Transparência do governo federal indica que o último repasse foi confirmado em fevereiro de 2015.

Procurado, o governo Marinho não se pronunciou sobre o assunto.