Desvendando a economia Titulo Coluna
A cotação do dólar em nosso dia a dia
Por Sandro Renato Maskio
28/02/2022 | 00:01
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Todos os dias acompanhamos notícias sobre a cotação do dólar. A cotação sobe; a cotação desce. Mas, afinal, será que isso muda algo nos nossos bolsos? Será que essa moeda tem impacto no cotidiano? Afinal, aqui no Brasil usamos o real e não o dólar? A resposta é que sim. O preço da moeda estrangeira impacta diretamente no nosso cotidiano. O preço do pãozinho do café da manhã, por exemplo, é influenciado pela variação do dólar em relação ao real. 

Primeiro, é importante entender o porquê de sempre falarmos do dólar, sendo que existem várias moedas no mundo. O dólar é tido como referência nas transações internacionais desde o fim da Segunda Guerra Mundial. No médio e longo prazos, o dólar, emitido pelos Estados Unidos, é avaliado como a moeda mais segura do mundo, lastreada no risco país dos Estados Unidos, a maior economia do planeta. Isso faz com que seja a moeda de maior conversibilidade nas transações internacionais. 

Vamos entender então como a flutuação do preço do dólar pode afetar nosso dia a dia. Quando há um aumento no dólar perante o real, ou seja, uma apreciação da relação R$:US$, para comprar US$ 1 temos que dispor de mais reais. Com isso, todos os produtos importados pelo Brasil ficam mais caros, sejam insumos de produção, serviços ou bens de consumo. Por exemplo, o Brasil importa significativa parcela do trigo e da gasolina que consome internamente. Logo, a valorização do dólar perante o R$ faz com que os preços do pão francês, das farinhas e do combustível fiquem mais caros, tendo em vista a necessidade de importar insumos que são utilizados na fase de produção destes. O mesmo efeito ocorre na comercialização de bens de consumo importados, como celulares, outros produtos de informática e eletroeletrônicos. 

Com isso, com o dólar mais valorizado, haverá impacto sobre a elevação de preços de uma cadeia de produtos na economia brasileira, que nas últimas décadas ampliou sua dependência em relação às importações. 

Moeda referência

O inverso também é verdadeiro. Quando a cotação do dólar está mais baixa, esses mesmos insumos, serviços e bens de consumo se tornam mais baratos em R$. Você, leitor, pode estar se perguntando: mas por que todos os insumos ou produtos são comprados em dólar, sendo que fazemos as importações de diversos países e não apenas dos Estados Unidos? Isso ocorre porque desde meados do século XX o dólar se tornou moeda de referência das transações internacionais. Isso explica a grande maioria dos contratos de compra e venda de transações internacionais serem negociados em dólar. 

Nas últimas décadas temos assistido à ascensão da conversibilidade de outras moedas, ampliando sua utilização como referência, a exemplo do euro. Na Ásia, nas operações entre países locais especificamente, tem se observado crescimento das transações internacionais utilizando moedas locais. Mas seria tema para outra coluna. 

De qualquer forma, no mercado financeiro internacional, a avaliação do poder de compra entre as moedas sempre toma como referência inicial a relação de cada moeda com o dólar americano. 

E, afinal, quais são os motivos que tornam o dólar mais caro ou mais barato? Bom, o preço do dólar se forma como o preço de qualquer outro produto, a famosa oferta e demanda. Se tivermos maior oferta de dólar, seu preço tende a desvalorizar. Do outro lado, quando há demanda maior que a oferta, sua cotação tende a se elevar. 

Todas as operações que promovem a entrada de dólares na economia, como exportação, venda de serviços ao Exterior, entrada de capital via investimento direto ou aplicação financeira, tendem a ampliar a oferta de dólares na economia local. Em contrapartida, as operações brasileiras de importação, contratação de serviços no Exterior, realização de investimento direto ou aplicação financeira lá fora ampliam a demanda por dólares. A combinação entre a forma destes movimentos fornecerá a dinâmica do mercado cambial. 

Na primeira metade da semana passada, com a elevação da taxa Selic, algumas opções de compra de títulos a preços atrativos no mercado de capitais brasileiro, entre outros, influenciaram significativa entrada de dólares na economia nacional, fazendo a cotação do dólar diminuir para próximo de R$ 5. Contudo, o conflito na Ucrânia elevou a sensação de risco a partir da quinta-feira passada, promovendo uma busca por ativos de menor risco, e consequentemente a saída de capitais dos países em desenvolvimento. Isso determinou a elevação da cotação do dólar (ao menos até o fim da redação deste texto). 

O dólar, apesar de não ser nossa moeda oficial, tem impactos diretos no nosso dia a dia e as mudanças no cenário econômico podem provocar alteração em sua cotação, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. 




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