A administração republicana anunciou na semana passada um déficit orçamentário de 159 bilhões de dólares durante o exercício fiscal 2002 (que terminou no fim de setembro passado). Em 2001, houve, ao contrário, um excedente de 127 bilhões de dólares. Este é o primeiro ‘rombo’ no orçamento federal desde 1997.

Não se trata de um incidente isolado, e sim de uma mudança total - e durável - do panorama orçamentário, devido a múltiplos fatores, como os atentados de 11 de setembro, a desaceleração da economia e a redução de impostos.

No início do ano passado, o governo Bush tinha previsto um excedente orçamentário de 231 bilhões de dólares em 2002 e um excedente considerável nos próximos 10 anos, que iria permitir, pouco a pouco, acabar com a dívida pública.

A administração pública calcula agora que haverá déficit até 2004 (109 bilhões de dólares em 2003 e 48 bilhões no ano seguinte), enquanto o Congresso prognostica déficit até pelo menos 2005. Os analistas são, inclusive, mais pessimistas, e consideram no geral pouco provável que nesta década ocorra uma volta ao excedente nas finanças públicas.

A deterioração orçamentária se explica primeiro pela má conjuntura econômica. Menor crescimento significa menor renda fiscal para o Estado. Enquanto Bill Clinton se beneficiou de um formidável crescimento durante os anos 90, seu sucessor sofreu uma recessão em 2001 e enfrenta agora uma recuperação econômica bastante leve.

A isso se acrescentam as conseqüências dos atentados de 11 de setembro e a "guerra contra o terrorismo". Os gastos do Estado se evaporaram com uma forte alta do orçamento militar e os gastos de segurança interna, sem mencionar as medidas para estimular a economia e a ajuda a diversos setores, como as companhias aéreas.

Para os democratas, esses fatores não explicam tudo. Segundo eles, a administração Bush é a principal responsável pelo déficit, ao ter lançado, em 2001, um programa de redução de impostos de 1,35 trilhão de dólares em 11 anos. Os republicanos negam esse argumento. Eles acreditam que a redução de impostos favoreceu o orçamento federal, ao permitir sair mais rapidamente da recessão graças ao relançamento dos gastos de consumo, explicam eles.

Seja como for, o aumento do déficit dá aos democratas um argumento a mais em suas críticas à política econômica de Bush.