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Canhema festeja a sua nova realidade
Por Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
19/03/2012 | 07:00
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As mudanças ocorridas na última década, por iniciativa da Prefeitura de Diadema e da própria comunidade, transformaram o Jardim Canhema em forte polo comercial de bairro. Se antes os moradores tinham de ir ao Centro até para cortar cabelo, agora dispõem de agências bancárias e supermercados, além de serviços básicos e enorme gama de estabelecimentos populares. Também a criminalidade está em curva descendente.

"Se fosse um cara medroso, já tinha me mudado daqui faz tempo", diz José Aparecido Freitas, 65 anos, 39 deles conhecido como Zé do Bar por conta do estabelecimento comercial. Assaltado 26 vezes e com marcas de bala nas paredes, comemora a queda dos índices de criminalidade. "Quantas vezes tive de fechar o bar correndo à tarde por conta dos tiroteios", relembra.

A última vez que fora vítima de crime foi há dois anos. Hoje a situação é outra. Nas ruas, ciranças brincam e vizinhos se cumprimentam como se fossem parentes. "Vim de Minas para cá nos anos 1970 e sou sozinho. Os amigos do bairro são minha família agora", enaltece o polidor Joel Custódio Lopes, 61 anos, há 26 deles no bairro.

Família essa que se ajuda. A maioria dos moradores é da chamada classe C. Por isso, o fim do mês é sinal de falta de dinheiro até para poder pegar uma das três linhas municipais de ônibus (outras duas intermunicipais) que servem o bairro. "Não tem problema", aponta Lopes. "Aqui todo mundo é tão bem recebido que a gente ganha até carona dos motoristas. Falamos que a grana está curta e eles já abrem a porta de trás", completa.

A transformação é visível. Nos últimos dez anos, de um local considerado problemático pelo poder público, ações da Prefeitura e de associações de moradores transformaram o Canhema em centro comercial regional de impulsão. O grande número de comércios populares atraiu investimentos. Hoje, os moradores não precisam mais andar grandes distâncias para fazer coisas básicas do cotidiano. Quatro agências bancárias e dois supermercados de uma rede mostram que o local se tornou atrativo para investimentos. "Antes, tinha que ir no Centro até para cortar cabelo", comenta Zé do Bar.

Das ruas de terras no começo de seu loteamento, passando pela ocupação irregular, o Canhema da chegada dos moradores mais tradicionais só contava com luz elétrica. Água, só de poço. Problemas ainda existem, dizem. Como a falta de vagas nas escolas municipais e estaduais e creches. Mesmo assim, reclamações por lá são raras. "É só ter paciência que ninguém fica sem estudar. Temos só é que agradecer a tudo que recebemos nesses anos todos", diz o aposentado Moacir Souza, 68 anos, há 40 no local.

 

Diversão local é limitada pela atuação da Lei Seca da cidade

Apesar de contar com o Parque da Saned (Companhia de Saneamento de Diadema), a grande diversão dos habitantes do Jardim Canhema ainda é o bom e velho happy hour regado a cerveja nos vários bares do bairro. Segundo os próprios habitantes, o hábito é tão usual que lá foi o bairro onde a Prefeitura mais precisou intensificar a fiscalização da Lei Seca, que proíbe a abertura do comércio após as 23h.

"Até que é positivo, pois o pessoal vai mais cedo para casa ver a família. Melhorou muito a situação", diz Zé do Bar. Para ele, apesar da boêmia, o Canhema também pode ser marcado por outras características positivas, como o interesse da juventude pelos estudos. Algumas mães concordam.

"Depois que o Senai (Serviço Nacional de Aprendizado Industrial) veio para cá, virou ótimo lugar para se criar os filhos", destaca a doméstica Patrícia Silva, 37 anos, há 15 no bairro. "Antes, as adolescentes se preocupavam em casar. Agora pensam em ter uma carreira, um futuro melhor."

Para alguns, ainda é pouco. "Somos periferia e precisamos de mais para chamar a juventude", diz o estudante Clayton Assis, 21.

 

Espaço urbano jovem com raízes no século 18

Por Ademir Medici

Dentro do atual desenho urbano de Diadema, o bairro Canhema, sucessor do Sítio Canhema (século 18), registra quatro loteamentos com o nome Canhema. Identificamos dois deles, o Jardim Canhema (1952, aprovado em 1953), e o Sítio Canhema, do mesmo período, atravessado por estrada pública, a atual Rua Altino Arantes, de ligação com a Avenida Antonio Piranga.

Outros loteamentos integram o bairro Canhema. Foram abertos entre os anos 1950 e 1970. Há uma gleba destinada à instalação de micro-indústrias. E espaços livres ocupados por favelas. Estas foram urbanizadas e transformadas em novos espaços urbanos, com todos os melhoramentos.

Historicamente, a expressão Canhema insere-se entre as mais antigas do bairro rural de Piraporinha. Existem seus derivativos, como Icanhema e Canema. O historiador Wanderley dos Santos cita Icanhema, expressão que surge no século 18, ao lado de outros espaços rurais, hoje urbanos, como os bairros Curral Pequeno e Taboão.

Há uma planta de 1927 da divisão do Sítio Canema (sem o H de Canhema) em cinco quinhões, então pertencente à família Renberger. Hoje o Córrego Canhema possui função intermunicipal, ao separar Diadema de São Bernardo: de um lado, o bairro Canhema; de outro, Cidade Gertrudes, no bairro Paulicéia.

DIVISA - Quando é aberto o Jardim Canhema, ele passa a fazer divisa com as vilas Iran e Jacira, de acordo com ato oficial publicado no Diário da Justiça (edição de 7-11-1953). Urbanisticamente, são as vilas mais antigas do pedaço, ao lado de Vila Alice (1951). Nascem, em seguida, loteamentos como o Jardim Santa Rita (1955), Vila Claudia (1958), Vila Ester (1963) e Vila Oriental (1966).

A população, predominantemente migrante e operária, se organiza em associações, clubes e igrejas. A Igreja Católica do Jardim Canhema foi inaugurada em 18-6-1981. Ela substitui a antiga capela de madeira. O espaço abrigou creche e escola para educação de adultos.

Dom Cláudio Hummes, bispo diocesano, participou da inauguração da capela. Em sua homilia, elogiou a comunidade: "Vocês mostraram como é possível o povo se unir para fazer algo de importante, mesmo que a situação seja de pobreza. Um mundo onde todos podem se sentar numa mesa sem serem humilhados, sendo considerados iguais".




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