Depois de registrar forte crescimento em julho, as indústrias brasileiras tiveram queda no faturamento em agosto, de acordo com pesquisa da CNI (Confederação Nacional da Indústria) divulgada ontem.

A retração nas vendas, embora pequena (de 0,3%), contrasta com aumento nos índices de emprego e de horas trabalhadas nas fabricantes no mês, apontado pelo mesmo levantamento.

Para alguns analistas, se a tendência de queda persistir, pode refletir a concorrência com os produtos importados, que vêm ganhando espaço no mercado interno.

O economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) Rogério de Souza, assinala que é preciso ficar atento para ver como reagirá, nos próximos meses, esse indicador dos resultados das empresas. "Sabemos, pelos números da balança comercial, que a importação está crescendo muito e isso pode impactar na produção", cita.

Essa também é uma preocupação do diretor titular da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, Mauro Miaguti. "Muitas empresas da região estão tendo problemas por causa dos importados, em um processo de desindustrialização", afirma.

Souza, no entanto, afirma que a leve retração, por enquanto, parece refletir mais ajustes de estoques. Mesmo com a queda, as vendas da indústria tiveram o maior crescimento frente ao período pré-crise (4,1% em relação a setembro de 2008). Ele acrescenta que o aumento no emprego - pelo terceiro mês seguido - e das horas trabalhadas ainda projetam crescimento da atividade industrial.

O gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, também avalia que o faturamento menor se deve a ajustes, depois da alta de julho. "Mas a perspectiva é favorável, isso (o índice negativo) não anula a continuidade da expansão", assinala.

Castelo Branco observa ainda que o setor de máquinas e equipamentos apresentou crescimento tanto em faturamento, quanto em horas trabalhadas e massa salarial, na comparação com mesmo mês do ano anterior. "Esse setor foi bastante afetado pela crise e mostra agora recuperação forte, na casa dos dois dígitos", cita. A expansão da atividade mostra a disposição das empresas em investir para ampliar a produção.

A área automotiva também foi bem. As vendas do segmento subiram, de 17,3% em julho para 22,7% em agosto na comparação com igual mês de 2009.