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Sair de casa para estudar amadurece
Por Thaís Pacheco e Olga Defavari*
28/02/2010 | 07:05
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Acabou a onda de vestibulares, a intensa carga horária de estudos, a expectativa de ver o nome na lista de aprovados, a indecisão ao escolher o curso e a universidade. Isso tudo é motivo de alívio, principalmente para aqueles estudantes que foram aprovados nos diversos vestibulares do País. Porém, para os que optaram por uma instituição longe de casa, é hora de mudança e de grandes perspectivas.

Deixar a casa dos pais, o conforto da roupa lavada, da comidinha na mesa, o convívio diário com a família e os amigos para viver em outro ambiente com pessoas até então desconhecidas é como descobrir um novo mundo. Essas são as primeiras ideias que passam pela cabeça daqueles que estão de malas prontas para o início de mais um ano letivo, desta vez em uma cidade ou Estado distante.

É o caso do estudante Ricardo Luiz Souza, 16 anos, que deixará em breve a casa dos pais, em Santo André, para morar no Rio de Janeiro. O adolescente é hoje motivo de orgulho para a família, já que foi aprovado em primeiro lugar no curso de Hotelaria da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).

Ricardo, que sempre estudou em escolas públicas e nunca fez cursinho, relata a emoção ao ver seu nome no topo da lista de aprovados: "É sempre uma sensação boa, dá orgulho saber que todos os meus esforços na escola, todo o estresse das aulas, valeram à pena". Passada a euforia da aprovação, agora ele encara os preparativos para a viagem.

Já fez a matrícula e não dá mais para desistir: "Antes de fazer a inscrição, bem no comecinho, fiquei meio em dúvida, mas depois que me inscrevi, percebi que era isso mesmo que eu queria. Desistir nem passou mais pela cabeça."

O estudante, que nunca saiu do Estado de São Paulo, fala com a sensação de quem tem apenas 16 anos e um mundo inteiro para conquistar: "Estou meio borbulhando de ansiedade; nunca tinha saído de São Paulo antes, e logo na primeira vez que vou sair é permanente. Vou sentir muita falta da família, dos amigos, dos lugares que eu frequentava, mas a vontade de experimentar coisas novas é maior."

Situação semelhante vive Adne da Cruz Xavier, 17 anos, que logo vai encarar a viagem de Ubatuba (Litoral Norte de São Paulo), município onde mora com os pais, para o Rio de Janeiro, a fim de cursar Administração. Ela acredita que sair da cidade litorânea que sobrevive do comércio em temporadas, é necessário para se desenvolver profissionalmente: "Aqui onde moro, as pessoas não têm muitas expectativas de crescimento profissional, não têm universidade presencial e a população, na sua maioria, não tem recursos para estudar fora", diz.

Ambos os aspirantes a calouros no Rio de Janeiro não teriam condições de cursar faculdade paga, por isso se inscreveram no Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

Trata-se de um sistema informatizado, gerenciado pelo Ministério da Educação, por meio do qual as instituições públicas de educação superior participantes selecionam novos estudantes exclusivamente pela nota obtida no Enem (Exame Nacional de Ensino Médio).

Outro aspecto em comum entre os dois é que já são formados no ensino técnico na mesma área que cursarão faculdade. Assim, sentem que será mais fácil conseguir emprego.

Com a maioria dos estudantes na mesma situação, eles contam com o apoio incondicional dos pais, que vão precisar dar aquela ajudinha financeira e esperar com o coração apertado a cada retorno para casa. "Filhos: o prazer de vê-los felizes voando livres é maior que o medo de não saber o perigo da altura de seu voo", declama a mãe de Ricardo, Nilcéia Ribeiro, já com ares de quem sentirá saudades.

Conselhos de quem já viveu essa experiência
Quem já passou pela mesma ansiedade e hoje está de volta à casa dos pais, ou estabelecido em outra cidade, pode servir de exemplo àqueles que ainda se preparam para viajar.

O publicitário Danilo Almeida, 25, conta que no primeiro ano de faculdade ia e voltava de ônibus fretado da sua cidade, São Vicente, até o Grande ABC todos os dias. Ele acordava às 4h30 para ir de bicicleta até o local onde embarcava e a deixava na casa de um amigo.

A partir do terceiro ano, a rotina ficou cansativa e Almeida achou melhor dividir um apartamento. Ainda assim, voltava para casa quase todo fim de semana. Para ele uma das maiores dificuldades é morar com pessoas que não se conhecem bem: "Quando as diferenças começam a ficar mais aparentes é preciso muita conversa, senão complica. Fiquei pouco mais de um ano dividindo o apartamento sem grandes problemas, mas depois disso não aguentava mais".

Foi então que ele decidiu morar com a irmã em São Paulo. Hoje, de volta à cidade de origem, Almeida reluta um pouco em decidir viver de vez na metrópole: "A qualidade de vida que tenho na minha cidade é quase impossível de se ter em São Paulo", avalia.

A experiência é parte do processo de amadurecimento, considera Daniel Rodrigues, 24, que saiu do Guarujá a fim de estudar Comunicação no Grande ABC e morou em república: "A convivência com mais três pessoas faz você crescer como indivíduo, aprender a ouvir, ter responsabilidades, controlar o seu dinheiro."

Ele alerta, em tom de brincadeira, que a grande dificuldade para quem vai morar sem os pais é não perder a hora: "O maior problema era acordar na hora certa, mas depois de um tempo e com o amigo ajudando, tudo se acerta".

Para os estudantes que estão com o pé na estrada, Rodrigues aconselha: "Se joguem! Não tenham medo de conviver com outras pessoas e ter novas experiências, que só essa fase da vida pode nos proporcionar. E lembrem-se: qualquer coisa, a casa dos pais estará sempre esperando."

Porto seguro. Assim a casa dos pais é vista pela maioria. Contudo a retorno definitivo é outro desafio, relata Lúcia Yumiko Kakazu, 26, que saiu de Santo André para cursar Artes Cênicas na Unicamp e hoje está de volta: "Você se acostuma a ter seu espaço, viver do jeito que quer e quando retorna, volta a ser filha, mas não do mesmo jeito, porque alguma autonomia já foi conquistada."

Para ela, a experiência de quatro anos faz enxergar um mundo cheio de possibilidades. Sobre as crises de solidão e saudade, avisa aos calouros que são passageiras e que o importante é não perder o foco nos estudos e finaliza: "O mais legal é que você se conhece muito por meio dos outros", ressalta.

Dicas
Se você faz algum tratamento médico, como o uso de aparelho nos dentes, por exemplo, é bom visitar a cidade com antecedência e providenciar um novo especialista.

Geralmente nas próprias universidades existem cartazes com indicações de repúblicas ou pessoas interessadas em dividir o aluguel.

Os sites de relacionamento mantêm comunidades das universidades com dicas de moradias. É preciso ficar atento e sempre confirmar a idoneidade do local.

O valor do aluguel em república varia de R$ 400 a R$ 500 por mês. Algumas cobram à parte serviços de água, luz, telefone e internet.

As repúblicas têm regras: é preciso manter a ordem no local: bagunçou, arrume. O barulho após às 23h é controlado.

Em universidades federais existem alojamentos gratuitos. Basta consultar a documentação necessária na secretaria.

É recomendável abrir uma conta universitária na agência disponível no campus da faculdade para receber o dinheiro dos pais, sem que seja preciso viajar com o valor.

Algumas universidades oferecem bolsa-moradia para os alunos que tenham necessidade de residir fora do domicílio familiar e que apresentem renda mensal per capita de valor igual ou inferior a dois salários-mínimos do piso nacional.

*O conteúdo editorial desta página é de inteira responsabilidade da Universidade de São Caetano do Sul, com supervisão editorial dos jornalistas Eduardo Borga e Nelson Tucci, da Comunicação da USCS




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